Brasil, uma imagem craquelada: pátria mais ou menos amada, pária global. Por Andrea Nakane.

As conjunturas contemporâneas resultantes da pandemia mundial, relacionada ao vírus da Covid-19, têm apresentado diversos axiomas, presentes nos âmbitos individual e coletivo, atrelados ao cotidiano social, corporativo, mercadológico, científico e político.

As considerações evidenciadas não são apenas de atos e iniciativas nobres e edificantes, há muitos relatos e evidências que denotam posicionamentos que atingem negativamente diretamente as imagens projetadas dos envolvidos.

Vale a pena resgatar o conceito de imagem, foco de trabalhos meticulosos e sagazes, sobretudo da área de relações públicas, que está relacionado a percepção representativa que as pessoas têm de algo ou alguém, constituída de um todo, formado por diversos signos, não simplesmente de um fragmento.

Na atualidade o Brasil tem apresentado ao mundo condutas e ações para muitos consideradas estapafúrdias. E não é algo isolado, o efeito está sendo em cascata… tornou-se algo raro termos alguma referência de ótica positiva.

Internamente a polarização de cunho ideológico dividiu a nação, que encontrou nas redes sociais uma espécie de ringue virtual para confrontos e dualidades, geralmente conduzidas de forma grosseira e intolerante.

A descartabilidade tornou-se condição sine qua non de autodefesa na blindagem de tudo e de todos que não estão alinhados em pareceres múltiplos.

A convivência na diversidade não mais está em evidência, busca-se falso acolhimento nas tribos semelhantes e assim o Brasil, que detinha competências como diplomacia e aceitação plural, deixa sua máscara cair e entra no rol dos países arbitrários, cuja nação fragiliza-se em suas próprias incongruências e paradoxos incentivados por pseudos líderes que vislumbram poderes majoritariamente com o intuito do atendimento de suas vaidades próprias e dos partidos que lhes servem.

Urgem campanhas de conscientização, de comunicação, de pertencimento, lideradas pela sociedade civil e suas organizações idôneas e de credibilidade como tentativa pujante de modificação desse estado caótico e aterrorizante que atravessamos.

Tudo isso, somado à maior crise sanitária dos últimos 100 anos, transformou o Brasil em um local em que os próprios nativos, em uma expressiva representação, sentem vergonha de sua pátria e que o mundo, a cada dia, faz chacota e delibera nos legitimando como nação problemática, descontrolada e sem liderança de alto impacto.

Realmente, o Brasil precisa, mais que nunca de um RP, ou melhor, de um time de relações públicas, pois além de um gravíssimo caso de gerenciamento de crises interna e externa, demandará também um audacioso e veemente plano de reestruturação de imagem.

E isso deve ser para ontem, pois a cada dia que passa afundamos mais no lamaçal que avança delirantemente, tendo as fronteiras dos territórios estrangeiros, literalmente, fechadas para nós.

A comunicação já salvou países, já lutou e restabeleceu a democracia, já gerou entendimentos, já sinalizou com cenários pacíficos, já uniu grupos, já reconstruiu identidades, já recuperou dignidade, já transformou o que parecia ser impossível ser alterado… então… o Brasil precisa de uma política de comunicação autêntica, séria e de notabilidade.

Esperar que o Estado se movimente… não demonstra ser estratégia viável, então, se todo o poder emana do povo, está mais que na hora do próprio povo criar as condições para buscar sua real integração, em nome do que temos ainda como um país, antes que seja muito mais tarde.

Segundo e terceiro setores unidos, não há outra visão, já que o primeiro setor teima em olhar de forma narcisista para seu umbigo, sem se importar com aqueles que o conduziram até seus cargos.

Caso isso não ocorra, vivenciaremos ambiências isoladas, de puro desconforto, tanto interno, quanto externo, nos tornando ermitões, fato que agride totalmente a nossa essência humana de vivermos em sociedade, de forma colaborativa, amistosa e responsável.

O SOS já foi dado… busquemos a comunicação como nossa base de resgate e sejamos realmente cidadãos de um território vislumbrado como um bom exemplo e não referência repugnada e depreciada, pois se continuarmos nessa toada, resgataremos não só o título de país subdesenvolvido, mas acrescentaremos também o de pária global, com o local também comprometido.

Andrea Nakane é bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas. Possui especialização em Marketing (ESPM-Rio), em Educação do Ensino Superior (Universidade Anhembi-Morumbi), em Administração e Organização de Eventos (Senac-SP), e Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF). É mestre Hospitalidade pela Universidade Anhembi-Morumbi e doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, com tese focada no ambiente dos eventos de entretenimento ao vivo, construção e gestão de marcas.