A (nova) volta às aulas e o 'triângulo da ansiedade' - professor, pais e aluno. Por Viviane Cupello.

Vem aí outra dose de ansiedade no triângulo escolar:

‘Quem será a professora do meu filho?’
‘Meu filho é novo na escola. Vai se adaptar?’
‘Ele ficará na mesma turma dos amigos?’

Quando escrevi esse artigo no início do ano, eram essas algumas das questões, mas, nesse segundo semestre, parece que um novo ano letivo começará. As questões afloraram e novos questionamentos nasceram. Mas, vamos lembrar como era um início de ano com aulas presenciais para, então, entrarmos nas questões dessa nova modalidade de ensino remoto?

No início do ano, é super normal que questões circulem na cabeça dos pais. Às vezes, a inquietação é tamanha que parece impossível esperar o início das aulas para saber as respostas.

Os responsáveis ficam preocupados se a professora vai dar conta da turma, se saberá conduzir a aprendizagem da criança, se a turma vai se comportar, se as crianças ficarão bem na escola, se os alunos novos se adaptarão à rotina, se a escola avisará caso aconteça algo com eles… se… se… se…

Mas, por mais que essas dúvidas tenham vontade de se eternizar na mente, o saudável é confiar.

Geralmente, quando escolhemos a escola, conhecemos o espaço físico, recebemos informações administrativas, entregam-nos o informativo e guia escolar e, também, conversamos com algum responsável pela parte pedagógica da escola.

Então, esses seriam os primeiros passos para a tranquilidade.

Precisamos ter em mente que a escola pode até conhecer nosso filho, caso não seja aluno novo, mas tudo é uma novidade, inclusive para a professora, que, provavelmente, ainda não esteve com ele. Então, deixemos que os primeiros dias aconteçam. É importante irmos conversando com as crianças no retorno para casa e esperarmos o tempo mínimo necessário para a observação da professora sobre a turma.

Se, ainda assim, permanecermos com alguma dúvida, marquemos, então, uma reunião na escola. Usando um canal de transparência e clareza entre ambos (escola e família), com escuta ativa, entendendo que essa parceria é fundamental para estreitar a relação de ajuda (e não de julgamento), uma aliança estará formada. E, acreditemos, o lado mais importante dessa história estará seguro e feliz: o aluno! Afinal, para quem estamos buscando um futuro melhor?

E, por falar nos alunos…

Geralmente, até os 10 anos, as crianças sentem muita saudade da escola. Na espera da volta às aulas, a ansiedade delas está na alegria em rever os amigos e aproveitar as novidades da nova série.

Os pequeninos da Educação Infantil, após o período de adaptação, já aceitam a escola como espaço de acolhida, ludicidade, aprendizagem e socialização.

Já no Ensino Fundamental I, os laços de amizade se fortalecem e a escola passa a ser o local de maior vínculo com esses amigos. Com certeza, algumas dessas amizades se tornarão inesquecíveis e durarão até a maioridade (pode ser até que você, leitor, esteja, nesse momento, se lembrando de um amigo que tenha desde a época dos bancos escolares, não é?).

Como, a cada série, uma nova etapa se consolida, a ideia de que as crianças aprenderão coisas novas (principalmente a ler e a escrever na alfabetização), mudarão de prédio e sala de aula (de segmento, então, geralmente há até troca de uniforme), passarão a usar materiais novos (e às vezes nunca experimentados, como livros e agendas), poderão lanchar com os amigos sem a professora no intervalo do recreio, além de muitas outras novidades, fazendo com que elas contem os dias para esse retorno.

Ao longo do ano letivo, o saldo positivíssimo disso tudo é que as crianças estarão muito mais autônomas, confiantes e seguras para resolver seus desafios diários e aprenderão que as ‘mãos disponíveis’ do adulto estarão sempre ali, dispostas a segurar as delas e a ajudar no que for necessário.

É claro que, nesse período atual de pandemia, quando os ambientes de aprendizagem foram modificados e novas formas de interação foram se tornando indispensáveis, outras relações e ideias para a socialização foram sendo criadas. Muitas emoções foram vividas de forma diferenciada pelas crianças e, talvez, aquela ansiedade do início do ano letivo já não seja mais a mesma. Houve uma grande e forçada adaptação ao virtual para que a aprendizagem continuasse a ter validade. Muitos abismos sociais e cognitivos evidenciaram-se nessa passagem e as crianças sofreram bastante com essa mudança. As oscilações emocionais viraram uma montanha-russa de sentimentos, forçando os alunos, principalmente da Educação Infantil, a ‘exigirem’ mais as mãos dos adultos nesse carrossel de aprendizagem.

