Deu na revista Oeste, em 10/10/2025, na matéria de Amanda Sampaio:
Empresa afirmou que operação na sede, fundada em 1960, vai ser transferida para outras unidades.
Vale muito a pena ler o press release da empresa M. Dias Branco… dando uma notícia… ótima?
COMENTÁRIO
Muito se critica a mídia simpática a governos, a qual edulcora manchetes, tipo “Preço do combustível aumenta menos por conta da redução do ICMS – entenda como isso é bom”. Mas o mesmo senso crítico deve ser empregado quando fatos ruins ocorridos no meio empresarial são igualmente atenuados por narrativas “amigas”, como é o caso desta matéria clipada pelo O.C.I.
OBS.: O “jornalista” que atenua a notícia ruim é o mesmo que, trabalhando em assessoria “de imprensa”, edulcora bombas. Haja psicanálise…
Esta problemática me faz lembrar a abertura de uma fábrica da Renault no Paraná, anos atrás, resultante da decisão de fechar uma outra planta da marca, na Bélgica.
3.000 funcionários belgas perderam o emprego… uma notícia ruim… Mas o noticiário de negócios aplaudiu a medida… Por que? Porque o valor das ações da Renault subiu, globalmente.
OK – vamos considerar que os mesmos 3.000 empregos teriam sido criados no Brasil, o que seria uma notícia boa para o país e os brasileiros empregados.
Mas… sempre tem um mas…
Um metalúrgico belga recebia 3.000 euros por mês, enquanto o brasileiro, à época, não custava mais de 700 reais…
E o Renault Megane fabricado aqui – em vez de lá -, passou a custar menos? A resposta: não. Globalização é isso aí.
Direto ao assunto
Vamos discutir ponto por ponto o press release que “deu a notícia” destaque do nosso clipping para a mídia:
A companhia segue investindo e modernizando… – Sim, e extinguindo empregos.
Desde que a Companhia adquiriu a fábrica ora fechada, investiu… – Sim, mas agora deixou de investir e fechou.
Sempre ciente de sua responsabilidade social em relação ao Município… – OK, agora não mais.
Essa iniciativa se insere no processo planejado de otimização… – Blá, blá, blá…
A empresa reconhece a importância de seus colaboradores… – Blá, blá, blá…
O exercício do jornalismo requer apego à verdade factual. E o exercício de relações públicas, também, tanto em comunicados externos quanto internos. Não há como escolher palavras para tornar uma notícia ruim em algo bom. Seria melhor reportar-se a fatos e não a “boas intenções” passadas – como foi feito no texto distribuído à imprensa.
Se a empresa demitiu e fechou, é ridículo mencionar termos como “otimização”, “reconhecimento da importância dos colaboradores”, “responsabilidade social” em comunicados. Seria mais adequado usar um tom sóbrio e não disfarçar a má notícia.
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Manoel Marcondes Neto é relações-públicas, cofundador e diretor-presidente do Observatório da Comunicação Institucional.