Nestlé e P&G: o que é atuar sem perspectiva de normalidade.

Deu anteontem no Meio & Mensagem, na matéria de Victória Navarro:

As duas gigantes de bens de consumo adaptam modo de trabalho e campanhas a fim de permanecerem pertinentes em meio ao atual cenário de pandemia.

Vide LINK.

COMENTÁRIO

Eu gostaria de saber como ‘pensa’ a Unilever, a outra gigante dos produtos de consumo diário. Será que se posiciona igual aos seus concorrentes?

Impressiona-me a facilidade como insidiosamente surgem – e são aceitos – discursos doutrinadores de um ‘novo normal’ (que ninguém sabe o que é).

Lockdown, trânsito proibido, empresas fechadas, templos fechados, pessoas sendo presas por caminhar (até sozinhas!), arrecadação de tributos tendendo a zero, governadores e prefeitos querendo ‘garantir’ as perdas de ICMS e ISS com dinheiro federal (nosso) e… todo mundo de máscara! Ninguém mais se vê, ninguém mais se toca, ninguém mais se fala. A vida se resume a delivery, a lives e a teletrabalho (para quem pode optar, bem entendido – aos demais, resta o desemprego, contado aos milhões). Nas emissoras de TV (faturando como nunca com anúncios oportunistas e tão edulcorados quanto enganosos) – em todas elas – a ‘atração’ principal é o ranking diário de casos suspeitos, casos confirmados e mortes (como num ‘quadro de medalhas’; de bronze, de prata e de ouro, respectivamente). O número de pacientes recuperados só aparece quando escapa do copydesk. O mundo – parece – acabou, mas estamos esperando pacientemente (em casa, fique!) – pelo passe para o desembarque.

Matérias ‘conformadas’ e ‘conformantes’ recebidas – de assessorias ‘de imprensa’ – por este O.C.I. na semana passada:

  • Tempo de construir uma nova normalidade. (29/04)
  • O mundo do trabalho nunca mais será o mesmo. (30/04)
  • Aproveite suas milhas em casa! (30/04)

Só uma palavra – para mim – descreve a situação por nós vivida neste momento planetário: ridículo. O solitário desabafo de Vittorio Sgarbi – deputado italiano – acusa o embuste midiático da estatística fúnebre que se irmana à perfeição com a incompetência e a desfaçatez de governantes despreparados – estes sim responsáveis pela falência dos sistemas de saúde em 99% dos países. Critica-se os executivos da hora que se mostram perdidos – o que é verdadeiro – e aplaude-se o ‘controle’ da crise obtido por países sem imprensa livre – que o que controlam, na verdade, é a informação. Ondas de outras doenças – não tratadas agora – virão na esteira do pânico seletivo da Covid-19. E, no Reino Unido, surge a iniciativa que supera o controle não autorizado das ‘aglomerações’ (por GPS de celulares) em vigor no estado de São Paulo: o aplicativo para ser baixado obrigatoriamente para monitoramento individual. Bem-vindo a 1984!

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).