COMUNICAÇÃO EM SAÚDE - O jornalismo científico no comunicar a saúde. Por Isis Breves.

No artigo desta semana vou falar um pouco sobre o jornalismo científico e sua relação com a comunicação em saúde. A saúde está ligada a área das ciências médicas e biológicas. Comunicar saúde é atuar com o jornalismo científico e ter em sua rotina de trabalho o conhecimento de como a ciência funciona e quais suas controvérsias.

Quem nunca se deparou com um título de notícia da suposta cura para o câncer e, em tempos atuais, ao clicar no link da matéria, ler que a pesquisa está na fase de camundongos e que para chegar aos ensaios clínicos em humanos e dar resultados exitosos são outros quinhentos.

Em tempos da pandemia, a ciência da área da saúde nunca esteve tão em xeque, com as incertezas de um novo tipo de vírus causador de tantas mortes pelo mundo inteiro. Ao atuar com comunicação em saúde, devemos ter o conhecimento e estar atualizados na área do jornalismo científico, para pautar a imprensa, informar a sociedade sobre o tema, de maneira que atue na prevenção e promoção da saúde.

Há diversas maneiras de construirmos esse conhecimento. Recentemente, foi publicada a tradução para o português do Manual de Edição em Jornalismo Científico do KSJ – Knight Science Journalism at MIT – Massachusetts Institute of Technology de Cambridge. Uma leitura obrigatória e gratuita para comunicadores que, como eu, atuam com a comunicação em saúde.

A versão traduzida para a língua portuguesa contou com o trabalho de edição e adaptação de Juliane Duarte, Mariana Lenharo e Meghie Rodrigues, às quais fica aqui meu agradecimento por lapidarem essa jóia de conteúdo, pois, além de transportar as informações do inglês para o nosso idioma, as profissionais realizaram um trabalho de contextualização à realidade brasileira sempre que achavam necessário.

Em muitos capítulos, foram acrescentadas notas das tradutoras, que podem ser lidas no canto direito das páginas, para que os exemplos citados pelos autores estejam mais próximos de nossa realidade. A edição e a coordenação geral do projeto ficou sob responsabilidade do jornalista André Biernath. A designer Raquel Abe foi responsável por paginar os capítulos e deixá-los dentro do projeto editorial proposto.

Sempre é bom dar os devidos créditos de quem participou de projetos como esse, e isso faz parte da rotina de divulgar descobertas e benefícios de pesquisas da ciência. Uma premissa que devemos ter e, por isso, não poderia de deixar de dar os nomes de quem desenvolveu essa tradução tão importante para comunicadores de ciência de países de língua portuguesa.

A versão em português do Manual de Edição em Jornalismo Científico pode ser acessada gratuitamente pelo seguinte link:

https://journalismcourses.org/wp-content/uploads/2021/11/ksj-handbook-v1.6-pt.pdf

Ou, para quem prefere ler a versão original em inglês, pode-se acessar também gratuitamente pelo link:

https://ksjhandbook.org

Créditos devidamente divulgados, agora vamos a alguns pontos importantes:

É preciso analisar o impacto da revista em que o artigo científico foi publicado, e isso significa que a importância que essa publicação possui em termos de credibilidade por conta de critérios impostos pela própria ciência para validar uma pesquisa. Tecnicamente, o Fator de Impacto é um método usado para qualificar as revistas científicas com base nas citações que ela recebe. O cálculo é feito somando-se as citações dos artigos recebidas no ano do cálculo do fator de impacto e dividindo esse número pela quantidade de artigos publicados nos dois anos antecedentes a esse cálculo.

Embora os números e suas estatísticas sejam importantes para a ciência, eles não contam histórias por conta própria. No Manual, as questões dos números são muito bem explicadas e “a seleção de palavras e números que alguém escolhe destacar projetam uma perspectiva particular sobre os dados”, ou seja, é necessário o efeito de enquadramento, de explicar o contexto daqueles números e ter em mente a responsabilidade ao divulgá-los. Imagine um paciente – que sofre de uma doença rara e incurável -, que lê em uma reportagem que foi desenvolvido um medicamento com 90% de chances de cura e no final dessa conta publicada, a estatística se tratava em um grupo de animais de laboratório ou um grupo de ensaios clínicos de um ambulatório de um hospital específico que aceitou participar da pesquisa, mas que ainda precisa ser replicada em demais grupos-controle para ter a certeza de que o medicamento é eficaz.

Todo esse contexto precisa ser validado, e nós, comunicadores da saúde, temos essa missão de divulgar a informação relevante e correta para o público. Saber explicar as controvérsias e os investidores que patrocinaram uma pesquisa para avaliar conflito de interesse envolvendo o cientista, para garantir que a mensagem alcance o maior público e da forma mais eficaz possível.

Atuar com comunicação em saúde é estar envolvida diretamente com o jornalismo científico. Há instituições que possuem cursos para jornalistas que desejam atuar com a ciência. Eu tiro por mim, que tive a oportunidade de cursar a pós-graduação da Fiocruz em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde, que tem sua versão lato sensu e mestrado.

Tais cursos podem ser acessados no Portal da Fiocruz (www.fiocruz.br) e lá há muitas opções sobre o tema. O que especificamente eu cursei está neste link:

http://www.coc.fiocruz.br/index.php/pt/educacao/especializacao-em-divulgacao-e-popularizacao-da-ciencia

Não posso deixar de nos atualizar, até por que a ciência não para. Temos que estar ligados nas mudanças da ciência, na forma como comunicar a ciência e a internet em meio a pandemia veio mostrar como essa mudança afeta tudo, e no que o jornalismo científico está debatendo para acompanhar todas as mudanças.

Deixo aqui também, o link do Canal da Aberje sobre Lab de Saúde com a temática fake news que também faz parte do nosso dia-a-dia para quem pauta a saúde. Um evento desenvolvido ao vivo no início do mês de maio, com uma roda de comunicação corporativa sobre a temática. Vale a pena assistir a versão gravada do que rolou – https://www.youtube.com/watch?v=EmRr8w-99Ag

E para fechar nossa conversa sobre jornalismo científico e comunicação em saúde, deixo aqui também o link do evento Mídia e Ciência liderado pela Embrapa – encontro voltado à divulgação científica, tendo como público-alvo estudantes e profissionais da área de comunicação e pesquisadores/cientistas – https://www.youtube.com/watch?v=eps8jaEx9Xw

Pois, como eu destaquei, a ciência e a saúde andam de mãos dadas e para atuar com divulgação científica precisamos estar atentos a esses eventos, olhar manuais produzidos por instituições da área e não apenas ler o artigo publicado e dali extrair uma matéria sobre a pesquisa. Precisamos, entender todo o contexto, o que os especialistas da mídia e da ciência estão debatendo, quais as melhores maneiras de comunicar aquela pesquisa e para quem.

Estamos em constante construção seja na comunicação, seja na ciência e, em velocidades diferentes, mas buscando contribuir em sociedade.

Isis Breves é jornalista graduada pela Universidade Gama Filho. Especialista em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde pela Fiocruz e MBA em Marketing pela Universidade Castelo Branco. Atua com Comunicação em Saúde desde 2006, passando por instituições como Embrapa, Fiocruz, Rede Hospitalar da Amil e CRMV-RJ. Atualmente lidera a consultoria de comunicação Dose Única – Comunicação em Saúde. https://www.linkedin.com/in/isis-breves/