COMUNICAÇÃO NA ESTANTE - 'Ainda estou aqui'. Por Carolina Bessa.

A adaptação de livros para o audiovisual, um cross marketing que dá samba – o marketing cultural em ação – e porquê a arte faz sentido.

Ao ver “Ainda estou aqui” nos cinemas – e chorar muito ao lado da minha filha de 17 anos! – deu uma vontade louca de ler o livro no qual o longa foi baseado. Só não o comprei imediatamente, pois o complexo de cinema no Itaim, onde eu estava, não tem mais uma livraria para chamar de sua (quem trabalha no mercado editorial vai saber de qual rede estou falando). Como profissional especializada no universo literário, confesso que sempre gosto de ler os livros antes de ver os filmes, pois imaginar “as minhas personagens” tem aquele gostinho bom.

Mas, ver uma história real, urgente e importante – que merece ser retomada e debatida nos dias de hoje -, me fez pensar em outro viés do marketing editorial: o cross entre livro e audiovisual. O trabalho de comunicação que se faz com obras adaptadas e vice-versa (conteúdos de audiovisual que são adaptados para livros) é prazeroso, intenso e peculiar. É um cross que nos permite um outro olhar, tanto para quem faz o marketing editorial como para quem faz o marketing de longas, curtas, documentários e derivados. Para a editora, é uma oportunidade de se comunicar com um outro público, criar e/ou apoiar ações que acontecem em circuitos não convencionais e trabalhar outras linguagens da comunicação – além de reavivar livros de catálogo (há também adaptações que estreiam bem depois do lançamento de uma obra literária, por exemplo). Para produtoras e distribuidoras, é um momento de agregar valor cultural ao projeto (seja um blockbuster ou filme de arte).

O que se pode criar a partir desse match? Debates sobre filme/livro, eventos de première, onde ambos os produtos estejam conectados, ações de marketing de influência em conjunto, ativações e muito mais. Neste universo também tem as licenças, mas essa conversa fica para outra coluna. E aqui lembro alguns cases recentes, de diversos gêneros e nichos que fizeram sucesso das páginas para as telas e vice-versa: “É assim que acaba”, “A ordem do tempo”, “Arigó”, “Casa Gucci”, “Mensagem para você”, “Uma família feliz”, “Zona de interesse”, “A paixão segundo G.H”… E estou falando só das telonas… contando o streaming a lista é vasta também, como “Heartstopper” e “O problema dos 3 corpos” etc.

Imagino Marcelo Rubens Paiva como o menino gracioso que jogava futebol na rua e que, de uma hora para outra, viu sua vida transformada (a sua e de sua família inteira), e tenho a certeza de que ambos, livro e filme, juntos “fazem” um marketing cultural de sucesso quando alinhados e conectados ao reconhecimento das artes – quando elas, de verdade, representam o conhecimento e incentivo ao pensamento crítico. Faz sentido? Vivenciar uma adolescente de 17 anos, que adora k-pop e games, arrebatada pelo longa, me diz que sim!

Eu não deixaria de assistir e de ler “Ainda estou aqui”, se fosse você. E o meu livro? Já em minhas mãos e logo mais compartilharei a leitura com a minha filha.

Imagem: freepik_upload_67323.

Carolina Bessa é jornalista graduada pela Cásper Líbero, especialista em Marketing e Comunicação para o mercado editorial e Educação. Atuou em editoras como Gente, Grupo Editorial Pensamento e Companhia das Letras, além de agências como Inpress Porter Novelli e Ogilvy. Colabora com players do mercado de livros nas áreas de comunicação e conteúdo.