A era dos comunicadores: um novo paradigma na comunicação digital. Por Rosane Gonçalves.

A comunicação sempre foi um elemento essencial na interação humana, mas nunca antes testemunhamos tamanha revolução como a proporcionada pela era digital. Entre as mudanças mais marcantes destaca-se o papel dos comunicadores profissionais – e tecnologias – que emergem como intermediários essenciais na produção, disseminação e consumo de informações em escala global.

O papel dos comunicadores no mundo digital

De acordo com McLuhan (1964), “o meio é a mensagem”, ou seja, os meios de comunicação não apenas transmitem conteúdos, mas também moldam a maneira como as pessoas percebem o mundo. No contexto atual, os comunicadores – sejam jornalistas, influenciadores digitais ou criadores de conteúdo – utilizam plataformas como redes sociais, blogs e podcasts para amplificar suas mensagens, redefinindo as dinâmicas de poder e acesso à informação.

Os comunicadores deixaram de ser apenas emissores passivos e passaram a ser mediadores ativos que interagem com seu público em tempo real. Tal interação gera um ciclo constante de feedback, permitindo que os consumidores de conteúdo participem diretamente do processo de construção da mensagem. Para Castells (2009), isso reflete o conceito de “comunicação em rede”, onde o fluxo de informações é descentralizado e colaborativo.

Impactos tecnológicos e culturais

A era dos comunicadores é marcada pelo avanço das tecnologias digitais que democratizaram o acesso às ferramentas de comunicação. Aplicativos de mensagens instantâneas, plataformas de streaming e redes sociais transformaram cada indivíduo em um potencial comunicador. Como aponta Shirky (2008), “a revolução digital não é sobre acesso à informação, mas sobre a capacidade de criar e disseminar conteúdo”.

Culturalmente, isto resultou na fragmentação do consumo de mídia e na personalização da informação. Os comunicadores, muitas vezes, atuam como curadores, ajudando os usuários a filtrar conteúdos relevantes em meio ao excesso de informações. No entanto, isso também trouxe desafios, como a disseminação de fake news e a polarização das opiniões.

Desafios éticos na era dos comunicadores

A responsabilidade ética dos comunicadores nunca foi tão crucial. Como destacam Kovach e Rosenstiel (2014), “o jornalismo de qualidade baseia-se na busca da verdade e na prestação de contas à sociedade”. No entanto, no cenário digital, onde o alcance e a velocidade frequentemente superam a precisão, é essencial que os comunicadores mantenham um compromisso ético com a veracidade e a imparcialidade.

Além disso, a monetização do conteúdo por meio de algoritmos de publicidade apresenta um dilema: o que é mais importante, a audiência ou a qualidade da informação? Esse questionamento reflete o impacto do “capitalismo de vigilância” (Zuboff, 2019), em que os dados dos usuários são utilizados para moldar as narrativas e influenciar decisões.

Conclusão

A era dos comunicadores representa uma transformação profunda na maneira como nos conectamos e compartilhamos informações. Ao mesmo tempo em que oferece novas oportunidades para a democratização da comunicação, traz desafios éticos e sociais que demandam atenção. Como sociedade, é essencial encontrarmos um equilíbrio entre a liberdade de expressão, a responsabilidade ética e o compromisso com a verdade.

Referências

Castells, M. (2009). Communication Power. Oxford University Press.

Kovach, B., & Rosenstiel, T. (2014). The Elements of Journalism: What Newspeople Should Know and the Public Should Expect. Three Rivers Press.

McLuhan, M. (1964). Understanding Media: The Extensions of Man. McGraw-Hill.

Shirky, C. (2008). Here Comes Everybody: The Power of Organizing Without Organizations. Penguin Press.

Zuboff, S. (2019). The Age of Surveillance Capitalism: The Fight for a Human Future at the New Frontier of Power. PublicAffairs.

Rosane Gonçalves é especialista em Comunicação e Gestão Empresarial. Criadora do projeto “Fale Sem Medo”.