Jornalismo e Propaganda: quem mais sofre com a onda atual de falsas notícias?

Clipamos o tópico levantado pela jornalista Cristina de Luca, em seu Blog Porta 23 – no UOL, em 30 de junho último:

LINK – https://porta23.blogosfera.uol.com.br/2018/06/30/precisamos-falar-mais-das-fake-news-e-da-publicidade-digital-nas-eleicoes/

COMENTÁRIO

Se o DNA randômico da internet é sua graça, o mesmo DNA randômico é sua desgraça. E mais: quem lê tanta notícia?

Meus alunos – de Administração, Contabilidade e Economia (valia a pena fazer esta pesquisa na FEA-USP) – não lêem jornais. Nem no smartphone. Há exceções – mas são justamente os que vão trabalhar nas cem mais do Boletim Focus.

Uma lida paciente na sempre caleidoscópica edição semanal do ‘Meio&Mensagem’ dá conta de que o setor da propaganda não está nem aí para a crise, mesmo sendo o setor que banca o jornalismo. Navega na contramão de Fux, MP et al. Ali, em pleno ‘frenesi digital’, cool-analfabetos bem nascidos que estudam nas – fracas – faculdades de comunicação (labutei 24 anos nelas) querem é mais algoritmos, mais mídia ‘programática’.

Sob platitudes que seus líderes ‘do meio’ repetem como mantra, sorriem e aplaudem-se mutuamente sem entender lhufas de cibernética para além da condição de ‘usuários’, ‘nerds’, ‘descolados’, ‘geeks’ etc.

A maldição do ‘mais-com-menos’ (mantra das grandes consultorias, onde também tive a oportunidade de trabalhar por oito anos) é o contraponto mortal de qualquer esforço de jornais, de agências de ‘fact checking’ e justiça eleitoral. Por que? Por se precisa de gente. Muita gente. E gente muito boa e não barata. Numa expressão: investimento em salários – coisa que os capitães da ‘news industry’ não querem nem ouvir falar.

Pós-verdade

As duas grandes áreas – Jornalismo e Propaganda – estão igualmente afetadas pelo fenômeno das falsas notícias (e não ‘notícias falsas’, pois tais inverdades notícias não são): os incautos (e estes são maioria absoluta dos eleitores brasileiros) acham que o que fazem os sites sujos é jornalismo. Leem, curtem e compartilham intensamente. E os grandes da ‘mídia programática’ (praga para a qual ninguém tem solução, nem o ‘todo-poderoso’ Fux), tratam como ‘propaganda’ quaisquer ‘dez-real’ que ‘impulsionam’ o conteúdo (seja a gororoba que for).

O documentário ‘Fake News: baseado em fatos reais’ demonstrou, em setembro do ano passado; não são ‘hackers russos’, ou a FSB (ex-KGB), ou Putin, ‘o problema’, o problema é o ‘mecanismo-díade’ Google-Facebook, algo tão americano quanto o dólar e Donald Trump. O efeito nefasto do binômio motor de busca + rede social, por lá, foi nulo porque Trump não teve mais votos que sua oponente (na verdade, teve 3 milhões votos menos que Hillary Clinton) e foi ‘eleito’ pelo maçônico colégio eleitoral dos EUA. Aqui, com voto obrigatório, analfabetos funcionais, cidadania disfuncional e a díade diabólica rodando solta, ‘o’ dano eleitoral pode, sim, dar-se. E – com qualquer resultado – lá vamos nós parar sob recursos na OEA, ONU e Haia. Quem viver verá.

Sobre Marcondes Neto

Bacharel em Relações Públicas pelo IPCS/UERJ. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP, sob a orientação de Margarida Kunsch. Professor e pesquisador da Faculdade de Administração e Finanças da UERJ. Editor do website rrpp.com.br. Secretário-geral do Conrerp / 1a. Região (2010-2012).