O tema da coluna deste mês tem como objetivo trazer algumas reflexões que me fazem acreditar, a partir das incursões em análises e estudos de pensadores, filósofos, professores e psicanalistas, que viver nos tempos atuais está mais difícil. Em que pese todo o avanço tecnológico conquistado nas últimas décadas, o mundo está mais complexo e mais complicado.
Vejam: em primeiro lugar, vivemos em uma sociedade apressada; extremamente apressada. As pessoas sequer têm paciência de ouvir o áudio do WhatsApp em seu ritmo regular. No momento em que recebem uma mensagem de voz, imediatamente ajustam a velocidade. Não há tempo a perder. E a pressa, como diz Mario Sérgio Cortella (1), não nos possibilita a reflexão. Não nos permite parar e pensar. Não nos permite sequer parar, pois logo o celular avisará que outra mensagem chegou.
Esse exemplo também nos leva a outro fenômeno comum na sociedade atual. Ninguém tem paciência de ouvir o outro. Há uma desatenção explícita e sem culpa ao que a outra pessoa fala. Em segundos o seu interlocutor pega o celular, deixando você no vácuo por conta da necessidade imediata e inadiável de conferir as centenas de atualizações recebidas pelo status, pelas redes sociais, pelos sites de notícias. Sim, você acreditava que estabelecia um diálogo e percebe, de repente, que falava sozinho e terá de repetir cada uma das palavras que já havia dito, pois elas foram solenemente ignoradas. Isso, caso o seu interlocutor ainda se interesse em saber sobre o que falava.
Engraçado que na sociedade em que ninguém desliga, nunca houve tanto déficit de atenção, dificuldade de concentração e falta de foco. É que imbuídos na ansiedade em saber quem curtiu a foto ou o vídeo postados na rede social, quem está on line ou quais foram as últimas notícias dos últimos segundos, ninguém está realmente presente no lugar onde está. O que enxergamos é apenas alguém conectado a si mesmo.
Utilizando as palavras de Leandro Karnal (2), uma sociedade cada vez mais individualista e centrada em si, em suas opiniões, numa selfie infinita.
Como se não bastassem todos esses aspectos, ainda convivemos com a ideia da sociedade líquida, trazida por Zygmunt Bauman (3). Tudo é muito fluído, tudo é muito relativo, tudo depende. É certo? É errado? Talvez. A insistente incerteza sobre se está ou não no caminho correto, se segue em direção ao sucesso ou ao fracasso, muitas vezes, faz as pessoas desistirem de caminhar.
E para resolver tantas angústias, para dar conta de tanta coisa na pressa que o mundo exige, para evitar frustrações diante de tantas opções, que tal uma pílula? Nunca tantas pessoas se tornaram dependentes de medicação para enfrentar seus medos, sua realidade e se mostrar constantemente felizes como nas postagens diárias das redes sociais.
Há saída? O que fazer para olhar esse mundo com esperança?
Sim, sempre há. É preciso esperançar. E, em meio a tantos desafios, em meio a esse mundo que se move em looping, o melhor talvez seja voltar ao básico. E respirar.
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(1) CORTELLA, Mario Sergio. Curso: Filosofia e nós com isso?
(2) KARNAL, Leandro. Vídeo: O individualismo contemporâneo.
(3) Filósofo e sociólogo judeu polonês. Criador do conceito “modernidade líquida” e autor, entre outros, de livro “Modernidade Líquida”. Faleceu em 2017.
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Silmara Helena Pereira de Paula é jornalista formada pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Atua na área desde 1994 e trabalha em comunicação pública desde 2003. É pós-graduada em Docência em Ensino Superior pelo SENAC-SP (2015) e em Filosofia e Autoconhecimento: uso pessoal e profissional pela PUC-RS (2021). Atualmente é assessora de imprensa concursada na Câmara Municipal de Arujá.