CRÔNICAS SOBRE A GENTE - O medo de ficarmos sozinhos... Por Bettyna Gau Beni.

Quando criança eu morria de medo de ficar sozinha. Lembro bem quando a minha mãe me deixava na porta da escola e de ser consumida pelo medo de não ser ‘resgatada’. E, também, de quando ela saia de fininho e ia até a padaria, bem pertinho de casa. Eu ficava brincando no quarto e, quando me dava conta do silêncio na casa, me desesperava, mesmo sabendo que ela voltaria. E quando faltava energia elétrica e ninguém estava por perto? Ainda que eu soubesse que estava em um lugar seguro, eu não me sentia segura.

O tempo foi passando e, com a idade, veio a ‘coragem’. Foi libertador quando percebi que eu podia ficar sozinha e que não precisava ter medo do escuro. Mas sempre que ficava sozinha e ouvia o som do silêncio, me deparava com meus próprios fantasmas e aí eu fazia de tudo para sair daquele lugar, queria encontrar gente. Fui acostumada a ficar no meio de gente a maior parte do tempo, e isso era ótimo, pois eu não precisava pensar nas coisas que me causavam desconforto ou das quais eu tinha medo.

O tempo passou mais um pouco e, à medida que fui me tornando adulta, fui percebendo que eu teria que enfrentar os meus fantasmas, os meus medos, pois somente assim eu poderia me desenvolver na vida e na carreira, e somente assim eu poderia me sentir livre para atingir os meus objetivos. Afinal, somos únicos, indivisíveis e completos em nós mesmos, não somos?

Muitas vezes me pego observando e refletindo sobre as pessoas que realizam e participam de bailes funk, por exemplo, com aquele imenso aglomerado de gente, pessoas se esbarrando umas nas outras o tempo todo, fazendo de tudo para se sentirem parte, para não se sentirem sozinhas, e, suponho, para não terem que ficar no silêncio. E o que pensar sobre as pessoas que passam horas e horas em festas rave? E sobre as pessoas que não respeitam o recolhimento social neste momento de pandemia, colocando em risco a própria saúde, para não dizer a vida?

Sim, somos complexos. Sim, ficarmos sozinhos, escutando o silêncio, dói. Sim, dói termos que encarar nossos próprios fantasmas. Sim, crescer dói, amadurecer dói. Mas não é esse o único jeito de sermos efetivamente protagonistas, donos das nossas próprias vidas? O autoconhecimento não é o único jeito de reconhecermos o que gostamos ou não gostamos, o que nos faz bem ou mal, o que nos deixa felizes ou não? Como viver uma vida plena se a nossa escolha for por vivermos anestesiados, por momentos de extrema excitação, agitação, barulho, sem nenhuma quietude?

Os tempos atuais finalmente nos dão tempo (não é engraçado isso?) e a oportunidade de mudarmos nossos padrões e modelos mentais construídos durante toda uma vida. O nosso cérebro levará um tempo para se adaptar ao novo, mas, quando isso acontecer, já estaremos em outro patamar. Hoje todos os especialistas de mercado, de qualquer área, falam sobre um ‘novo normal’. Todos acreditam que o ‘normal’ que conhecíamos nunca mais será o mesmo. Por isso é fundamental começarmos a aceitar a transição, que já está aí, e nos prepararmos para a transformação, que vai acontecer de qualquer forma, quer acreditemos ou gostemos, quer não.

É preciso serenar nossas mentes e ouvir o nosso silêncio, fazer as pazes com nossos próprios fantasmas. Aceitar, reduzir os danos e ressignificar.

Que tal começar agora e fazer um inventário dos seus pontos fortes? Uma agenda positiva e produtiva pode ajudar a nossa mudança para o novo normal, mas requer planejamento e ação.

Vamos colocar a mão na massa?

Imagem – LINK

Bettyna Gau Beni é empreendedora e consultora em desenvolvimento humano e organizacional pela Evoluigi (www.evoluigi.com.br), com especializações em gestão de negócios, comportamento humano, coaching e gestão da mudança.