ANTEVASIN - Muito além das habilidades técnicas.

Muito se tem falado em futuro do trabalho, em que proporção e tempo as máquinas substituirão as pessoas na realização das tarefas. São inúmeras as matérias em jornais e revistas de grande circulação e artigos em revistas especializadas. Relatórios de pesquisas de empresas das áreas de recrutamento, de plataformas e redes sociais com orientação ao universo profissional e de centros de pesquisa de universidades, no Brasil e em outros países, também apresentam perspectivas.

Lendo alguns desses textos, pode até parecer que a realidade da automação não deixará oportunidades para os humanos. Muitas leituras são possíveis. Uma delas diz respeito às habilidades de cada pessoa em relação àquelas necessárias e desejadas em sua área de atuação. E aí, acredito, está o lugar de perceber como a construção e o fortalecimento de habilidades diversas em seu perfil tendem a ser os aspectos mais importantes.

Popularmente conhecidos com ‘soft skills’ e ‘hard skills’, as habilidades socioemocionais e as habilidades técnicas são os fatores que traduzem, aos potenciais contratantes, a medida que uma pessoa atende às necessidades de uma posição de trabalho. Assim, um conjunto de habilidades faz que uma pessoa seja mais atraente para algumas empresas na hora da contratação.

No final de 2018, o Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações (LAMFO/UnB) lançou um estudo abordando a probabilidade de automação de ocupações nesta nova economia, no Brasil(*). Nela indica-se a probabilidade de substituição por máquinas para variadas ocupações no país. Percebe-se que profissões que têm nos ‘soft skills’ uma representação mais expressiva da natureza de suas atividades tendem a apresentar uma probabilidade menor de automação.

Os resultados indicam uma chance de 29% de automação para a atuação do produtor cultural, por exemplo. Aponta-se um conjunto de tarefas e atitudes mais vinculadas àquelas que as máquinas tendem a não substituir, tais como acompanhamento de ensaios, criação de propostas cênicas, sensibilidade artística, capacidade de persuasão, gestão e mediação de equipes multidisciplinares, entre tantas outras.

Isso não significa que habilidades técnicas, muitas vezes relacionadas a processos técnicos e mesmo tecnológicos avançados, não serão necessárias. Serão também. E muito. Estes profissionais também precisarão ter habilidades técnicas bem desenvolvidas, como gerenciar adequações de conformidade técnica de projetos, elaborar e gerenciar cronogramas e fluxogramas financeiros, monitorar indicadores complexos de evolução das entregas e satisfação de variados ‘stakeholders’, e outras que necessitam de capacidades técnicas, atualização e treinamentos a cada dia mais frequentes.

Contudo, a combinação de ‘soft skills’ e ‘hard skills’ em variadas medidas será o diferencial de profissionais nesse cenário. Os profissionais desejados tendem a ter habilidades como persuasão e convencimento, colaboração, capacidade de adaptação e de administração do tempo, alem de criatividade, boa comunicação, empatia e tantas outras. Mas também conhecer pacotes de software de gestão financeira, equipamentos e técnicas mais modernos para iluminação, sonorização e produção de efeitos, edição, entre muitas outras. Por vezes não se precisará do conhecimento para operar, mas para orientar a melhor contratação de pessoas e equipamentos, para gerenciar os encaminhamentos para os resultados cênicos desejáveis e para o melhor uso dos recursos.

Nesse ambiente complexo, Elatia Abate, sócia do Fesa Group, sugere a orientação de atitudes que favoreçam uma nova postura com (a) uma mentalidade de busca por resiliência, (b) busca por capacitação e (c) modos colaborativos de trabalho. Esta perspectiva se alinha com o que Reid Hoffman, co-fundador do LinkedIn, chama de ‘carreiras em versões beta permanente’. No mundo da tecnologia, as versões beta são aquelas que estão passando por testes para aprimoramento, considerando que existirá uma versão melhorada e ampliada dela. Assim, versões ‘beta permanente’ são aquelas que estarão em constante processo de aperfeiçoamento.

Atentos e abertos a compreender o que e como o ambiente profissional demanda de nossas habilidades soft e hard, as chances de sucesso aumentam. Para além das habilidades técnicas e da concorrência com as máquinas.

(*) Resultados do estudo podem ser acessados no endereço https://lamfo.shinyapps.io/automacao/

Fonte | Imagem: 123RF

Daniele Dantas é produtora cultural com experiências em instituições públicas, privadas e do terceiro setor, atuando com artes visuais, teatro, museus e artes integradas nas áreas de planejamento, gestão e produção; prestação de contas e avaliação de projetos, impactos e resultados. É doutoranda na UFRJ / IBICT (Instituto Brasileiro de Informação, Ciência e Tecnologia) com pesquisa em ativos intangíveis e valor em cultura, e mestre em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (IBGE / ENCE) com pesquisa sobre construção e uso de indicadores na gestão cultural.

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