Deu em 06/05/2019 no Jornal Notícias de Coimbra de Portugal, na seção ‘Notícias de Coimbra’:
Através de financiamentos da União Europeia, projeto YPACK reúne diferentes segmentos em prol do desenvolvimento de embalagens biodegradáveis e mais seguras para os alimentos.
COMENTÁRIO
Estabelecer estratégias relacionadas diretamente com problemas atuais da sociedade possibilita que uma marca possa reinventar-se a longo prazo, dialogando com um consumidor mais engajado em causas sociais e ambientais. O projeto YPACK, cofinanciado pelo programa Horizonte 2020 da União Europeia, tem como única representante do retalho português a marca Continente, surpreendendo pela iniciativa benéfica tanto para o consumidor quanto para a própria imagem da organização. O seu trabalho é muito mais que a criatividade para sensibilização do público-alvo, mas é entregar e retribuir para a sociedade, através de estratégias lucrativas no desenvolvimento do negócio.
Por meio do projeto YPACK a marca está conseguindo implementar estratégias visando a reutilização de matéria-prima para produção de embalagens, reduzindo o tempo de degradação do material no meio ambiente e de desperdícios, aplicando por meio de seus produtos de Marca Branca. Em paralelo ao que vem sendo apresentado pelo governo brasileiro, a UE tem reunido esforços pensando na construção de um futuro melhor. Com políticas cada vez mais rígidas as empresas que utilizam plástico em materiais descartáveis, organizações privadas também estão tomando posicionamento quanto as suas responsabilidades no mercado. Sim, não podemos negar que tais ações também são reflexo de uma estratégia mercadológica e comunicacional com seus stakeholders, mas é inegável a necessidade de um pensamento crítico sobre a questão do meio ambiente e o seu futuro.
Longe dos holofotes, muitas organizações podem contribuir para a sociedade de forma efetiva, ou seja, entregando valores consideráveis a médio e longo prazo. Pensar somente na sustentabilidade de uma marca é estar vinculado à construção de soluções que também permitam a sustentabilidade dos recursos sociais e naturais de uma sociedade. Agir de forma isolada no mercado está cada vez mais fora de moda. A onda que deve ser surfada tanto para os governos quanto para as organizações permeia-se pelo engajamento de ambas.
Segundo pesquisas desenvolvidas pelo Havas Group em 2019, 75% das pessoas esperam que as marcas contribuam para melhorar a qualidade de vida e bem-estar; em paralelo, 80% das marcas acreditam que realizam um bom trabalho de meaningful brands (que engloba os benefícios entregues pela marca, o seu impacto individual e a contribuição para a sociedade; pilares que são aplicados na pesquisa do grupo). O irônico da alta porcentagem de marcas que se autoavaliam como boas em criar valor compartilhado, é perceptível por apenas 8% dos consumidores.
Assumir as atividades de valor compartilhado é saber posicionar-se no mercado, assumindo riscos de altos investimentos, acreditando no papel da empresa como produtora de novas mensagens e de conteúdo – caminho na qual se possa plantar sementes do desenvolvimento social e urbano, formando um novo modelo de consumidor, mais interessado em questões sociais, mais engajado com causas ambientais e humanas.
Para as empresas que nunca haviam pensado nesta possibilidade, fica o convite para experimentar a possibilidade de poder entregar muito mais que do já estão entregando, muito mais que o mero retorno sobre investimentos aplicados em megacampanhas digitais ou em veículos de massa, mas uma entrega humana, ambiental, verdadeira e transformadora.
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Caroline Kalil Reimann é publicitária com especialização em Comunicação Corporativa pela ESPM-Sul e mestranda em Marketing pela Universidade de Coimbra, Portugal.