Depois da conquista da sua independência, a 11 de novembro de 1975, Angola passou a encarar um desafio não menos interessante do que a luta pela libertação nacional; o da gestão funcional do Estado enquanto nação.
Em contexto diferente de um campo habitual de batalhas, era necessário mais do que estratégias militares para poder conduzir o país rumo ao bem-estar econômico, social e cultural. Para um Estado que teve de ceder grande parte dos seus quadros – que ainda assim eram poucos – para os distintos movimentos de libertação nacional, que lutavam contra as forças coloniais portuguesas, era uma tarefa bastante difícil. Ainda assim, incontornável.
O país alcançara a liberdade de decidir por si mesmo o futuro dos seus filhos, dispunha de recursos naturais e de instituições destinadas ao aproveitamento rentável de tais riquezas. Mas faltava o mais importante; recursos humanos qualificados. Era necessário garantir o normal funcionamento das organizações herdadas do colonizador. Para tal, aqueles cujo empenho na vida dos movimentos de libertação nacional era mais visível foram os escolhidos para ocuparem os cargos de liderança nas aludidas organizações.
Valorizava-se mais a bravura dos nacionalistas do que propriamente o grau de intelectualidade. Como era de se prever, o país não resistiu e colapsou pouco tempo depois. Em resposta, o Estado começou a investir na formação do Homem. Criou parcerias estratégicas e financiou um amplo pacote de bolsas de estudo em vários países comunistas. União Soviética e Cuba eram as preferências. Agricultura, educação, saúde e segurança foram as áreas em que os angolanos mais se formaram durante esta nova fase. Para trás ficaram cursos como comunicação, tecnologias de informação e tantos de caráter social que, naquela altura, eram considerados não prioritários.
Passaram-se, então, vários períodos conturbados – inclusive uma guerra civil de cerca de 30 anos – até que em 2008 a economia do país disparou. E o país precisava de instituições fortes. E instituições fortes precisam, acima de tudo, de políticas inteligentes de comunicação. E estas, por sua vez, precisam de quadros qualificados em relações públicas. E é aqui onde reside o problema!
Angola não possui, em quase 40 anos de independência, uma única instituição de excelência que forme profissionais na área de relações públicas. Os poucos que existem foram obrigados a emigrar do jornalismo. Têm pouco conhecimento científico sobre a profissão. Entre os atropelos e o autodidatismo, há quem ainda consiga desenvolver minimamente bem o exercício desta profissão. A falta de regulamentação, sobretudo, faz com que a profissão seja encarada por muitos líderes como dispensáveis às suas organizações, colocando os RPs em último plano.
Na pior das hipóteses, os RPs são confundidos com “moleques de recados” que servem apenas para transportar correspondências de um lado para o outro. Entretanto, há aqui muito o que se fazer em matéria de relações públicas. Falta de tudo um pouco. Desde sensibilidade das lideranças a quadros capazes de influenciar decisões favoráveis à mudança de comportamento dos líderes. Ninguém se importa com a situação atual. Os poucos que ainda vão tecendo alguns comentários a respeito, são imediatamente ultrapassados pela maioria, que pouco ou nada entende sobre a matéria. O repto vai no sentido da abertura existente no mercado angolano.
É tempo de organizações como o Observatório da Comunicação Institucional – OCI – e tantas outras, lusofonia afora, conjugarem esforços junto das autoridades angolanas com vistas à oficialização das relações públicas em Angola.
Luanda, 10 de março de 2015.
Foto: Miguel Rosa (www.panoramio.com)