COMPLIANCE HUMANIZADO - Desenvolvendo 'soft skills' nas férias. Por Marcela Argollo.

Desde que comecei a me interessar pelos temas Governança Corporativa e Compliance Humanizado, foquei minhas leituras e estudos para pessoas, ou melhor, em como eu poderia me melhorar e me desenvolver como ser humano e, consequentemente, como líder.

Meus estudos começaram com a Ética e passei a me dedicar ao lado espiritual com mais afinco. Com isso, meus interesses acabaram mudando e minhas prioridades começaram a ser simplicidade, a natureza e o silêncio. Sempre tive uma vontade de viajar sozinha, mas nunca aquela coragem; sempre batia um frio na barriga e pensamento de como eu iria me sentir na solitude. Sabia que no momento em que eu decidisse fazer essa viagem teria um salto quântico no meu desenvolvimento como ser humano, teria a concretização de que eu amo minha companhia.

Meu aprendizado começou com a confiança em outro ser humano. Conversando com uma amiga de infância, ela me indicou um ótimo guia ao qual ela conheceu na mesma viagem que eu estava programando fazer. Como acredito que pessoas boas se conectam, gostei do Daniel desde o planejamento da viagem. Nos programamos com quatro meses de antecedência e estava tudo certo para eu embarcar na aventura entre Natal e Réveillon (período de recesso da faculdade na qual dou aulas). Faltando um dia para embarcar, houve uma chuva que devastou toda a região de destino, fazendo com que meus planos fossem por água abaixo e eu tivesse que lidar com essa frustração (afinal foram meses de expectativas). Tive que trabalhar fortemente meu coeficiente de adaptabilidade pois tinha que reorganizar todas as férias e recesso de final de ano.

Lidar com a incerteza nunca foi o meu forte (afinal de contas trabalhei muitos anos em controladoria e planejamento estratégico), mas desenvolvi esse skill quando entreguei nas mãos de uma força maior a condução e o percurso do rio da vida. Sem saber ao certo quando e se iria embarcar nessa aventura em 2022, toquei meus compromissos com o foco no agora. E eis que surgiu uma brecha de quatro dias e uma luz caiu sob minha cabeça e em 5 minutos já tinha reorganizado toda a viagem e adaptado 7 dias em quatro, em conjunto e parceria com o Daniel.

Comecei o meu primeiro desafio, a organização da mochila, afinal, dois dias antes, Bruno, um amigo meu me alertou que minha bagagem tinha que ser de no máximo 4 kg devido ao meu peso. E lá vou eu desenvolvendo o desapego e trabalhando o consumo consciente. Mala feita com apenas o necessário!

Embarco em um ônibus com oito horas de viagem e no total silêncio. Sei que é o momento no qual vou começar a pensar e refletir na caminhada + silêncio e, o mais importante, o que eu vou deixar nessa viagem para que a minha mochila da vida volte mais leve, trabalhando assim a meditação e o mindfullness para deixar a mente livre para que novos pensamentos surjam.

Teoricamente, o primeiro dia da jornada seria o mais exaustivo pois estaria caminhando com a mochila pela primeira vez e sem dormir direito na viagem de ônibus da madrugada anterior. Incrível como nos surpreendemos com nós mesmos e com a capacidade que temos de nos superar a cada dia; foi uma jornada de caminhada relativamente tranquila. Ao longo da viagem percebi o quão acelerada estava vivendo e o quanto estava perdendo os pequenos detalhes da vida.

Segundo dia – me superei e me desafiei, subi uma montanha de 1.800 metros. Não foi fácil, respirei fundo, acalmei meu coração, deixei o medo de lado e encarei aquele desafio, mas sempre respeitando meus limites e – mais importante -, respeitando a natureza e a montanha! Percebi que precisamos respeitar os nossos limites, respeitar os outros e trabalhar de forma muito colaborativa e com uma comunicação efetiva e com escuta ativa. Somente dessa forma conseguiria caminhar cinco dias sozinha com um guia que havia conhecido meses antes por telefone. Mas o grande segredo da viagem ter dado certo foi que ambos tínhamos mesmos valores e princípios e tínhamos o mesmo propósito (realizar a caminhada da maneira mais prudente possível, experimentando cada minuto).

Terceiro dia, tudo programado e planejado, e tivemos que abortar a programação no meio do caminho. Tive que fazer uma escolha muito rápida, com base nos meus valores. Começou a chover muito forte e eu iria visitar uma cachoeira com 20 km de distância. A caminhada não seria fácil, ainda mais com chuva. Aceitei aquela condição, lidei com minha frustração e resolvi aceitar que não conseguiria fazer o planejado afinal havia uma condição que não estava sob meu controle: o tempo.

Quarto dia, tivemos que programá-lo de última hora, mas como dizem, o melhor sempre fica por último e com isso fui completamente surpreendida por ter mudado meu roteiro e conseguido visitar um canyon com cachoeira. Momento o qual nunca irei esquecer, me desafiei mais uma vez! Fui nadando em uma correnteza super forte (quem me conhece sabe o quanto tenho medo de água).

Saí com certeza uma outra pessoa dessa viagem! Mais leve, mais evoluída e com certeza mais humana!

Creio que o grande propósito nosso na Terra é nos desenvolvermos como seres humanos a cada dia e, com isso, conseguimos desenvolver outras pessoas.

“A beleza da vida está no caminho e não na chegada, portanto aproveite cada minuto da sua jornada”.

Marcela Argollo é formada em Administração de Empresas e Ciências Contábeis com MBA em Finanças e Compliance. Professora EAD da Fundação Getulio Vargas (FGV) para as disciplinas de Compliance, Controladoria, Planejamento e Liderança Estratégica. Coordenadora EAD da Brain Business School.