COMUNICANDO NO TERCEIRO SETOR - A terceirização dos deveres públicos.

As Organizações Não Governamentais estão aí, e, partindo da atual realidade brasileira, é quase certo que vieram para ficar, inexistindo uma perspetiva do fim da necessidade de sua existência. Elas atendem a muitos setores expostos, desde o meio ambiente, fauna e flora, até a proteção de minorias (nem sempre quantitativas, mas sim relacionadas ao acesso escasso a serviços públicos e qualidade de vida). Ainda bem que existem.

Esse tipo de organização, ideologicamente focado na dignidade humana ao invés de em índices financeiros, adquire valor e exerce relevância social devido a uma única razão: tapar os buracos profundos da estrada do acesso aos direitos básicos, cuja responsabilidade teoricamente – pela Constituição Federal – é do Estado.

Das falhas e incapacidades governamentais, surgem lacunas capazes de afetar a totalidade social, mas que normalmente atingem com maior impacto populações periféricas à margem do sonhado ‘bem-estar social’, cuja existência neste país está muito aquém daquela proposta pelos artigos estabelecidos por nossas diretrizes legais.

É certo que uma parcela das organizações recebe quantias provenientes do governo para apoiar suas ações, entretanto, naquelas nas quais atuei ou onde tenho conhecidos, esses valores ficam distantes, muito distantes, do real custo operacional.

No saldo final, restam às ONGs muitas responsabilidades, pouco apoio público e uma carga social considerável. Então, para alcançar seus objetivos, precisam ‘apelar’ para o amparo de outras instituições maiores e empresas, e também para doações de pessoas físicas que recolhem impostos aos cofres públicos sem ter retornos sociais significativos, a não ser para as limitadíssimas elites que sempre governaram e tiraram vantagens no Brasil, não somente no último século, mas desde a chegada das ‘ilustres’ caravelas portuguesas.

A balança entre direitos e deveres não está equilibrada e quem está pagando é justamente quem não tem como pagar. Até quando?

Larissa Maschio é jornalista formada pela UNESP e pós-graduada em Gestão da Comunicação Integrada pelo SENAC-SP. Contato: maschiolarissa@gmail.com