COMUNICAÇÃO EM SAÚDE - Análise das tendências globais e a relação com a comunicação em saúde. Por Isis Breves.

Em dezembro de 2021, o jornal Valor Econômico, através do seu produto Valor Econômico Setorial – Comunicação Corporativa, trouxe como destaque para a área de Comunicação Corporativa a informação sustentável. Ou seja, unir o discurso das instituições à prática de suas ações dentro e fora. A pandemia trouxe muitos desafios, principalmente com as novas formas de canais de comunicação digital. Neste contexto digital, no qual as redes sociais aceleram a cobrança da sociedade sobre boas práticas das empresas e lideranças engajadas, surge como principal item nortear as tendências para 2022 em diante: o trinômio ESG – de práticas ambientais, sociais e de governança corporativa – uma temática que já vinha sendo cobrada pela ONU, por meio da Agenda 2030, com os seus Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Meio ambiente, mudanças climáticas, diversidade, combate às desigualdades, entre outros, fazem parte da Agenda 2030 da ONU e é a pauta de ESG a diretriz para as empresas. O valor da reputação das empresas pode estar em risco com uma simples postagem nas redes sociais sobre racismo dentro de sua instituição, por exemplo, e ter a cobrança de como essa empresa lida com esse crime.

Alinhar o discurso à prática é papel dos líderes, principalmente em sua conduta, comportamento – seja dentro ou fora da empresa. Não se aceita mais que um diretor de uma organização que tenha envolvimento com violência doméstica, por exemplo, continue no cargo.

Todas essas questões, envolvem uma comunicação transversal, com transparência e valores éticos permeando por toda a organização. E não é diferente com instituições de saúde. A comunicação na área da saúde é parte da governança, principalmente no que tange à pandemia, quando comunicar saúde se tornou pauta das empresas de todas as áreas em todo o mundo.

Há necessidade de uma comunicação estruturada com conteúdo ético e acessível, de diferentes formatos devido aos canais digitais (vídeos, textos, fotos, slides, infográficos, etc.), e com a percepção se determinado assunto e discussão são adequados para cada momento.

Olhando especificamente para as tendências da área da saúde, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou, em 2019, antes da pandemia, a Pesquisa Nacional de Saúde com a relevância para os seguintes resultados: o Brasil tem 17,9 milhões de pessoas com algum tipo deficiência (visual, auditiva e mental); 64,46% dos homens com 15 anos ou mais já eram pais em 2019; analisando a relação da paternidade e pré-natal, 1 em cada 4 idosos tinha algum tipo de deficiência, representando 49,4% dos 17,9 milhões de deficientes brasileiros; a violência naquele ano atingiu 29,1 milhões de brasileiros sendo as mulheres, jovens e negros as principais vítimas e o consumo de tabaco teve uma redução, porém em contrapartida, houve um aumento no consumo de álcool sobretudo entre as mulheres; 1 em 4 adultos estavam obesos 2019.

Analisando esses resultados para traçar estratégias para a saúde coletiva, envolvendo pessoas com deficiências, paternidade e pré-natal, saúde do idoso, saúde da mulher e da primeira infância, percebe-se que são temas com relação à pauta ESG nas empresas. Percebe-se a questão: se há mais de 17 milhões de pessoas vivendo com algum tipo de deficiência no Brasil, de que forma as empresas serão acessíveis para este público? Principalmente em comunicar para eles?

A Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE tem a finalidade de avaliar o desempenho do Sistema Nacional de Saúde no que se refere ao acesso e uso dos serviços disponíveis e à continuidade dos cuidados, Bem como as condições de saúde da população, a vigilância de doenças crônicas não transmissíveis e os fatores de risco a elas associados.

Outro dado sobre tendências na área de saúde que envolvem a comunicação pode ser observado na pesquisa internacional da Deloitte “Global Healthcare Outlook 2021”, a qual aponta para a transformação digital como forma de ajudar as organizações individuais de saúde e ecossistemas de saúde pública e privada a melhorar as formas de trabalho, expandir o acesso aos serviços e proporcionar uma experiência mais eficaz entre pacientes e médicos. Quem poderia imaginar, antes da pandemia, uma consulta médica online? Receber um atestado médico em PDF pelo celular através do aplicativo WhatsApp?

A Associação Nacional de Hospitais Privados publicou no final de 2021 a obra Observatório 2021, que reúne dados inéditos e traz uma análise dos impactos da pandemia nos principais indicadores hospitalares e econômico-financeiro da saúde no Brasil.

