"Somos a Volvo, da Suécia". Acrescente-se: e lá, a sociedade - e não só o baronato da mídia - regula a comunicação.

Este filmete institucional da Volvo, em 2013, é típico exemplo de propaganda institucional. E como também é tipico neste tipo de produção, mostra imagens de automóveis (sem ofertá-los, sem “vendê-los” diretamente) em meio a outras com pessoas em situações não-motorizadas, tem texto (majoritariamente sobre segurança – “marca” da marca, entre as demais, no mundo – em testes independentes) e trilha sonora específicos, e termina com uma assinatura institucional. No Brasil, o filmete que você vê acima – de 1 minuto – teve uma versão de 30 segundos bastante veiculada em TVs por assinatura (os automóveis Volvo não têm preços compatíveis com o público típico da TV aberta) e, diferentemente da Volkswagen – que insiste em falar alemão com os brasileiros (ensinando que lá na Alemanha “O Carro” é “Das Auto”) – “grifa”, no final, a expressão que nomeia este post: – Somos a Volvo, da Suécia (pronunciada pela locutora com um leve sotaque).

Em palestras, também ao longo de 2013, incorporei a Suécia na figura fundadora do “ombudsman”, função profissional criada por lá – no meio do serviço público – para representar o cidadão/contribuinte/usuário/cliente/consumidor , por “dentro” do ente organizacional em que atua junto ao poder decisório (seja um monarca, seja um “board”, seja um diretor). Digo, e repito sempre, que “… escolhemos, mesmo estando no Brasil, esta profissão sueca!”.

O Brasil conhece duas experiências relevantes de “ombudsman”. O, ou “a”, “ombudsman” da Folha de S. Paulo – que faz a crítica do próprio jornal, “por dentro”, ainda em exercício; e a marcante passagem da relações-públicas Vera Giangrande como “ombudsman” do Pão de Açúcar.

Vera Giangrande foi pioneira – aliás, em muitas coisas ela foi “a primeira mulher…”, segundo contou-me seu sócio (na Rede Inform de Comunicação), Carlos Mestieri, quando o entrevistei para o documentário “1 jornalista 10 errepês 100 anos…”, em 2014. Cada loja da rede de supermercados Pão de Açúcar tinha um poster com a foto de Vera Giangrande (aqui reproduzida), com uma inscrição que informava “Eu sou você no Pão de Açúcar. Procure-me.”. Sucesso histórico que me inspira até hoje a advogar para os estudantes de Relações Públicas as qualidades de formação necessárias para assumir tal função, de “ombudsman”, nas organizações (públicas, privadas e do terceiro setor).

Vera Giangrande

Já no trabalho de pesquisa que resultou no livro “100 anos de Relações Públicas no Brasil: rumo à cidadania plena” (do qual sou coautor com Marcelo Ficher, diretor executivo deste OCI), descobri que Eric Carlson – pioneiro professor de Relações Públicas no Brasil (então na EBAP/FGV), na década de 1950, estadunidense naturalizado, era cidadão sueco!

A notícia clipada a seguir reforça a presença de um pensamento civilizatório desejável – em minha opinião – na formação de todo relações-públicas. Como também digo, e repito sempre: “Antes de uma comunicação institucional vem um ‘pensamento institucional’ – e esta é a base filosófica da nossa profissão”: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/como-a-midia-e-regulada-na-suecia/.

Regulamentar os artigos da Constituição Federal de 1988 que dizem respeito a Comunicação e a Cultura é mister mui civilizatório.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).