Era um domingo qualquer. No caso, hoje. Estava tomando banho e me surpreendi com uma visão inesperada. Sorri de orelha a orelha – ainda incrédula… Primeiro, foi um sorriso daqueles silenciosos… Típico do fator “uau” ou “não creio!”. Depois, ri um pouco mais alto. Logo após refletir sobre a cena e seu impacto sobre mim, a risada saiu ainda mais forte! A ponto do meu marido ter estranhado… Afinal, eu estava tomando banho sozinha e não estava alcoolizada. Não mesmo – já que uma certa barriga de sete meses de gestação não me permite tal façanha. Tudo em prol da prole, não é?
Enfim, voltando: o meu marido, que estava numa ligação telefônica com a minha sogra, se deslocou da sala e foi até o banheiro para me perguntar se estava tudo bem. Eu respondi que sim, claro, não estava delirando (ainda, pelo menos). Apenas indaguei se ele já tinha visto o que eu estava vendo… Simplesmente, pela primeira vez após mais de 10 anos morando nesse mesmíssimo apartamento! Ele respondeu que sim, claro. Já tinha visto aquela imagem algumas vezes. Essa mesma cena – que me despertou tamanha perplexidade e euforia. Para ele, era algo cotidiano, corriqueiro…
Eu disse: – Amor, isso vai dar um texto! E aqui estou eu, compartilhando com você porque fiquei tão impressionada e o porquê de uma simples visão me gerar algumas reflexões.
Vamos aos fatos. Gente, como pode? Até agora sigo incrédula. Você deve estar curioso… Eu estaria, se estivesse lendo esse texto pela primeira vez. Com a sutil diferença de que estou sendo a interlocutora em primeira voz. E é história verídica, acredite. Não é ficção nem entretenimento barato.
Bom, finalmente, o fato é que vi o Cristo Redentor todo iluminado (pela primeira vez em mais de uma década!) do basculante do banheiro da minha suíte. Hoje? Somente hoje! Como assim o meu marido já tinha visto inúmeras vezes antes? Justo ele que é considerado por nós dois como a parte mais distraída do casal. Justo ele que nunca encontra o pote de feijão ou de arroz na primeira prateleira da geladeira… Reparei que eu sempre olhava para o lado direito e via uns prédios baixos e poucos arranha-céus. Ele, provavelmente, por ser mais alto que eu uns 15 cm, teve mais facilidade de encontrar uma das sete maravilhas do mundo, e que fica bem à esquerda da vista do basculante.
Hoje, não sei porque cargas d’água, ao me aproximar da torneira que sai apenas água gelada (o que dá para entender pelo calor dos últimos tempos), inclinei o meu corpo para o lado esquerdo e quis olhar além… Recordo que fiquei um pouco na ponta dos pés – levemente – e olhei para fora da pequena janela quando, opa, atrás de um muro… bem em cima da montanha – voilà – estava o Cristo, todo banhado por uma luz violeta. Muito bonita, por sinal. Essa simples cena me fez pensar em quantos “cristos” posso ter deixado de enxergar por estar olhando para um único lado ou por não ter arriscado o suficiente a cabeça para “fora da janela” (considere no sentido figurado, por favor).
Em suma, esse conceito que muitos empreendedores e profissionais de sucesso lançam mão – de que precisamos enxergar por outros ângulos, ver além (das aparências, dos dados… dos muros – nesse meu caso específico). Mudar as percepções, pontos de vista e ângulos para se ter um novo insight ou simplesmente um “momento eureca” parece mesmo uma condição sine qua non!
Essa história não é sobre banhos mais longos, Cristo Redentor ou surpresas… Essa história vai além. Isto porque em alguns meses iremos nos mudar para um novo apartamento cujo varandão fica bem de frente – adivinhem para onde? Algo que sempre esteve por perto – embora de forma discreta (e até escondida – sob o meu ponto de vista) estará bem óbvio e escancarado, muito em breve. Que seja eterno enquanto dure e que me traga boas e inusitadas percepções.
De vez em quando é bom olhar para um outro lado, é bom tentar se esticar e ficar mais alto do que se é…
Bons plantios e boas colheitas, caro(a) leitor(a). É o que desejo para vocês hoje.
–
Michelle Kaplan nasceu no Rio de Janeiro e escreve poesias, contos e textos diversos desde a infância. “Do largo plano ao estreito ponto” (Ed. Oito e Meio) foi o seu primeiro livro publicado, tendo recebido críticas elogiosas em resenha escrita por José Castello, e publicada no Prosa (d’O Globo), em 2015. “Cores de Nós” é o seu segundo livro de poemas, editado e publicado pela Patuá. Em 2023, foi convidada a participar da FLIP. Está finalizando o seu terceiro livro “Tesoura, papel e cola: mudando de escola” e pretende continuar escrevendo até os últimos dias de sua vida, pois é só assim que se reconhece inteira no mundo. Formada em Jornalismo pela PUC-Rio, é pós-graduada em Business Management pela LSBF (London School of Business and Finance) e tem MBA em Gestão de Pessoas pela FGV. É professora convidada da pós-graduação do Ibmec, responsável pelos temas Employer Branding e Gestão de Crises | @poetasaindaexistem no Instagram.