COMUNICAR É PRECISO - Reconstruindo legados por uma comunicação que conecta.

Os caminhos do aprendizado são interessantes…Da imagem clássica da trilha que abre o caminho a quem está por vir, às pegadas do mestre lado a lado com as do aprendiz até a visão da encruzilhada com múltiplos caminhos e o impulso de não seguir nenhum e criar o seu.

A construção de um legado passa por uma profunda transformação. Vivemos em um cenário de hipertextos e multidisciplinas, no qual qualquer receptor é produtor de conteúdo, os fluxos de dados valem mais do que as moedas, e o pensamento é o da incerteza do socrático ‘só sei que nada sei’. O conhecimento específico perde valor frente à capacidade de destruir e reconstruir, formar e desmanchar redes de colaboração a depender do contexto e dos motivadores comuns. Já não faz mais sentido ensinar caminhos, mas sim como abri-los.

O velho de um jeito diferente

Em Lego Movie (animação de 2014), o protagonista (quase por acidente) passa por uma jornada que o tira da visão de que ao reproduzir rotinas e padrões ‘tudo é incrível’ e o apresenta a um novo mundo. Não um mundo novo, feito do zero, mas uma realidade formada por novas conexões das peças já existentes, na qual o grande lance é permanecer inconstante, mutável, adaptável, reorganizável, literalmente ‘descolado’.

A grande inovação não está em criar novas peças, mas em mudar de perspectiva e atribuir às partes antigas novos sentidos, produzir o novo a partir de novas conexões do velho. O doutor em Engenharia de Produção e professor Henrique Nou Schneider (em artigo para a International Journal of Knowledge Engineering and Management) coloca que ‘inovar não é só fazer o novo, mas também fazer o velho de um jeito diferente’. E mais, define criatividade como a capacidade de combinar, a ‘aptidão de juntar coisas na rede semântica que façam sentido’.

Não à toa trabalhos de desenvolvimento da capacidade de colaboração utilizam o brinquedo de blocos de montar como elemento didático. Ele materializa a percepção de que algo pode até não ser nada por si só, mas que pode ser qualquer coisa combinado a outros. E que esta combinação pode ser feita e desfeita quantas vezes fizer sentido.

Comunicar para encaixar

Nesta experiência, poderíamos dizer que a comunicação funciona como os encaixes que permitem conexões e desconexões que propiciam a construção, a reconstrução e o entrelaçamento de novos pontos de vista.

Em tempos da ‘modernidade líquida’, como diria Zygmunt Bauman, agimos na sociedade de rede como em uma colônia de micro-organismos vivos, sensibilizando uns aos outros, transmitindo novos impulsos, criando, rompendo, e recriando conexões em movimento constante.

A transitoriedade das relações ressignifica noções como legado e engajamento (cada vez mais circunstancial). Não se trata mais de vincar caminhos para guiar as novas gerações, mas de ensinar e aprender a aprender e a desaprender, a soltar as mãos para enlaçar os mesmos elementos em novos contextos, criar vínculos não somente pelo que se é, mas pelo que podemos ser juntos, mudar a perspectiva para o coletivo formado a partir das individualidades com seus próprios universos de sentindo para produzir novos significados.

Como uma célula catalisadora, o líder comunicador deveria funcionar como elemento aglutinador e também desconstrutor, aquele que fomenta e organiza as tramas da rede de cada instante. Que direciona sem fixar, que rege o conjunto para a harmonia de cada música, de cada momento.

Imagens: Wikicommons

Fernanda Galheigo é jornalista com foco em comunicação interna e fortalecimento da liderança. Mãe de gêmeos, é apaixonada pela comunicação como forma de cura, ferramenta de gestão e de qualidade de vida.