CRÔNICA - Fui ali no passado e já volto. Por Neusa Medeiros.

O passado me convida, de vez em quando, para uma visita. Em outras, entra sem bater e, mesmo assim, permito a sua invasão. Ele sussurra: já passei, mas voltei para que não esqueça das lições aprendidas. Então, olho para dentro de mim e reconheço a importância de ter um passado para lembrar ou até mesmo me inspirar.

Deixar algumas coisas no passado não é fácil. De tempos em tempos, os fantasmas voltam a assombrar colocando dúvida nas escolhas, bagunçando tudo por dentro. Como não é possível fazer com que os fatos “desaconteçam”, o mais racional é buscar o entendimento, os motivos que nos fazem encarar os desafios, lembrando sempre de valorizar cada acontecimento.

É difícil estar só no presente. Lidar com a impermanência é instigante. Tudo faz parte do processo de viver. A gente tende a dar uma olhada para trás, buscando apoio, pois no agora os desafios são imensos. A saudade pode até ser de nós mesmos, daquilo que fomos ou já vivemos. Como a vida nunca se repete, nem adianta desejar um remember dos melhores momentos. Já somos outros, passamos por transformações, e repetir sempre terá um gosto diferente. Como dizia o poeta Mario Quintana, “o passado não encontra o seu lugar porque está sempre presente”.

Sei onde devo estar, afirma o passado, mesmo assim, retorno de vez em quando. Nestes dias, recomendo que você, esteja onde quiser, sem autocensura ou medo, viva simplesmente, por algum instante, onde o coração levar. Felicidade faz tão bem… mesmo que não dure para sempre. E, quando a vontade vier forte e desejar convencer a morar naquele momento, reserve um lugar especial para as boas lembranças, e sorria por já ter vivido até mais do que poderia imaginar.

Vá ao passado, aprenda com ele, e siga, repleto de sonhos, lembrando de regar cada um deles. Não se acostume com a negligência, os dias difíceis, as ausências, as indelicadezas, mas encare tudo de frente. E, como afirma o psicólogo Erick Tozzo, sobreviva, sem vacilar, e continue erguido, mesmo durante as impermanências. A vida precisa de pausas. Se permita. O passado já se foi, mas deixou ensinamentos. Ainda bem!

Neusa Medeiros é jornalista, com pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior. Sócia-diretora da empresa Edição 3 – Comunicação Empresarial, com diversificada atuação na área. Atuou, por vários anos, como assessora de imprensa e professora universitária na Unisinos, e como colunista no Jornal VS, do Grupo Editorial Sinos, onde segue como colaboradora.