Caetano Veloso eternizou a pergunta do título em música. E nem havia na época a avalanche de informações e conteúdos que vemos hoje, pelas razões que todos conhecem. Mas agora a questão parece ser outra: quem sabe o que é notícia? Ou melhor, o que distingue uma notícia de outros gêneros literários e estilos de linguagem? Quais são os suas características fundamentais? Gostaria de ver – se alguém conhecer, me avise – uma atualização dos princípios gerais que definem o que é uma notícia.
Vejamos o caso a seguir, no link. Como de praxe, percorro as publicações à disposição em busca de movimento para o nosso Portal. Acesso clippings. E me deparei com essa “notícia” no Portal R7, do grupo Record, atraído pelo termo “Relações Públicas Internacionais” no título da matéria.
Mas… não há matéria! Trata-se de um anúncio que, disfarçado de release, travestiu-se em notícia da editoria de Economia. Indo um pouco mais além, percebe-se a palavra “dino” no endereço eletrônico da publicação.
“Dino” é um portal de distribuição de releases, que são comunicados à imprensa que devem servir aos jornalistas como fonte de potenciais assuntos para o seu trabalho nas redações.
Como chegamos a tamanha mistura de todas as especialidades da comunicação? Já estamos bem acostumados com a convergência de mídias – todas as funções no mesmo aparelho – e estamos engolindo (a fórceps) a multifunção – o mercado não quer saber da nossa formação de base, mas apenas o que sabemos fazer – e que cada um faça tudo o que há para fazer!
Mas o que nós estamos vendo é também uma espécie de convergência de conteúdos: Jornalismo, Marketing, Relações Públicas e Propaganda condensados numa mesma matéria, sem qualquer aviso prévio ao leitor. Desavisado, cliquei lá, acreditando que iria ler sobre algo, mas não havia o que ler.
Nesse caso, havia a percepção nítida do desvirtuamento do gênero, mas há casos em que a estratégia é embutir a propaganda de forma indistinta no texto, uma espécie de merchandising jornalístico. O Observatório da Imprensa tem ótimos artigos sobre estratégias do gênero. Esse assunto precisa vir a público e ser discutido à luz da importância de um Jornalismo mais protegido dos interesses do mercado, porque um dia vamos responder a Caetano que ninguém lê mais notícias. Não pelo excesso, mas por falta de confiança no que está escrito.
Afinal, notícia é para vender ou para informar?