ANTEVASIN - Ética, Transparência e Governança: "ESG" e Gestão Integral dos Negócios.

A busca por uma gestão integral dos negócios, em diferentes ramos de atividade, merece contar com uma perspectiva na comunicação que ecoe as diretrizes e condutas das organizações. Recurso que transporta os valores dos negócios, constrói e sedimenta laços entre organizações e diferentes stakeholders, a comunicação tem papel importante neste contexto, particularmente, se a reconhecermos como elo entre negócios, performance e sua prosperidade. O laço forte entre a gestão da comunicação e a uma perspectiva gerencial integral dos negócios, norteada por condutas éticas, transparência e governança, tende a orientar o percurso que nos levará [ou não] a dar contribuições reais para a Agenda 2030, por exemplo.

Compreender a contribuição do fluxo da informação na construção e incremento do valor de produtos e negócios, a partir do que diz Christian Marazzi, favorece o reconhecimento do poder da convergência entre duas áreas academicamente separadas: a Comunicação e Administração. Isto também tende a balizar os cuidados com aspectos que sustentam a governança corporativa, por meio de diretrizes e condutas, esboçando os contornos da transparência refletida no grau de maturidade de sua comunicação.

Inspirada em Marcondes Neto, ao nos lembrar que “sem comunicação não se obtém transparência” (2012) e que ética e transparência são faces da mesma moeda; “a outra face da medalha da ética é a transparência” (2014), é crível que a relação harmônica e mutuamente vantajosa entre estes entes (comunicação, transparência e ética) tende a concorrer positivamente para performance e prosperidade dos negócios. Contudo, para a manutenção da harmonia desta relação, a governança do sistema social – que as organizações representam -, terá o reforço da linguagem adotada por seu alinhamento com a conduta ética e uma transparência ativa, retornando para a comunicação e espelhando a essência da administração com a qual converge.

No detalhe desta convergência, a proposta de uma Comunicação Funcional conta com o composto de “8 Rs” o qual constitui o tecido organizacional visto a partir da migração da comunicação – da periferia para o centro da atenção gerencial – com a velocidade e multiplicidade de recursos informacionais e comunicacionais (Marcondes Neto, 2020) das chamadas TICs. Aí se tem recurso para que as 8 instâncias/demandas da Comunicação Funcional dêem suporte à aferição efetiva da transparência organizacional.

Um circuito completo na vida dos entes organizacionais (sejam empresariais, governamentais ou não governamentais), circuito este que teve seu primeiro trecho mapeado em 2014 com a apresentação dos primeiros “4 Rs” a serem gerenciados: Reconhecimento no meio social, Relacionamento com público-chave, Relevância no segmento de atuação, e Reputação administrada. Em 2018, com mais um trecho mapeado, representando um quinto “R”, da Resiliência Institucional, as referências ganham seu primeiro corpo estável para a aferição da Transparência Ativa – por meio de uma auditoria funcional da comunicação organizacional. Contudo, as mudanças que levaram à clareza sobre a centralidade da comunicação no ambiente organizacional pavimentou mais um trecho deste circuito, incorporando Responsabilidade e Retribuição como mais duas demandas essenciais, em 2019; e culminando com um oitavo “R”, de Reinvenção, em 2020 – o que fecha o circuito, entregando um ciclo completo de vida a ser aferido permanentemente.

Veja o vídeo (4min21seg).

Concluído o mapeamento do circuito, é possível reconhecer as oito instâncias num ciclo que conduz a recomeços e favorece revisões de demandas organizacionais, dando corpo à convergência entre Comunicação e Administração, evidenciando o alinhamento e harmonia [ou não] entre Ética, Transparência e Governança, se e quando incorporados na administração e espelhados na comunicação dos resultados reais das organizações.

O que chamamos de gestão integral dos negócios traduz uma gestão que contempla a complexidade e amplitude das instâncias incorporadas e atenção aos diversos elementos que a constituem. Uma gestão integral dos negócios converge para a Comunicação Funcional, para um processo que tenderá a aferição satisfatória do Índice de Transparência Ativa.

E qual a relação entre as práticas ESG (sigla, em inglês, das palavras Environmental, Social e Governance – que se refere às melhores práticas ambientais, sociais e de governança nos negócios) e o que tratamos até agora?

Tudo converge para o interesse da coletividade, da sociedade, da cidadania, do pertencimento, da ciência e da consciência dos diferentes interessados nos resultados dos negócios – públicos, privados e do terceiro setor – pela perspectiva de organizações que buscam trabalhar de modo pragmático – e, claro, publicizado – dos variados resultados e efeitos de suas ações.

Com tais ações orientadas por uma Comunicação Funcional que ecoe suas condutas e diretrizes, uma organização poderá construir e sedimentar laços com seus diferentes stakeholders com chance de transportar valores com eficácia no alcance de reais interessados em função da relevância e reconhecimento do realizado, estabelecidos o relacionamento, a retribuição e uma boa reputação.

No mesmo percurso, responsabilidade, resiliência institucional e reinvenção serão necessários para calibragens e reposicionamentos que oxigenem e permitam ciclos virtuosos, prósperos, de aprendizagem e amadurecimento das organizações, refletidos nos resultados de seus negócios.

A centralidade de uma gestão comprometida com Ética, Transparência e Governança pode ter na Comunicação Funcional um recurso gerencial eficaz e na aferição da Transparência Ativa um recurso avaliativo da difusão da imagem das organizações no ambiente onde está inserida, em variadas escalas.

Os “8 Rs” da Comunicação Funcional podem ajudar gestores atentos e interessados no alcance efetivo da informação sobre as realizações de suas organizações. À sociedade interessa receber informações confiáveis sobre as organizações realmente interessadas em causar efeitos positivos ambientais, sociais e de governança – a tão cobrada adesão à agenda ESG.

Daniele Dantas é profissional da área de gestão de dados e cultura com experiências em instituições públicas, privadas e do terceiro setor, atuando com artes visuais, teatro, museus e artes integradas nas áreas de planejamento, gestão e produção; prestação de contas e avaliação de projetos, impactos e resultados. É doutoranda na UFRJ / IBICT (Instituto Brasileiro de Informação, Ciência e Tecnologia) com pesquisa em ativos intangíveis e valor em cultura, com mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais pela Escola Nacional de Ciências Estatísticas (IBGE / ENCE) e pesquisa sobre construção e uso de indicadores na gestão cultural e especialização em estatística aplicada (DEMAT/UFRRJ). Sócia fundadora da Axía Inteligência em Negócios Culturais.

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