A publicação traz dados relevantes, mas para este artigo destaco as tendências trazidas pela ANAHP que foram debatidas no Congresso Nacional de Hospitais Privados (Conahp 2021) realizado em outubro de 2021 com o tema: “Saúde 2030: desafios e perspectivas”, em uma edição 100% online, já acompanhando as mudanças e adaptações à realidade que a Covid-19 impôs.

São elas: gestão, modelos assistenciais, pessoas e inovação e tecnologia.

Gestão: a necessidade de integração e atuação articulada entre os setores público e privado; os desafios econômicos das instituições para se manterem no mercado diante de um cenário tão adverso; a necessidade de um amplo conjunto de informações para compreendermos uma pandemia, o comportamento de um vírus e como a doença se dissemina entre a população e, dessa forma, tomarmos as decisões mais assertivas relacionadas à gestão; e o impacto da responsabilidade social corporativa na comunidade, especialmente no mundo pós-pandemia.

Modelos Assistenciais: a possibilidade de se reinventar num cenário tão adverso e buscar experiências exitosas de modelos de assistência que proporcionaram a sustentabilidade das organizações, explorar uma visão mais abrangente do que vem a ser o modelo assistencial que gera valor para o paciente e para o sistema, bem como debater o papel das redes de atenção primária, a importância das análises das condições de saúde da população e os modelos de discussão de doenças crônicas.

Pessoas: os desafios da força de trabalho, a fim de pensar num modelo mais adequado, integrado, que utilize os recursos tecnológicos a seu favor e com profissionais capacitados para as mudanças que se fazem necessárias. A exaustão da força de trabalho na saúde durante a pandemia, o burnout inevitável neste cenário tão adverso e as lições aprendidas.

Inovação e Tecnologia: olhar de forma ampla o papel da inovação e da tecnologia, como inteligência artificial e machine learning, na geração de informações para embasar decisões e na gestão mais adequada do sistema de saúde; avaliar o fenômeno de aceleração de inovações e tecnologias na saúde durante a pandemia; evidenciar as dificuldades da transformação digital; e buscar referências nacionais e internacionais sobre como essa transformação pode impulsionar o setor.

Veja, olhando para as tendências publicadas pela ANAHP, como é bem semelhante com ESG, as boas práticas que envolvem principalmente a governança, e alinhada com o nortear da Agenda 2030 da ONU.

Nesse universo, comunicar sobre saúde impõe um olhar para todos esses desafios, cenários e alinhar o discurso à prática. É entender que a comunicação em saúde é pautada por relatórios da área, com olhar humanizado de que números são pessoas. Para isso, as instituições de saúde devem ter a consciência de que a área de comunicação na saúde é estratégica, é alinhada ao discurso da organização e as tendências globais que impactam na área. O planejamento estratégico de comunicação, bem como o plano tático, devem seguir a uma Política de Comunicação que agregue valor principalmente na construção da reputação da organização – que é discurso e prática.

Saiba mais: os dados utilizados nesse artigo estão disponíveis no portal de suas organizações; IBGE, ANAHP, Deloitte, Valor Econômico e ONU.

Os Objetivos Sustentáveis da Agenda 2030 são 17:

1. Erradicação da pobreza
2. Fome zero e agricultura sustentável
3. Saúde e bem-estar
4. Educação de qualidade
5. Igualdade de gênero
6. Água potável e saneamento
7. Energia limpa e acessível
8. Trabalho decente e crescimento econômico
9. Indústria, inovação e Infraestrutura
10. Redução das desigualdades
11. Cidades e comunidades sustentáveis
12. Consumo e produção responsáveis
13. Ação contra a mudança global do clima
14. Vida na água
15. Vida terrestre
16. Paz, justiça e instituições eficazes
17. Parcerias e meios de implementação

Isis Breves é jornalista graduada pela Universidade Gama Filho. Especialista em Divulgação da Ciência, Tecnologia e Saúde pela Fiocruz e MBA em Marketing pela Universidade Castelo Branco. Atua com Comunicação em Saúde desde 2006, passando por instituições como Embrapa, Fiocruz, Rede Hospitalar da Amil e CRMV-RJ. Atualmente lidera a consultoria de comunicação Dose Única – Comunicação em Saúde. https://www.linkedin.com/in/isis-breves/