Carlos Brickmann no OCI, 13/04/2015.

Os ratos por trás dos ratos.

Os bichinhos, coitados, nem eram ratos: eram hamsters e gerbos, ou esquilos-da-Mongólia. Mas quem mandou colocá-los ali, naquele ambiente insalubre, tinha um objetivo de rato: desviar as atenções da CPI do Petrolão e do depoimento do tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto. Teve algum êxito nisso: os ratos que não eram ratos se transformaram no grande assunto do dia, e permitiram a piada pronta de que todos, ali, ratos e homens, pertenciam à mesma espécie.

Quem colocou os roedores na CPI foi Márcio Martins de Oliveira, que ocupa cargo de confiança na 2ª Vice-Presidência da Câmara, ocupada pelo deputado Giacobo, do PR paranaense, fiel integrante da base aliada do Governo Dilma. Giacobo já é famoso: foi ele que disse ter ganho 12 vezes nas loterias da Caixa, num prazo de 14 dias, em 1997 – graças à ajuda de Deus, conforme salientou.

O tesoureiro anterior do PT, Delúbio Soares, já cumpriu pena de prisão, no caso do Mensalão. O tesoureiro atual está sendo investigado no caso do Petrolão e é amplamente citado nas delações premiadas. Não há qualquer interesse do Governo petista, ou do partido, em que haja repercussão da CPI, do envolvimento do tesoureiro, da relação entre os tesoureiros do PT e atos de macrocorrupção – ainda mais às vésperas de manifestações de rua contra o Governo, que prometem ser grandes, ainda mais depois das passeatas chinfrins da CUT em favor do Governo.

Quem melhor do que um aliado, que já disse que ganhou 12 vezes na Loteria em 14 dias, para tumultuar o processo sem medo de ser ridículo?

Sabe de nada, o gringo

John D. Rockefeller, o lendário criador da Standard Oil, dizia que o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada; o segundo melhor, uma empresa de petróleo mal administrada. Mas nem a empresa de petróleo bem administrada se compara, como negócio, aos bancos brasileiros: aqui, quando a economia vai bem, os bancos vão bem. Quando a economia vai mal, os bancos vão ainda melhor. A rentabilidade dos grandes bancos de capital aberto do Brasil foi de 18,23% em 2014, segundo estudo da Economática para a BBC Brasil. A rentabilidade dos bancos americanos não chega à metade: 7,68%.

Confira, confirme e reclame

Siga o link http://peba.teresinahc.org/ e confira os gastos de cada um dos deputados federais desde o início deste ano, item por item (e morra de inveja).

Ah, o nome: peba é um tipo de tatu, também chamado de papa-defunto.

Faça de conta

Já que falamos em gastos de parlamentares, um leitor fiel desta coluna (e que sabe fazer contas) comparou os orçamentos e a população de diversos Estados com as despesas da Câmara, do Senado e do Tribunal de Contas da União. A Câmara, que gasta anualmente R$ 5.362.325.807 para atender a 513 deputados e sabe-se lá quantos assessores, tem orçamento praticamente igual ao do Recife (R$ 5.742.000.000), com 1,6 milhão de habitantes.

O orçamento do Senado (R$ 3.916.377.597), para atender a 81 senadores, mais assessores, secretários, motoristas, é quase igual ao de Salvador (R$ 4.363.257.000), com 2,9 milhões de habitantes. O Tribunal de Contas da União (R$ 1.823.516.700, para nove ministros e seus assessores), tem quase o mesmo orçamento de João Pessoa (R$ 1.823.516.700), com 780 mil habitantes.

Citando o grande Pelé, “entendje”?

História mutante

No programa de TV do PT, uma conclamação estranhíssima: “Agora é hora de reescrever nossa história. Participe do 5º Congresso Nacional do PT”.

No Brasil, o passado é ainda mais imprevisível do que o futuro.

Energia firme

A informação é do Operador Nacional do Sistema Elétrico: os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste/Oeste/Centro-Oeste estão com 30% da capacidade de água. Isso significa, segundo o Governo, que dá para escapar do racionamento de eletricidade. Os altos preços da energia também ajudam, reduzindo o consumo. E há chuvas na maior parte da região, ampliando a capacidade de geração.

Concorrência? E os amigos?

A Prefeitura de São Paulo, do prefeito petista Fernando Haddad, comprou do MST, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, 520 toneladas de feijão e mil toneladas de arroz, para a merenda escolar. Sem concorrência, claro. A lei federal 8666 foi deixada pra lá. E os preços? Com base nas informações da Secretaria Municipal de Educação, o feijão custou R$ 2,13 milhões. Dá R$ 4,10 o quilo. Na rede Pão de Açúcar – que compra de empresas, que compram produtor, todos ganhando seu lucro – o feijão carioquinha Qualitá custa R$ 3,91. São 19 centavos de diferença no quilo. Multiplique por 520 mil quilos.

Para agradar aos companheiros petistas, o prefeito Fernando Haddad gastou a mais, só no feijão, quase cem mil reais do contribuinte paulistano. Se a compra fosse feita do produtor, por concorrência pública, e não no varejo, a diferença seria ainda maior.

Retrato do Brasil

Este país se acostumou tanto em driblar a lei que há até um anúncio de lubrificantes para motores Diesel em que, na animação, o caminhão vai na contramão.