Mesmo com a entrada do Mercado Livre na jogada (que agora faz venda própria de livros), as livrarias de bairro e de redes respiram e crescem com bom fôlego.
Ouço bastante gente dizer que as livrarias físicas estão acabando e que o leitor só quer saber das compras online. Não é novidade para ninguém que duas das principais redes de livrarias do país saíram de cena e que o mercado editorial ficou mais dependente do grande player de vendas online, assim como o consumidor (por hábitos de compras digitais) prioriza, muitas vezes, a compra de livros online (especialmente impulsionado por descontos). Também não é surpresa que, a partir da pandemia, os canais de venda online cresceram e se consolidaram (também é igual verdade que grandes organizações como Submarino/Americanas e Magalu saíram, por motivos diferentes, do segmento).
Apesar desse cenário, não… as livrarias físicas não só não estão acabando como há cada vez mais delas surgindo, sejam as de rua, pequenas e médias, sejam segmentadas ou não. Além disso, a principal rede de lojas físicas hoje, a livraria Leitura, expande seu negócio a cada ano, enfrentando outros concorrentes que enxergam esse modelo ainda promissor. Esse movimento equilibra e estabiliza o número de lojas no país, o que é importantíssimo para o fomento do hábito de leitura no Brasil.
Livrarias de rua, por exemplo, têm incentivado encontros e experiências que ultrapassam o espaço de leitura, com apresentações musicais, rodas de conversas etc, a exemplo de São Paulo, com a Bandolim, a Livraria Caraíbas (inauguradas em 2024), ou a Na Nuvem (que está abrindo suas portas em outro endereço muito convidativo). Há também os sebos como o Sebo Pura Poesia. Isso para não falar de locais voltados para o público infantil. Lugares para vivenciar o genuíno prazer da leitura não faltam, muito menos opções de bons livros nos quais se debruçar. Em 2024, por exemplo, as livrarias de rua de São Paulo criaram a Festa do Livro das Livrarias de Rua, com descontos e muita programação cultural. Embora aqui eu esteja abordando os acontecimentos da capital paulistana, esse cenário existe em outras cidades do país com a mesma intensidade.
A tendência veio para ficar: livrarias que propiciam trocas sociais e culturais. Estamos falando de um universo poderoso não só para os leitores, mas para as editoras que podem diversificar seus formatos de eventos e de divulgação, olhando mais de perto seu público, testando conexões, descobrindo preferências. Grandes editores do mercado apontam que a valorização do autor nacional pelo leitor vem crescendo, o que torna as livrarias físicas um espaço potente para se explorar. J. A. Ruggeri, da Alta Books, destaca em entrevista para o portal PublishNews: “O brasileiro tem demonstrado maior interesse por autores locais e obras que refletem a diversidade cultural do país numa literatura representativa com diferentes narrativas, etnias e gêneros. É a redescoberta da gênese brasileira em nova antropofagia cultural”, diz.
Assim, há oportunidades para as áreas de marketing e comunicação para desenvolverem ações que diversifiquem a oferta e proporcionem experiências de proximidade que o ambiente virtual não permite. É possível criar e concretizar campanhas e eventos de baixo custo nestes locais, assim como implementar novas ideias e conceitos. Muito mais que uma venda expressiva num primeiro momento, investir nas livrarias físicas é investir em branding, é possibilitar o conhecimento de obras e o retorno financeiro em médio e longo prazos, além de diversificar canais de vendas, fortalecer e defender o mercado livreiro. Bem verdade que em lojas de rede os custos são maiores e as possibilidades de inovação menores, no entanto, é a mescla de investimento nessas duas pontas que faz a diferença.
E-books e audiobooks vêm ganhando cada vez mais espaço – e isso é maravilhoso, além de necessário – mas, eles podem e devem coexistir com as livrarias físicas (os livros em papel ainda são os que mais vendem na média geral). Canais digitais são essenciais para o mercado, no entanto, as livrarias e seus encontros são insubstituíveis.
–
Carolina Bessa é jornalista graduada pela Cásper Líbero, especialista em Marketing e Comunicação para o mercado editorial e Educação. Atuou em editoras como Gente, Grupo Editorial Pensamento e Companhia das Letras, além de agências como Inpress Porter Novelli e Ogilvy. Colabora com players do mercado de livros nas áreas de comunicação e conteúdo.