Vamos superar esse momento? Por Luiza Vaz.

‘Vamos superar esse momento ou vamos vivê-lo’? É um questionamento simples, mas curioso e que a maioria poderia logo responder que ‘sim vamos superá-lo’. Ou teria aqueles pessimistas que diriam ‘não, não vamos superar’. Mas, assistindo a uma palestra da coach e pintora peruana Tania Mujica tive outra percepção dessa pergunta. Ela alertou que muitos quando dizem isso se referem ao desejo de excluir, deletar esse momento da sua vida, memória e história. Mas, a questão é que é preciso viver esse período, por mais difícil que seja, para construir o futuro.

As fases difíceis sempre virão, mesmo que se faça de tudo para evitá-las. Por exemplo: quem diria há 3 meses que estaríamos vivendo a terceira guerra mundial contra um vírus que nos obriga a se isolar em casa? Acho que ninguém. Não tem como ignorar o que estamos passando. E nem mesmo como deletar esse período da história. Nós apagamos a Primeira e Segunda Guerra? Ou aprendemos com elas de alguma forma?

Ainda não existe um aparelho que apaga certos períodos de nossa vida como no filme ‘Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças’ (com Jim Carrey) e nem um controle remoto mágico para passar rápido certos episódios difíceis como no longa ‘Click’ (com Adam Sandler). Também não existe uma máquina capaz de congelar corpos para que possamos viver eternamente como em ‘Eternamente Jovem’ (com o Mel Gibson, de 1992) e nem em Passageiros (com a Jennifer Lawrence, de 2016). A vida não é um filme, infelizmente ou felizmente.

Em paralelo, o mundo continua mudando e mudando. Como dizia Zygmunt Bauman estamos em um mundo líquido. Aquele mundo que muda de forma rápida e constante. Por isso, que se ficássemos tanto tempo fora da sociedade ou se deletássemos os momentos da nossa memória, teríamos dificuldade de entender e viver em sociedade. É só lembrar que há 11 anos não existia WhatsApp. E hoje, nós não vivemos um dia, ou até 30 minutos sem olhar o aplicativo. Há 20 anos, não usávamos muito sites de busca, como Google. Há 19 anos, surgiu o iPod. Há 17, o Skype. Há 16, o Facebook. Há 15, o Google Maps. Há 13, os smartphones. Há 10, o Instagram e o Uber. Há 9, o iFood. A mudança continua com aparecimento de impressora 3D, carro sem motorista, pagamento por reconhecimento facial, entregas por drones…

Bauman já falava em ‘chamar de modernidade líquida a crescente convicção de que a mudança é a única coisa permanente e a incerteza, a única certeza’. E a frase que remete a teoria de Charles Darwin complementa: ‘Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças’. Não é à toa que, atualmente, fala-se tanto em educação continuada ou que precisávamos estar abertos ao novo.

Então, ‘vamos viver ou superar esse momento’? Por que não os dois? Vamos viver e superá-lo. Pois quem não vive, não muda, não aprende, não se atualiza e não se adapta a nova realidade do ‘mundo líquido’. A consequência de resistir pode ser deixar de existir ou ser superado por uma espécie mais forte ou que soube viver esse período e aprender com ele. Que tal superar com inteligência esse momento?

Luiza Vaz é jornalista graduada pelo Centro Universitário Uniceub, de Brasília e pós-graduada em jornalismo esportivo pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), de São Paulo. Nos últimos anos tem trabalhado com assessoria de imprensa e marketing de distribuidoras e exibidores de cinema multinacionais.