A escuta empática e ativa a essas crianças foram, talvez, um dos grandes desafios escolares para que essas vozes estudantis norteassem a melhor forma de manutenção da rotina de estudos, adaptabilidade tecnológica e acessibilidade ao prazer e ludicidade dos conteúdos escolares. Afinal, a aprendizagem torna-se efetiva quando passa pela prática e pela afetividade, de acordo com a realidade. Nesse quesito, a observação constante e o olhar empático do professor foram essenciais para balizamento do processo de ensino e aprendizagem.

Enquanto isso, vamos refletir um pouco sobre a visão dos professores sobre esse retorno…

Provavelmente, você já ouviu relatos de ator em estreia, vendedor buscando metas no prazo, ou de empresário abrindo negócio – e imaginou todos eles ansiosos, certo?

Não é diferente com o professor!

O início das aulas também é de muita expectativa para quem estará à frente do desafio de ensinar os conteúdos da série/matéria à turma. E não importa quanto tempo tenha de experiência ou de formação. Para um professor, todo ano é uma novidade, toda turma é diferente e cada ano traz novos aprendizados.

Sim, porque o professor ensina aprendendo e aprende ensinando. E há uma série de esforços, estudos e dedicação para isso.

A heterogeneidade da turma, como saber lidar com a ansiedade dos responsáveis, entender o medo e dificuldade dos alunos, empatizar-se com esse ‘triângulo escolar’ (professor, aluno e pais), conhecer cada criança/adolescente, traçar um plano de ação coletivo e individual, entender o processo dos estudantes, buscar estratégias para cada um alcançar o objetivo final e saber lidar com as emoções triangulares (dele, do aluno e dos pais), são alguns dos pensamentos que norteiam o docente na volta às aulas. Principalmente no momento pandêmico em que vivemos, aprender a lidar com mudanças bruscas, reinventar-se diariamente, buscando alcançar cada aluno de forma efetiva, sendo não presencial, está sendo, ainda, um dos grandes desafios para os professores. Muito provavelmente, muitos docentes não tiveram bancos universitários que os ensinaram essa forma de ensino, nem necessitaram preocupar-se anteriormente com essa modalidade. Hoje, se não houver reinvenção, não há progresso na educação. Essa ansiedade em como saber lecionar, como gerenciar seu grupo de forma virtual, como avaliar sua turma e alunos, como promover acesso virtual de forma igualitária a todos e como buscar afetividade na frieza de uma tela tecnológica continuam sendo parte dos questionamentos e motivos de ansiedade de cada professor. E, para isso, nem sempre temos respostas.

Educação é um processo. E, como todo processo, passa por erros e acertos. Num momento mundial tão incerto, no qual a própria humanidade e a constituição da sociedade continuam em mudanças e necessidades urgentes, estaremos todos nesse triângulo ansioso, buscando assertividade no processo para a educação.

Quanto mais fortalecido o vínculo entre a comunidade, o docente e a instituição, tendo as partes uma contribuição colaborativa, as inquietações se acalmarão e o rumo é para o sucesso. Sendo todos empáticos com o desenvolvimento humano, o lado de maior expressividade e importância estará sendo bem encaminhado, o dos alunos!

Espero, assim, que o ‘novo ano letivo de 2020’ seja de aprendizados, sucesso, parcerias e humanização. Desejo a todos uma excelente (nova) volta às aulas.

Viviane Cupello é amante da Educação, das Artes e de Pessoas. É professora e pedagoga, especialista em Gestão Escolar e em formação na Gestão de Pessoas. Estudou teatro, sempre foi apaixonada pela escrita, escreve poemas no canal ‘Poetizei Poetizamos’ e tem como um dos propósitos de vida o trabalho social. Atua na Educação há 20 anos: é alfabetizadora, lecionou em turmas da Educação Infantil e Ensino Fundamental I, coordenou o turno Integral e ministrou cursos de Escolarização, Atualização e de Formação para adultos. Fundadora da CAPAS – Ações para Educação, acredita no desenvolvimento humano por meio da Educação.