A formiga disse ao elefante. Mas, era boato! Por Paula Ribeiro.

O entusiasmo era grande quando a formiga se aproximou e disse: tenho uma coisa para te contar! Alto! Pensou o elefante. Vem aí ‘cusquice’. E emprestou o seu ouvido para atender àquele ato de grande entusiasmo e tamanha generosidade!

O que é que aquela informação contribuiu para a sua felicidade? Nada. Era boato.

O boato. Bo-a-to, que do latim vem como boatus, mugido de boi ou grito forte. No dicionário, não é mais do que uma notícia anónima e não confirmada, que é divulgada no domínio público. Mas o boato tem história e muito que se lhe diga!

A proliferação de boatos é, acima de tudo, um processo que denuncia fragilidade comunicacional, seja esta última institucional ou de outra ordem. O universo da comunicação é vasto e quando estamos perante um diagnóstico de comunicação, descurar falhas instaladas é um erro, quer para quem está a recolher, quer para quem está a fornecer informação útil à definição de uma estratégia de comunicação.

No nosso dia-a-dia, tanto recebemos como transmitimos boatos, meras curiosidades ou ‘cusquices’ da vida do outro, que fazem de nós seres humanos da mais correta índole social. Na verdade, ficamos crentes que só os outros é que são alvo de boatos! A natureza humana tem tanto de ingénua como de perversa! Aquela informação sem fonte exata, secreta ou misteriosa, parece ter o poder de promover a atividade intelectual, aliviar algum estado de ansiedade pontual e até preencher um diálogo vazio de melhor conteúdo. Funciona como antídoto perfeito às nossas próprias fragilidades.

Mas, há boatos que estão longe de ser inofensivos. Em vez disso, são altamente intencionais, funcionam como uma estratégia de ação com vista a um objetivo bem definido. E quem os utiliza, desta forma tão premeditada, sabe muito bem o seu mecanismo de ação.

Na Roma antiga, havia uma prática muito curiosa de diagnóstico de boatos. Os imperadores elegiam alguns dos seus elementos para, de forma dissimulada, se misturarem nas multidões e recolherem os boatos que circulavam nas vozes do povo. Era, através desta informação, que o imperador fazia a avaliação dos estados de alma do seu povo e fabricava um ‘contra-boato’ para o alterar, caso fosse do seu interesse! Ou seja, o controle e a construção de opinião pública a respeito de um determinado assunto, não é coisa dos tempos modernos!

Mas não vale tudo! É preciso ter muito presente que, com o boato, se vai o prestígio de uma instituição ou pessoa. Ridicularizam-na e hostilizam-na. Em situações mais graves, um boato pode mesmo levar à violência, desenvolver estados de ameaça e terror.

Utilizar o boato como estratégia comunicacional de uma empresa, instituição ou pessoa, não só representa um risco, como é algo de pesada dimensão para caber na boa consciência de um bom profissional de comunicação ou de qualquer boa pessoa!

A melhor maneira de ir à noite para os braços de Morfeu é deitar com a consciência tranquila.

Durmam bem!

Abraço.

Paula Ribeiro
Head of Marketing and communication at bloom up