O tempo sempre desafia a paciência, os limites, a credibilidade, os sonhos. A gente nunca sabe se é início ou fim. Se o tempo está só testando ou se é para valer. Se haverá mais tempo. Se é tarde demais.
Tentei enganar o tempo por diversas vezes. Já dormi para chegar logo o horário de ir para a festa. Já fiquei acordada, além da conta, para aproveitar o momento 100%. Já arrumei as malas e fui, para em seguida ter que voltar. Já deixei o tempo escolher por mim e me arrependi. Já demorei para me manifestar e foi tarde demais. Já falei no impulso e depois percebi que deveria ter me calado. Já confiei sem limites, em vão. Já recusei uma proposta sem ao menos tentar. Já aceitei e me arrependi. Já sonhei sem estar dormindo. Já despertei e quis voltar a dormir para encontrar o fio da meada.
O certo é que o tempo não volta. Ele se recusa a repetir momentos. Ele quer que a gente usufrua do hoje, seja bom ou ruim. Ele sabe muito, mas pouco se revela. É indecifrável, mas pode ser percebido nos detalhes. É intenso e surpreendente!
Às vezes parece o fim do caminho, mas é só a vida em transformação, desejando nos tirar da zona de conforto, apresentando incontáveis possibilidades. Como a vida é carregada de atrevimento, um tal de desatar nós e remendar falhas, o tempo se aproveita desta condição e consegue confundir a gente, que fica na dúvida se está vivendo ou sonhando.
Como bem lembrado no livro Alice no País das Maravilhas, de fato, não podemos voltar para o ontem porque lá éramos outra pessoa. O desafio de Alice sempre foi crescer, embarcar na aventura da sua própria vida. E quem não compactua desta máxima?
Dando tempo ao tempo, vamos observando os sinais, nos apropriando da nossa história e permitindo nos aventurar. Na realidade, o tempo quer que tudo seja vivido com intensidade, com reciprocidade. Mas, para que a magia aconteça é necessário fazer um pacto com o tempo: tens a minha vida nas mãos, mas por gentileza, seja generoso comigo!
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Neusa Medeiros é jornalista, com pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior. Sócia-diretora da empresa Edição 3 – Comunicação Empresarial, com diversificada atuação na área. Atuou, por vários anos, como assessora de imprensa e professora universitária na Unisinos, e como colunista no Jornal VS, do Grupo Editorial Sinos, onde segue como colaboradora.