Vivemos tempos estranhos. A verdade, essa velha senhora que um dia já foi firme e inquestionável, agora parece uma figura cambaleante, tropeçando entre manchetes, posts virais e discursos inflamados. De um lado, temos a realidade. Do outro, versões dela, esticadas, distorcidas, embaladas e vendidas como “fatos”. E no meio disso tudo, nós – espectadores, consumidores, vítimas e, às vezes, até cúmplices desse jogo onde o que importa não é mais o que é, mas sim o que parece ser.
A pandemia escancarou isso. No início, a ciência falava, mas nem todos queriam ouvir. Máscaras eram essenciais, depois foram questionadas. Vacinas eram a salvação, mas para alguns viraram conspiração. Grupos inteiros de pessoas se dividiram, não por afinidade, mas por uma disputa insana sobre qual versão da realidade deveria prevalecer. A informação virou mercadoria, e a desinformação, um vírus mais resistente do que qualquer variante. O curioso é que, enquanto a ciência caminhava com cautela, passo a passo, a mentira vinha de carona num foguete, rápida, sedutora, espalhando-se como pólvora num terreno já seco de desconfiança.
Agora, na política, o roteiro não mudou muito. A narrativa continua sendo mais valiosa que os fatos, e a verdade, coitada, vive sendo manipulada ao gosto de quem fala mais alto. Fake news não são mais um acidente, são estratégia. Criam vilões, inventam heróis, destroem reputações e ressuscitam ilusões. E o pior? Funciona. O algoritmo não julga moralidade, só engajamento. Ele alimenta quem briga, quem discorda, quem compartilha sem pensar. A polarização não é um acaso; é um negócio lucrativo.
Mas onde fica a comunicação nisso tudo? No ideal, deveria ser uma ponte entre o fato e a consciência coletiva, uma luz iluminando o caminho da razão. Mas, na prática, muitas vezes vira um espelho embaçado, refletindo apenas o que cada um quer ver. A mídia, as redes sociais, os discursos políticos, todos aprendendo a coreografia de um balé perigoso, onde a manipulação veste a máscara da verdade e desfila como se fosse ela.
O que nos resta, então? Pensar, questionar, desconfiar. A verdade nunca foi confortável, nem fácil, nem sempre popular. Mas ela existe, ainda que soterrada sob camadas de narrativas bem construídas. O desafio é escavar, separar o joio do trigo, entender que nem tudo que reluz é ouro e que nem tudo que se espalha é real. Porque, no fim das contas, a verdade pode até andar devagar, mas sempre encontra um jeito de chegar.
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Cristina Mesquita é jornalista, cerimonialista e graduada em Direito. Diretora de Comunicação da Associação Brasileira de Profissionais de Cerimonial (ABPC), é coautora do livro ‘Comunicação & Eventos’ e especialista em organização de eventos. Possui MBA em Gestão de Eventos pela ECA-USP.