COLOCA NA RODA - Covid-19: o que uma pandemia pode nos ensinar sobre comunicação, responsabilidade social e pautas emergentes?

Um giro de 360º. Pane no sistema. Uma montanha-russa. Acredito que seja essa a sensação que todas as pessoas estão vivenciando em tempos de coronavírus.

De repente, acordamos em uma pandemia mundial que trouxe à tona medos, inquietações, mudanças e tantas reflexões como a importância da informação de qualidade, por exemplo.

A meu ver, a imprensa (responsável) que sempre teve um papel vital está entre ‘a cruz e a espada’ desempenhando seu papel de forma bastante positiva.

É preciso aplaudir iniciativas como a do Projeto Comprova, coordenado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) – que une jornalistas de vários veículos de comunicação com o objetivo de checar a veracidade dos conteúdos que circulam nas redes sociais, na internet e nos aplicativos. Por causa da Covid-19, os membros do projeto estão realizando um plantão especial para monitorar a qualidade das informações que estão sendo divulgadas.

Mudando um pouco a perspectiva, mas ainda no contexto da cobertura jornalística, também é triste destacar certos ‘posicionamentos’ desastrosos – ou melhor, criminosos – por parte dos que deveriam cumprir seu papel enquanto representantes do povo e do estado democrático.

Em outro texto da coluna ‘Coloca na Roda’, já tratei de como a falta de postura humana, ética e profissional da comunicação governamental dá palanque para um show de horrores. Não cabe aqui fazer o mesmo, mas não há como fechar os olhos.

Obviamente, a overdose de desinformação legitimada por quem deveria proteger nos mostra o quanto intelectuais visionários como José Saramago sempre estiveram à frente do seu tempo.

A cegueira social existe. No clássico ‘Ensaio Sobre a Cegueira’, Saramago fez uma reflexão intensa sobre como a humanidade pode se perder ao inviabilizar uma série de questões.

Uma das analogias mais marcantes da obra é quando o autor fala de uma pessoa que perdeu a visão enquanto dirigia. ‘De repente, a realidade tornou-se indiferenciada à sua volta’.

Tal trecho nos mostra o quão complexo e ‘fácil’ é se perder na própria bolha… Mais uma vez: não é objetivo deste artigo trazer uma visão totalmente pessimista em meio à crise – humanitária e de valores – que estamos vivendo, mas… ficar em silêncio não dá.

É tempo de efervescência e acredite: o que compartilhamos e transmitimos de informação em um momento tão fora da curva como o de agora revela muito sobre nossa própria cegueira.

Que as boas iniciativas que estão surgindo com o potencial da tecnologia, seja do jornalismo responsável ou de marcas e empresas que estão se posicionado a favor da vida, ganhem ainda mais força, não só agora como depois.

Que toda essa turbulência nos mostre enquanto humanidade a importância de não invisibilizar os problemas sociais – sobretudo os que não necessariamente se enquadram em nossa rotina mas que afetam inúmeras pessoas próximas de nós.

Não é preciso uma crise para entender que o mundo não se resume ao nosso próprio umbigo.

No Brasil, por exemplo, além da estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS) que é um dos sistemas mais complexos de saúde pública no mundo, o debate sobre saúde mental está em alta. Que isso continue! Não faz muito tempo que vivemos tantos retrocessos, cortes de ‘gastos’ e interrupção de investimentos na ciência…

Será que é preciso uma pandemia para entender que o adoecimento físico e mental é o início do fim?

Por fim, desejo que esse ‘chacoalhão’ no sistema se transforme em uma pauta de mudanças significativas. Isso vale tanto para o papel do jornalismo perante a defesa das políticas públicas, da cidadania, das minorias e da sociedade em geral, quanto para a própria postura de cada pessoa capaz de multiplicar o acesso à informação transformadora.

Foto de cottonbro / Pexels

Bruna Martins Oliveira é jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. É autora da monografia ‘O Transtorno Bipolar na perspectiva da mídia: uma análise do Paraná no Ar’. Atualmente é redatora e trabalha em alguns projetos como freelancer. Tem experiência no jornalismo de rádio (Grupo Lumen de Comunicação) e trabalhou como repórter freelancer na Secretaria do Esporte e do Turismo do Paraná e no jornal Gazeta do Povo.