Ontem, no Instagram de Silvio Grimaldo:
A mídia de massa ocidental é extraordinariamente eficaz em promover, no público em geral, enorme simpatia por crenças e práticas que estão em desacordo com o Evangelho: por exemplo, aborto, estilo de vida homossexual, eutanásia. A religião é, na melhor das hipóteses, tolerada pela mídia de massa como algo dócil e pitoresco quando não se opõe ativamente a posições sobre questões éticas que a mídia abraçou como suas. No entanto, quando vozes religiosas se levantam em oposição a essas posições, a mídia de massa pode mirar na religião, rotulando-a como ideológica e insensível em relação às chamadas necessidades vitais das pessoas no mundo contemporâneo.
A simpatia por escolhas de estilo de vida anticristãs que a mídia de massa fomenta é tão brilhante e artisticamente arraigada no público que, quando as pessoas ouvem a mensagem cristã, ela muitas vezes parece, inevitavelmente, ideológica e emocionalmente cruel em contraste com a ostensiva humanidade da perspectiva anticristã. Pastores católicos que pregam contra a legalização do aborto ou a redefinição do casamento são retratados como sendo ideologicamente motivados, severos e indiferentes – não por causa de algo que eles dizem ou fazem, mas porque suas audiências contrastam sua mensagem com os tons simpáticos e cuidadosos das imagens produzidas pela mídia de seres humanos que, por estarem presos em situações de vida moralmente complexas, optam por escolhas que são feitas para parecerem saudáveis e boas.
Observe, por exemplo, como famílias alternativas, compostas por parceiros do mesmo sexo e seus filhos adotivos, são tão benignamente e simpaticamente retratadas em programas de televisão e cinema hoje. Se a nova evangelização vai combater com sucesso essas distorções da realidade religiosa e ética produzidas pela mídia de massa, pastores, pregadores, professores e catequistas terão que se informar muito mais sobre o contexto da evangelização em um mundo dominado pela mídia de massa.
Os Padres da Igreja ofereceram uma resposta formidável àquelas forças literárias e retóricas não-cristãs e anticristãs em ação por todo o Império Romano, moldando as imaginações religiosas e éticas da época. As Confissões de Santo Agostinho, com sua imagem central do cor inquietum, moldaram a maneira como cristãos e não-cristãos ocidentais reimaginam a aventura da conversão religiosa. Em sua Cidade de Deus, Agostinho usou a história do encontro de Alexandre, o Grande, com um pirata capturado para ironizar a suposta legitimidade moral do Império Romano.
Padres da Igreja, entre eles João Crisóstomo, Ambrósio, Leão Magno, Gregório de Nissa, não eram grandes retóricos na medida em que eram grandes pregadores. Eram grandes pregadores porque primeiro foram grandes retóricos. Em outras palavras, sua evangelização foi bem-sucedida em grande parte porque eles compreenderam os fundamentos da comunicação social apropriados ao mundo em que viviam. Consequentemente, compreenderam com enorme precisão as técnicas pelas quais as imaginações religiosas e éticas populares de sua época eram manipuladas pelos centros de poder secular naquele mundo.
Além disso, a Igreja deve resistir à tentação de acreditar que pode competir com a mídia de massa moderna transformando a liturgia sagrada em espetáculo. Aqui, novamente, Padres da Igreja como Tertuliano nos lembram hoje que o espetáculo visual é domínio do saeculum, e que nossa missão própria é introduzir as pessoas à natureza do mistério como antídoto ao espetáculo.
Como consequência, a evangelização no mundo moderno deve encontrar os meios apropriados para redirecionar a atenção pública do espetáculo para o mistério.
– Papa Leão XIV, quando ainda era Bispo, durante o sínodo da Nova Evangelização em 2012.
COMENTÁRIO
Dissolução em marcha.
Observador da mídia desde sempre – escolhi cursar Comunicação aos 18 anos, em 1976 – constato o plano inclinado moral e ético posto em prática diante de nossos olhos e ouvidos.
Produtores vêm, há décadas, erodindo valores caros à família brasileira, majoritariamente cristã e conservadora. A Globo já foi conservadora, como foram Tupi e SBT. Genericamente, quem testou limites mais “criativos” foram Record, antes da Igreja Universal (Família Trapo), a Bandeirantes (TV da Tribo e Perdidos na Noite) e a Manchete (Pantanal e Dona Beja).
Jornalistas e publicitários – meus colegas – (de)formados por professores marxistas e frankfurtianos, também vieram, ano após ano, “avançando”. Compare-se, por exemplo, uma edição completa do programa Fantástico, em seu início, com uma atual. A decadência é brutal.
Os textos e as imagens “evoluíram” de modo a esgarçar o véu do senso comum e a “normalizar” condutas antes imorais e inaceitáveis.
Programação infantil – que antes havia -, simplesmente deixou de existir, “condenada por inocência”. Vila Sésamo, coprodução “nacionalizada” por bem sucedida parceria Globo-Cultura (depois repisada na primeira produção do Sítio do Pica-Pau Amarelo são casos exemplares.
Babá eletrônica.
Na minha adolescência (de 1972 a 1975), vivida em São Paulo, meus pais diziam aos nossos parentes cariocas: “lá em SP, vocês podem deixar a TV ligada na Cultura o dia todo porque só tem coisa boa”.
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Manoel Marcondes Neto, cofundador e diretor-presidente do Observatório da Comunicação Institucional.