COLOCA NA RODA - Seu conteúdo toca? Esqueça tudo o que falaram sobre planejamento (calma, que explicamos).

Reflexões sobre relevância e mudanças na comunicação on-line em 2020.

Esqueça tudo o que te contaram sobre planejamento de conteúdo, datas comemorativas e calendário editorial. Essa pode ser uma lição para 2020.

“Como assim? São especialistas que trazem esses conceitos, sem planejamento não há estratégia”. Se você está pensando isso, calma que vou explicar o porquê da primeira frase ao longo da coluna. De fato, um planejamento é a base para qualquer iniciativa de comunicação que tenha um propósito. Mas, mais do que nunca, você deve sair da caixinha e perceber que não existe impacto sem considerar o interlocutor, ou melhor, as pessoas que motivam sua produção de conteúdo.

Pandemia, teletrabalho, fechamento de lojas físicas, teleconsultas, comunicação on-line em excesso, informação para todos os lados – e, consequentemente, desinformação também. Quantas transformações na forma de relacionar-se e conversar com outras pessoas cabem em nove meses? 2020 foi o ápice da comunicação on-line e também do desgaste por excesso de informação.

Seja na cobertura jornalística sobre a Covid-19, nos conteúdos em massa das redes sociais, nos telejornais, nos grupos de WhatsApp e Telegram ou nas inúmeras lives e no fenômeno do streaming.

Segundo um estudo publicado na plataforma Think With Google em 2020 – https://bit.ly/youtubecomoplataformadeconexão – o Youtube tornou-se uma das maiores redes de conexão durante o isolamento social. A pesquisa revela que 105 milhões de pessoas estão conectadas ao YouTube para trocar conhecimentos e experiências. Mais uma curiosidade: para grande parte dos brasileiros na faixa etária de 18 a 64 anos afirma que não dá para viver sem a plataforma.

Uau! O que faz com que uma pessoa não viva sem uma rede social? Certamente, o conteúdo reproduzido nesse ambiente tem relevância e o poder de tocar.

Afinal, o que é a comunicação que toca? A filósofa alemã Hannah Arendt traz uma reflexão interessante ao falar sobre o poder de diálogo (a meu ver, isso só existe por causa da comunicação que toca e gera alguma ação).

Nas palavras de Hannah: “Pois o mundo não é humano por ter sido feito pelos homens e tampouco se torna humano porque a voz humana nele ressoa, mas somente quando se torna objeto de diálogo”.

Desde o início do isolamento social, o mercado de conteúdo on-line cresceu de forma frenética, tanto nas iniciativas de conteúdo informativo quanto em ações de marketing digital. No jornalismo, podemos citar alguns (bons) exemplos de projetos que levam a sério a missão conteúdo que toca. São eles:

Think Olga: referência no âmbito das OSCs que atuam a favor das mulheres e da equidade de gênero, a Think Olga lançou, durante a pandemia, o Lab Think Olga (lab.thinkolga.com),um laboratório de exercícios do futuro com conteúdos de utilidade pública para o futuro das mulheres em contexto de uma crise sanitária. Assista o manifesto em https://www.youtube.com/watch?v=lDlNPqP69ME&feature=emb_logo

Juntos pelo Alemão: a pandemia do coronavírus escancarou as desigualdades e, neste contexto, alguns coletivos localizados em periferias como o Juntos pelo Alemão, no RJ, criaram iniciativas com foco em comunicação que mobilizam ações. Veja o exemplo da carta aberta do coletivo – https://bit.ly/cartabertajuntospelocomplexonacovid-19

Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz): com o lema “informação para a ação”, a entidade montou um portal de conteúdos e boletins com informação relevante para a população neste momento, de forma acessível. Veja neste link – https://portal.fiocruz.br/observatorio-covid-19

Além dessas iniciativas, você conhece uma marca, organização, jornal, veículo de mídia ou coletivo que leva a sério o lema conteúdo que toca?

Em tempos de tantas adaptações e mudanças de planejamento das ações de comunicação e conteúdo, todos os comunicadores tiveram que parar para refletir sobre as mensagens transmitidas, além da forma de comunicar e fortalecer e/ou manter relacionamentos com as pessoas neste momento tão peculiar.

Neste cenário, não tem muita receita de bolo, mas é importante praticar o sentido real da palavra empatia – muito usada nas redes sociais e nas postagens cheias de positividade, mas ainda com um abismo em relação às práticas reais de se colocar no lugar do outro.

Segundo um levantamento batizado “Comunicação em tempos de pandemia” publicado plataforma Gente, da Globo, 67% das pessoas ouvidas afirmam que as empresas e marcas de forma geral precisam se posicionar e 99% das pessoas acreditam que seja parte do papel dessas organizações ajudar na conscientização das pessoas.

As pessoas estão passando mais tempo on-line, segundo diversas pesquisas, mas a forma de receber conteúdo, reagir ao que é publicado e lidar com as informações em excesso também está mudando a todo momento.

Por isso, antes de publicar um conteúdo ou fazer um planejamento estratégico para sua marca, OSC, blog pessoal , plataforma coletiva de conteúdos ou mesmo uma coluna mensal (como esta que escrevo para vocês e já deixei de escrever pensando em relevância), pare e faça o exercício de imaginar de no impacto que a informação pode gerar para a vida da pessoa, elencando pontos positivos e negativos.

Com base nas minhas experiências em agências de publicidade e outras iniciativas, deixo uma sugestão de checklist abaixo:

– Antes de produzir conteúdo, entenda o momento dos seus receptores, leitores e considere as diversidades de contexto;
– Pesquise mais sobre comunicação empática e adapte a linguagem sempre considerando a humanização;
– Analise os cenários. Não produza conteúdos que incentivam ações que não sejam adequadas ou coloquem à coletividade em risco;
– Ouça sua audiência. Esqueça da ideia de que comunicação é feita de cima para baixo. Comunicação é diálogo e calendário editorial de pautas cheio não significa relevância;
– Busque referências. Do que adianta publicar mil conteúdos se nenhum deles está dizendo algo ou apenas reproduz coisas que já existem?
– Observe a reação das pessoas. Estude as mudanças de comportamento;
– Seja útil. Conteúdo relevante ajuda a resolver problemas e não criar intenções ou mais problemas sem trazer um suporte para pelo menos orientar a pessoa a resolver algo.

E para você, o que é conteúdo que toca? Quais são as mudanças que você está notando como consumidor(a) ou como produtor(a) de conteúdo, jornalista e/ou pesquisador(a)? #ColocaNaRoda!

Imagem: Pexels.

Bruna Martins Oliveira é jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, onde foi autora da monografia ‘O Transtorno Bipolar na perspectiva da mídia: uma análise do Paraná no Ar’. Atualmente é estudante do curso de pós-graduação em Marketing Digital: Negócios e Estratégias, pela PUC MINAS e trabalha como redatora e jornalista em alguns projetos. Tem experiência no jornalismo de rádio (Grupo Lumen de Comunicação) e trabalhou como repórter freelancer na Secretaria do Esporte e do Turismo do Paraná e no jornal Gazeta do Povo.