COMPLIANCE HUMANIZADO - 'Burnout' é um estado não 'compliance'. Por Marcela Argollo.

Uma das consequências do mundo globalizado e competitivo em que estamos vivendo hoje é a síndrome de burnout (distúrbio causado pelo esgotamento físico e mental dos profissionais), resultando assim em stress, comunicação violenta, menor empatia, dentre outros. Sintomas estes opostos dos skills que necessitamos para conseguirmos viver bem nessa Era Complexa e mundo BANI(*).

A busca incessante das empresas por lucro e resultados financeiros positivos gera uma cobrança muito alta a seus colaboradores – que precisam bater metas irreais de entrega. Parece que nunca se está bom o suficiente! Quando o colaborador fecha um deal de R$ 1MM, não fez mais que a obrigação, e no mês seguinte precisa fechar um de R$ 2MM caso queira permanecer no seu cargo.

Isso gera, portanto, um extremo stress e ambiente predatório. Dois ingredientes que juntos não conseguem transformar nada em inovação. As empresas precisam mudar o mindset de busca do lucro para realização de um propósito maior. O fomento desse ambiente predatório leva os colaboradores a vestirem máscara e armadura para caberem naquele ambiente, afinal – na mente – estão indo para uma “batalha” diária. Esse fato se agrava com o mundo multicultural no qual, no acolhimento à diversidade, tudo vale, fazendo com que a conduta ética seja questionada. Porém, só conseguimos ser éticos quando deixamos nossa essência e verdade aflorarem.

Para que uma empresa tenha uma governança corporativa forte ela precisa ser transparente e posicionada e, para que isso ocorra, essa empresa precisa viver sua verdade e seu propósito. Para viver isso, precisa de líderes com princípios e valores iguais aos dela atuando ativamente e diariamente no engajamento dos colaboradores. Tudo está interligado e tem início nos valores e princípios éticos. Quando entendemos que princípios são itens não negociáveis conseguimos ter segurança e confiança nas pessoas, afinal os princípios e valores dos líderes e colaboradores estão alinhados com os da empresa.

O que realmente ocorre são pessoas cansadas e estressadas, vestindo armaduras para lutar diariamente e sobreviver a um ambiente predatório, não conseguindo assim viver com a guarda baixa, em sua verdade e essência, levando então a um esgotamento físico e mental (burnout) afinal de contas, ninguém consegue sustentar um personagem por muito tempo! Essa necessidade contínua de se obter mais e mais lucros levam pessoas a viverem no piloto automático deixando de usar sua intuição e percepção sobre as ações, não permitindo ter senso crítico e empatia para avaliar a ética nas situações do cotidiano.

A solução para a melhoria da saúde mental dos colaboradores seria, então, um maior foco na governança corporativa disseminando os princípios éticos que regem a empresa e fomentando em seus colaboradores o pertencer e não mais o caber.

(*) Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible (Frágil, Ansioso, Não-linear, Incompreensível).

Marcela Argollo é formada em Administração de Empresas e Ciências Contábeis com MBA em Finanças e Compliance. Professora EAD da Fundação Getulio Vargas (FGV) para as disciplinas de Compliance, Controladoria, Planejamento e Liderança Estratégica. Coordenadora EAD da Brain Business School.