A ressignificação dos hábitos de consumo da chamada geração Alfa (Generation Alpha) e a influência da tecnologia na construção do consumidor do futuro.
Dentre todos os modelos de relações sociais influenciadas pelo avanço da tecnologia, as relações de consumo são, sem dúvida, as que sofreram maior impacto ao longo dos anos. A mudança que ocorreu de forma globalizada e generalizada não levou em conta diferenças sócio-culturais, étnicas ou econômicas mas, sim, o incremento tecnológico disponibilizado a cada indivíduo e construiu o que chamamos de “modelo cognitivo do consumo”. A quantidade de informações disponíveis sobre determinados produtos e, neste sentido, a força das chamadas redes e mídias sociais do contexto, configuram um novo papel mais passivo ao consumidor, incapaz de inferir racionalmente sobre o produto e influenciado pelas percepções emocionais disparadas pela comunicação digital.
A revolução da tecnologia da informação iniciada com a chegada dos primeiros computadores na década de 1960 abriu as portas para um mundo do consumo controlado muito mais pelos artefatos da tecnologia e deu origem ao estudo das gerações. Assim, os indivíduos tiveram suas características comportamentais definidas de acordo com a década de nascimento e, em igual proporção, as empresas passaram a definir suas estratégias de produto e mercado a partir do olhar das gerações, quais sejam Baby-Boomers, X, Y, Z, Alpha.
As redes sociais ocupam um papel fundamental neste cenário, pois conseguem construir um modelo de pertencimento próprio de cada geração, ditam regras de consumo, criam novas relações de valor e definem muitas vezes os interesses futuros destas gerações.
Os indivíduos que antecedem à Geração Z mantinham uma relação de consumo muito mais focada no “ter” e no “que posso fazer para ter”. Tal modelo de comportamento ditava as normas do trabalho, do comportamento social e até mesmo familiar. Os indivíduos bem sucedidos “tinham” emprego, carro zero, imóvel e uma família. Este modelo perdeu totalmente o sentido com a chegada das gerações nascidas no turbilhão tecnológico, onde o “parecer” fala mais alto que o “ser” e o “experimentar” fala mais alto que o “ter”.
No conceito básico do materialismo filosófico a concepção de realidade acontece a partir do reconhecimento da realidade concreta, aquela que existe fora do pensamento humano e de forma independente dele. Nas novas gerações a percepção da realidade é moldada pelo mundo digital, o que – nesse caso – não é uma extensão, mas a própria realidade.
Até que ponto cada nova geração tem a capacidade de abstrair o que de fato é real quando se propõe a consumir? Isso explicaria o motivo pelo qual as crianças e pré-adolescentes têm mais desejos de consumo ligados a artefatos tecnológicos, tais como celulares de última geração do que carros e viagens, por exemplo? Se são mais ligados à experiência, por que a experiência de dirigir um carro de última geração impressiona menos do que usar os super recursos de um celular ou computador? Se para as gerações Z e Alfa a experiência tem papel fundamental numa decisão, por que as experiências proporcionadas pelo mundo material não exercem o mesmo fascínio das experiências imateriais (digitais) dos celulares?
De que forma as organizações têm (ou não) pautado suas iniciativas com um olhar mais atento para esta (Alpha) que é a geração do futuro, que já nasceu no século XXI, e para a qual a realidade tecnológica e virtual é a única conhecida… Uma geração que valoriza as interações online mais do que as pessoais e que, mesmo em grupo, se alimenta das experiências sensoriais proporcionadas pelas telas dos celulares ou tablets.
Não raro vemos as crianças nascidas a partir de 2010 com um olhar muito mais aguçado para tecnologia, não somente no afã de consumir informação, como era caraterístico de sua geração anterior, a Z, onde o mais importante era manter-se conectado, mas no intuito de saber como as coisas são, como elas funcionam, daí a necessidade de interação constante com a tela, seja através de “gamificação”, seja através de conteúdos interativos e/ou responsivos.
Para os nativos digitais, diferentemente das outras gerações, o mundo digital não é uma extensão da realidade, mas a própria realidade, e isto define a forma como se relacionam com o mercado e como escolhem e compram produtos.
A Geração Alfa, moldada pelo avanço tecnológico, redefine padrões de consumo e impõe às empresas a necessidade de adaptar suas estratégias para atender a um público que prioriza experiências digitais, inovação e propósito. Esse movimento ressalta a importância de equilibrar o digital com interações humanas autênticas, garantindo que a evolução tecnológica não comprometa valores sociais e emocionais fundamentais.
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Sol Oliveira é relações-públicas com especialização em Marketing. Gestora de Comunicação Corporativa e Marketing em empresas de segmentos diversos, professora universitária e palestrante em temas ligados a Branding, Cultura Corporativa, Mídias Sociais e Identidade Corporativa.