Arrumação da mochila para a escola: tarefa dos pais ou do aluno? Autonomia e funções executivas. Por Viviane Cupello.

Se essa tarefa está sendo realizada pelos pais, é bom ficarem atentos. A responsabilidade com os pertences e a organização é do(a) aluno(a).

‘Ah, mas meu filho só tem 5 anos!’.

‘Eu tenho medo dela se esquecer de algo. Então, prefiro fazer’.

É verdade que, por receio da falta ou por excesso de zelo, nós, pais, acabamos não permitindo que as crianças vivenciem etapas importantes do processo de aprendizagem e de amadurecimento necessários à vida. Temos tanto amor por nossos filhos que não percebemos que algumas frustrações, pequenos problemas e o não saber lidar com algumas situações são partes importantes da ‘pedagogia para a vida’.

Com certeza, você já ouviu professores e educadores defendendo a autonomia e, em algum momento, deve ter duvidado da necessidade de delegar tarefas às crianças, inclusive as pequenas.

Maria Montessori defendia o encorajamento da autonomia, a proatividade infantil e a autoeducação do aluno pois, segundo a pedagoga, as crianças nascem com ímpeto de aprender a partir das próprias experiências, desenvolvendo, assim, pensamento crítico e independente.

Mas, incentivar a autonomia não significa delegar tarefas à criança sem acompanhamento ou supervisão. É, pelo contrário, orientar e acompanhar um movimento de conscientização a respeito da vida, do cuidado com o corpo e com a mente e da relação com a natureza e com o mundo. É respeitar sua individualidade, credibilizar suas vontades, valorizar suas potencialidades e não subjugá-las. Esse suporte é importante para fomentar, na criança, a vontade e a capacidade de tentar até acertar.

Participando diariamente da rotina, a realização das atividades pelas crianças são indispensáveis para essa autonomia, conforme desenvolvimento das funções executivas.

Mas, afinal, o que são essas funções executivas?

Elas são um conjunto de habilidades necessárias para o controle de nossa saúde mental e vida funcional, exercendo influência direta na regulação emocional. Vamos, então, verificar algumas delas?

  • Atenção – o foco e a sua sustentação, evitando distratores (para a hora de estudar, o ambiente é um facilitador dessa aprendizagem);
  • Percepção – analítica e sintética (a parte e o todo);
  • Memória de trabalho – ela é a ponte entre a informação que chega pelos sentidos e a armazenada na memória de longo prazo (capacidade de seguir orientações verbais, fazer contas de cabeça, ler textos, armazenar temporariamente números, palavras e imagens, recontar uma história);
  • Controle – regulação e autoavaliação de tarefas;
  • Decisão – gestão do tempo (controle no relógio, planejamento do tempo das atividades, prioridade de ação).

O exercício dessas funções executivas aprimora também as funções cognitivas, visto que esses conjuntos de habilidades estão interligados. E esse casamento é perfeito para o sucesso escolar!

É claro que a criança não aprende tudo sozinha e tais habilidades precisam ser ensinadas pelo adulto para que se ela se aproprie do gerenciamento futuro de sua vida. Por isso, a importância de uma autonomia supervisionada e bem orientada.

Há tarefas práticas e diárias que podem ajudar a criança a se sentir mais independente e a desenvolver a autonomia de forma saudável. O ideal é permitir que ela faça a tarefa sozinha, até sua finalização e com algumas intervenções do adulto (que vão diminuindo ao longo da constância de execução). Veja alguns exemplos, que devem ser adaptáveis à faixa etária:

– ajudar na preparação dos alimentos;
– guardar louças;
– arrumar a cama;
– colocar a mesa;
– guardar os brinquedos;
– comer sozinho;
– escovar os dentes;
– tomar banho;
– calçar-se e despir-se;
– guardar as roupas no armário;
– cuidar de uma plantinha ou pet;
– varrer a casa;
– recolher o lixo;
– entregar algo para um vizinho;
– arrumar o quarto;
– fazer os trabalhos da escola sem supervisão.

Todo processo de autonomia e delegação das tarefas deve ser gradual e orientado: validação da capacidade, reforço positivo nas atividades executadas e pré-disposição ao acompanhamento dispõem à criança segurança, autoconfiança e fortalecimento da autoestima.

Essas oportunidades de crescimento fortalecerão a aprendizagem e favorecerão o desenvolvimento humano.

E então, a partir de hoje, quem arrumará a mochila para a escola?

Viviane Cupello é amante da Educação, das Artes e de Pessoas. É professora e pedagoga, especialista em Gestão Escolar e em formação na Gestão de Pessoas. Estudou teatro, sempre foi apaixonada pela escrita, escreve poemas no canal ‘Poetizei Poetizamos’ e tem como um dos propósitos de vida o trabalho social. Atua na Educação há 20 anos: é alfabetizadora, lecionou em turmas da Educação Infantil e Ensino Fundamental I, coordenou o turno Integral e ministrou cursos de Escolarização, Atualização e de Formação para adultos. Fundadora da CAPAS – Ações para Educação, acredita no desenvolvimento humano por meio da Educação.