Que mundo é esse em que vivemos, no qual a cada dia há mais evidências de grosserias contínuas e campo infértil para a comunicação?
Para iniciar a reflexão, de forma mais iluminada, literalmente, trago um pensamento de um dos maiores inventores de todos os tempos, Thomas Edison.
“Em muitas das minhas pesquisas e experiências – que se revelaram um verdadeiro sucesso -, tive de esperar em vão qualquer tipo de retorno que pudesse ajudar o processo de rapidez do meu trabalho. É impressionante como o ser humano não se importa em responder às suas cartas e questionamentos enquanto você não é uma pessoa reconhecida e famosa”.
Ao inserirmos a temática no mundo dos eventos, verificamos que ela ganha, até mesmo maior grandeza nos fluxos comunicacionais que estão associados à atividade. Em todas as suas facetas; na comunicação entre prestadores de serviços, clientes, funcionários, nas relações de prospecção de patrocinadores e apoiadores, e sobretudo, no fluxo informativo para convidados ou participantes.
É notório que vivemos em uma era de infodemia; uma gama avassaladora de informações, dados e narrativas que nos atropelam diariamente graças à proliferação das Tecnologias da Informação e Comunicação, as TICs. Porém, o tempo de cada um de nós não acompanhou esse crescimento vertiginoso e desordenado da velocidade nas relações. Ainda temos só 24 horas por dia, democraticamente presentes no cotidiano de cada um.
Administrar tal inequação tornou-se desafio constante. Há muitos, porque não dizer a maioria, que sofrem da síndrome FOMO, sigla em inglês para fear of missing out ou, em português, “medo de ficar de fora”, que se trata de um fenômeno psicológico que se tornou cada vez mais evidente no contexto do mundo digital, a partir da disseminação de informações instantâneas e globalizadas.
Após a realização do SXSW esse ano, a sigla foi alterada para FOMA, fear of missing anything. Uma total loucura, já que é impossível conseguir acompanhar tudo e todos.
A questão é que esses estados referentes à pós-modernidade estão levando as pessoas a adotar práticas extremamente deselegantes e nada edificantes para a construção saudável de relacionamentos. Um exemplo prático na área de eventos, diz respeito ao processo de RSVP.
Com o objetivo de obter a confirmação de presença de um convidado, para que o anfitrião/organizador possa tomar as devidas providências com relação aos serviços de alimentos e bebidas, providência de lugares à mesa, itens de decoração e registro de homenagens, dentre outros elementos, usamos a técnica chamada RSVP.
A sigla RSVP ou R.S.V.P. – a qual significa répondez s’il vous plaît na língua francesa e “responda, por favor” em língua portuguesa, deve vir sempre acompanhada de um número de WhatsApp, e-mail ou QR Code do cerimonial responsável pelo evento para que o mesmo possa receber a preciosa informação sobre presença ou não do convidado em questão.
Pela indelicadeza de boa parte dos convidados, que não realiza o RSVP passivo, se faz relevante atuar com uma central ativa, com o trabalho de confirmação a cargo da própria organização que emitiu os convites. Essa ação batiza-se de RSVP ativo, incrementando custos nas planilhas operacional e financeira do evento.
Porém, na atualidade, nem isso está sendo eficiente frente à tamanha falta de educação e de empatia dos convidados/participantes, os quais, simplesmente, ignoram tais tentativas de contato.
O mínimo que poderíamos esperar seria uma sinalização, independente de ser positiva ou negativa. A ausência da comunicação diz muito a respeito de uma pessoa, e contribui diretamente para sua imagem profissional ou cidadã. E não podemos esquecer que vivemos intensamente em uma sociedade imagética.
A comunicação como via de mão dupla, para ser eficaz, para ser considerada plena, precisa acontecer nos dois sentidos. E chega a ser difícil o acompanhamento dos cenários atuais, nos quais há tantos meios de nos comunicarmos… e mesmo assim não o fazemos.
Não podemos esquecer que somos seres sociais e devemos preservar nossa essência humana, na qual estabelecer alianças, mesmo que temporárias, nos posicionam como pessoas agregadoras, empáticas e… bem educadas.
Sim, ao final, do que tratamos aqui é sobre educação, respeito e gentileza, o que, tristemente, identificamos estar em processo de extinção. – o que é preocupante demais, já que são alicerces para o bem viver em comunidade.
É preciso reverter tal quadro e o melhor começo é exatamente analisando nosso perfil e identificando como nos enquadramos nesse contexto.
Dependendo da resposta será preciso ações transformadoras… que sempre serão possíveis, já que a evolução é o caminho e o retrocesso jamais será benéfico para ninguém.
Está na hora de sermos mais humanos e não invisibilizar a tentativa do outro. Trate os outros como você gostaria de ser tratado, já nos diz antigo e sábio provérbio popular.
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Andrea Nakane é bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Relações Públicas. Possui especialização em Marketing (ESPM-Rio), em Educação do Ensino Superior (Universidade Anhembi-Morumbi), em Administração e Organização de Eventos (Senac-SP), e Planejamento, Implementação e Gestão da Educação a Distância (UFF). É mestre Hospitalidade pela Universidade Anhembi-Morumbi e doutora em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, com tese focada no ambiente dos eventos de entretenimento ao vivo, construção e gestão de marcas. Registro profissional 3260 / Conrerp2 – São Paulo e Paraná.