COMUNICANDO NO TERCEIRO SETOR - Doar para aparecer e ser curtido.

Tenho um conhecido, vários na verdade, que por vício às redes sociais ou à própria imagem faz(em) questão de sempre expor toda a sua bondade e caridade, o que inclui muita pompa e diversas selfies. Ajudou um cego a atravessar a rua? Compartilhou um ‘textão’ engajado no Facebook? Doou alimentos para um orfanato? Postou toda a entrega com um sorriso bem ‘photoshopado’ no story do Instagram. Disse à avó que a ama? Divulgou com uma legenda de três longas linhas poéticas – ou, na verdade, sem sentido, como a maioria das legendas narcisistas; e por aí vai…

Então fiquei com uma dúvida: ainda existe diferença entre solidariedade e hedonismo? E entre interesse genuíno e exibicionismo? Ao que tudo indica, parece que os velhos valores cristãos, ou até mesmo a noção moral de respeito e valorização ao próximo estão fora de moda… A doação cedeu seu espaço como área de compartilhamento para seu lugar de status, ou seja, doar torna aquela pessoa especial, quem recebe… é indiferente. O ato só transmite sentido se puder ser visto, curtido e comentado.

Nada nunca foi de graça, tudo ao nosso redor exige dinheiro, energia ou pior: tempo. Mas o preço a cada dia aumenta. Quando transformamos o nosso ser em ferramenta estratégica de geração de dinheiro – o que fazemos diariamente ao compartilhar nas redes sociais tudo o que comemos, vestimos ou sentimos – também alteramos o valor agregado às nossas ações voltadas à coletividade, por exemplo, na nossa prática de ‘solidariedade’.

Deixo um questionamento: ao doar dinheiro ou tempo, você está mais preocupado com as reais necessidades do próximo ou em ofuscar a realidade com seu brilho exagerado – e falso?

Larissa Maschio é jornalista formada pela UNESP e pós-graduada em Gestão da Comunicação Integrada pelo SENAC-SP. Desde 2012 no mercado de trabalho, já atuou nas áreas de comunicação e marketing da Fundação Abrinq, GRAACC, Sicoob Santa e dois hospitais filantrópicos; Sepaco e Stella Maris.