De anteontem, no LinkedIn de Guilherme Ravache:
A queda de tráfego dos principais veículos de notícias na internet é notória e global. No Brasil, Globo, UOL e R7, os três maiores portais de notícias em abril de 2022, perderam 50% do tráfego nos últimos três anos, segundo dados da Comscore.
Nos Estados Unidos e outros países os números se repetem. O resultado tem sido de sucessivos cortes nas redações. Nem os Estados Unidos, país mais rico do mundo, escapa do problema.
Nicholas Thompson, diretor-executivo da “The Atlantic”, disse, em uma reunião no início deste ano, que a centenária publicação deveria partir do pressuposto de que o tráfego proveniente do Google cairia para perto de zero.
Para quem me acompanha há mais tempo, a notícia do sumiço do tráfego do Google, ou Google Zero, não é surpresa. Tenho falado sobre isso há mais de um ano. Mas os números são cada vez mais alarmantes e as demissões têm acelerado.
A IA entrega as respostas prontas e as pessoas não clicam em links e deixam de visitar sites de notícias. A rápida disseminação da IA generativa também acelerou a proliferação de sites de baixa qualidade e feitos somente para enganar o algoritmo do Google. O objetivo não é atender às pessoas, mas ranquear no topo das buscas para fraudar ou faturar com publicidade.
As redes sociais também têm roubado usuários do Google, com o público mais jovem realizando pesquisas dentro do Instagram e TikTok.
Nesta semana o Google anunciou novos cortes de funcionários. Se o Google está cortando na própria carne, não é difícil entender por que o dinheiro que vinha para os produtores de conteúdo também está desaparecendo.
Como a gigante de buscas possui o monopólio de vários setores da internet, tem cada vez mais usado seu tamanho para apertar os parceiros como os editores de notícias.
O efeito Google Zero, com os publishers deixando de receber links do Google e de outras plataformas, é um duro golpe. Mas também pode ser uma oportunidade de discutirmos seriamente a regulação de plataformas, e principalmente, se o jornalismo deve se submeter ao Google e à Meta, ou atender à sociedade.
Clipping dentro do clipping, do mesmo autor, Guilherme Ravache:
O Google é a nova “velha mídia tradicional” (06/12/2023).
Porque as ‘big techs’ são a nova mídia tradicional.
O novo programa de demissões do Google mostra uma crise muito mais profunda e confirma o que descrevi há dois anos na coluna que destaco na imagem deste post.
Nesta semana o Google deu início a mais um amplo programa de demissão voluntárias. Neste ano a empresa trocou as demissões em massa por programas com benefícios, como pagamentos extras, para quem opta por deixar a companhia.
O Google vive uma crise. Por um lado, a IA desmantela o modelo de negócio de buscas; de outro, os jovens fazem cada vez mais buscas no TikTok e Instagram.
Sem muito para mostrar aos acionistas, restou à empresa aumentar os investimentos em IA e cortar custos para entregar mais lucro aos investidores.
Neste ano, as ações da Alphabet (controladora do Google) chegaram a cair mais de 20%. Após o anúncio de resultados do primeiro trimestre, feito em abril, com receita e lucro surpreendentemente altos, as ações se recuperaram consideravelmente, apesar da empresa ainda ter performance inferior ao S&P 500.
Apesar da receita e lucro seguirem crescendo, no início deste ano, o Google realizou novas demissões em massa. Mais dinheiro e mais demissões geraram revolta dos funcionários e uma deterioração na imagem da marca.
A saída foi mudar de estratégia. As demissões em massa foram convertidas em programas de demissão voluntária. Outra prática tem sido cortar posições senior para substituir por pessoas “mais baratas”.
Hoje, vemos a realização do que previ. O Google e outras gigantes de tecnologia se tornaram a nova “velha mídia”: arrogantes, vivendo das glórias do passado, ainda controlando negócios altamente lucrativos, mas precisam se reinventar para seguirem relevantes.
A boa notícia para o Google e outras gigantes de tecnologia que vivem de mídia e entretenimento, é que se a “velha mídia” está encontrando caminhos, eles também podem conseguir.