COLOCA NA RODA - Quando a TV aberta presta um desserviço e favorece o machismo - em pleno 2019 -, é hora de dar um basta!

Até quando vamos naturalizar comentários machistas, exposição infantil e erotização da infância? Em 2019 isso é inaceitável e, felizmente, há gente acordada para a questão (embora outras nem tanto…).

É o caso apresentador Silvio Santos – que se envolveu em duas polêmicas durante a apresentação do seu programa no SBT no último mês.

A primeira foi quando, no dia 15 de setembro, o programa teve um quadro de competição de beleza entre crianças que estavam com trajes de banho. Durante o ‘concurso de beleza’ das meninas de, em média, 10 anos, o apresentador pediu para a plateia escolher a menina ‘mais bonita’, com as seguintes palavras:

‘Vocês, do auditório, vão ver quem tem as pernas mais bonitas, o colo mais bonito, o rosto mais bonito e o conjunto mais bonito’.

O caso gerou revolta nas redes sociais e, no último dia 10, a imprensa noticiou que a exposição das crianças está na justiça, já que a Promotoria de Justiça de Osasco exigiu um posicionamento da emissora em relação à exposição infantil.

Não satisfeito com a erotização precoce das meninas e a exposição da imagem de crianças na mídia forma violenta – que na visão de pesquisadores e especialistas leva à sexualização precoce, o apresentador acrescentou mais um episódio à sua série de desserviços ao dizer, recentemente, que demitiria uma bailarina com a ‘coxa mais fina’ por corte de gastos da emissora.

Não é a primeira vez que a TV aberta é caracterizada por programas de tanta superficialidade e exposição inadequada de forma gratuita. Mas, a grande questão é: até quando?

Quando o dono de uma emissora assume esse tipo de posicionamento obviamente machista, arcaico e antiético, vale questionar o papel real da comunicação e de quem são os donos da mídia.

Não é impossível fazer entretenimento – respeitando o mínimo – que não seja fazendo piadas de mau gosto, assédio ou declarações repudiáveis diante de crianças e mulheres. Vamos voltar um pouco aos conceitos de imaginário social e como a imagem tem o poder de influenciar essa construção.

Joly (2003) e outros autores estudam o imaginário social a partir da imagem. Especialmente no caso desta especialista, há a crença de que as imagens midiáticas contribuem para a formação de estereótipos reproduzidos socialmente.

Joly, inclusive defende que a imagem está diretamente ligada à construção da memória e que a televisão é basicamente ‘uma caixa de ressonância do discurso social interiorizado como um observatório sociocultural dos nossos modos de pensar colectivos. Uma máquina de estereótipos’ (p. 212 do livro ‘A imagem e sua interpretação’, editora Edições 70).

Diante dessa reflexão, cabe perguntar: que autoridade Silvio Santos tem para reproduzir os estereótipos, violar a questão ética ao expor a imagem de meninas de uma forma pejorativa, desrespeitar uma bailarina e ser um porta-voz da falta de bom senso?

‘Ah, ele é o dono da emissora’… ‘foi uma piada’… ou ‘concursos de beleza infantil sempre existiram’.

Calma lá! Ele pode ser o dono da emissora, mas em pleno 2019 está na hora de rever a postura. A internet traz outras possibilidades, os canais de streaming e outras alternativas de programas televisivos, mas ainda assim, a TV aberta e os programas de entretenimento são alternativa única para muitos lares brasileiros.

Reproduzir discursos pejorativos é um desserviço. E, não, o papo de democratização da informação com a ascensão da internet não rola, já que desconstruir um imaginário social como este exige a união de várias frentes.

É fato que internautas criticaram o apresentador, porém, é extremamente importante que haja uma reação e punição a essas falas.

Até quando vamos naturalizar? Não é crime fazer entretenimento. Crime é utilizar a comunicação de forma tão repugnante.

Se você tem alguma percepção sobre esse assunto ou acredita que outros temas semelhantes deveriam ser abordados, coloca na roda!

Bruna Martins Oliveira é jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É autora da monografia ‘O Transtorno Bipolar na perspectiva da mídia: uma análise do Paraná no Ar’. Tem experiência no jornalismo de rádio (Grupo Lumen de Comunicação), além de ter trabalhado como repórter freelancer na Secretaria do Esporte e do Turismo do Paraná e no jornal Gazeta do Povo.

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