ESCÂNDALO! Patrões querem inverter TUDO no mercado da Comunicação. E quem perece é o profissional da área.

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Deu no Meio&Mensagem, em 19/05 último – http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/noticias/2015/05/19/Infoglobo-cria-area-de-publicidade-nativa.html.

Inverter talvez seja uma palavra branda demais. Subverter fica melhor, pois segundo o Dicionário inFormal, na web, subverter significa: perverter; perturbar; desordenar; corromper; sublevar; conturbar; convulsionar; tumultuar.

Há cerca de um mês, o mesmo Meio&Mensagem noticiava que, para Miles Young, da Ogilvy, as agências de propaganda passariam a ser “publishers” (https://observatoriodacomunicacao.org.br/clippings/agencias-de-propaganda-vao-virar-publishers/).

Agora, a vez do Grupo Globo (via Infoglobo) – “publisher” por excelência, em todos os media –, vir a público e anunciar atividades de agência…

Parece que não só o nosso país, mas o mundo, resolveu descumprir leis e boas práticas – sedimentadas há anos. No caso do Brasil, ainda estão em vigor as leis 4.680/1965 (da propaganda), 5.377/1967 (das relações públicas) e 4.117/1962 (Código Brasileiro de Telecomunicações).

Não se trata de saudosismo e apego a estruturas do passado. Mas à divisão racional e – mais importante – ética – do trabalho no nosso setor.

Por que será que os “patrões da mídia” (em veículos, agências e, também, nos anunciantes) se interessam pela “modernização” (ou extinção) de algumas leis apenas? Por que será que querem o fim das leis de 1965 e de 1967, mas jamais tocam – na verdade, consideram intocável – o nosso “marco regulatório” do setor, de 1962, que – aliás – nem esta alcunha tem ou merece?

Os profissionais da comunicação – jornalistas, radialistas, publicitários e relações-públicas – precisam unir-se para tratar dessas questões. Talvez fora de suas entidades, num “supra movimento” pela área. O fim da exigência do diploma de nível superior para o exercício do Jornalismo e da Lei de Imprensa (com o fundamental instituto do direito de resposta) – ambas iniciativas do patronato – demonstram que a “lógica do mercado” não tem sido a da meritocracia (o “mérito” sempre é invocado para justificar abusos e desvios das prescrições legais), mas a do abuso do poder econômico. Simplesmente isto.

Quando mídia se torna agência e agência (que só existe em função da mídia) quer tornar-se “publisher”, só um segmento perece: o dos comunicadores profissionais.

O apelido “nativa” para tal publicidade (sem agência de publicidade) acaba sendo um batismo perfeito para a coisa: voltamos à era do tacape na comunicação.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).