Saúde mental, de Trieste até a campanha 'janeiro branco'. Por Laize Barros.

A campanha ‘janeiro branco’ e o tema da redação do Enem de 2021 me lembraram da história do Movimento da Reforma Psiquiátrica. Movimento do qual participei no início de minha trajetória profissional como psicóloga.

A campanha ‘janeiro branco’ visa diminuir o estigma e os preconceitos e sensibilizar a todos sobre questões relacionadas à Saúde Mental de pessoas e instituições sociais.

A visão moderna de saúde mental – como um bem estar psíquico, físico e social – é fruto de uma luta de psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, pacientes e da sociedade civil organizada.

Hoje os tratamentos são mais humanizados, os grandes manicômios segregadores e violentos foram extintos e novos medicamentos permitem uma vida mais adaptável.

A história da Psiquiatria nos mostra que devemos todos estes ganhos ao triunfo da Reforma Psiquiátrica iniciada em 1961, em Trieste.

Senta que lá vem a história…

Tudo começou no movimento de luta antimanicomial pelo médico e psiquiatra Franco Basaglia, em 1961. Ele reforma o hospital psiquiátrico em Trieste e o torna uma comunidade terapêutica com o objetivo de humanizar o tratamento das pessoas com transtornos mentais.

Ele inaugura um sistema de atendimento em redes por território que hoje é padrão em cidades brasileiras e ao redor do mundo.

Em Trieste, Itália, houve a substituição do tratamento hospitalar e manicomial por uma rede territorial de atendimento com serviços de atenção comunitários, emergências psiquiátricas em hospital geral, cooperativas de trabalho protegido, centros de convivência e moradias assistidas.

Este modelo foi reconhecido pela OMS em 1973 como referência para assistência em Saúde Mental.

Todo o modelo de atendimento em Saúde Mental passa a ser questionado e nasce uma proposta de Reforma Psiquiátrica.

No Brasil, na década de 1970, o movimento para uma Reforma Psiquiátrica ganha força com abertura política e começam esboços de novas Políticas de Saúde Mental.

O Hospital Psiquiátrico e Manicômio Judiciário do Juqueri, em Franco da Rocha, SP, é dirigido por psiquiatras adeptos da Reforma Psiquiátrica, assim como Ambulatórios de Saúde Mental da rede de atendimento de São Paulo tem em seu quadro dirigentes e especialistas que defendem atendimentos mais humanizados.

A psiquiatra baiana Nise da Silveira (1905-1999) teve papel fundamental na mudança para melhor de tratamentos psiquiátricos com o uso, de forma pioneira, de arte terapia. É reconhecida mundialmente pela criação do Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro. Foi aluna de Carl Jung.

Arthur Bispo do Rosário foi um artista brasileiro que passou 50 anos confinado no sótão de uma instituição psiquiátrica. Sua arte, que ele via como uma jornada espiritual e não como produto de pura criatividade, provou ser sua salvação.

Muitos e muitos anos depois, em 2001, é aprovada a Lei Federal 10.216 – que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.

Em meados da década de 1980, são inaugurados os CAPSs – sigla de Centro de Atenção Psicossocial – alinhados a toda uma rede de apoio UBS e Hospitais Gerais.

Ainda há muito o que pesquisar e melhorar em tratamentos e compreensão dos transtornos mentais, mas os avanços são incontestáveis.

Para você que tem interesse no tema e quer saber mais, vale a pena conhecer:

– o sítio da campanha janeiro branco: https://janeirobranco.com.br/

– assistir ao filme produzido sobre a vida de Nise da Silveira, com Glória Pires no papel da psiquiatra, e ao documentário sobre o Museu das Imagens do Inconsciente- Imagens do

– e ler alguns livros que desvendam a história da psiquiatria:

‘Reforma Psiquiátrica. Contra o pessimismo da razão, o otimismo da prática’. Franco Basaglia.

‘Manicômios, prisões e conventos’, de Erving Goffman e ‘História da loucura’, de Michel Foucault são dois livros super-importantes sobre este tema.

‘O século dos manicômios’, ‘Os nomes da loucura’, ‘Sobre a teoria da loucura no século XX’. Três livros do psicólogo e professor pesquisador paulista Isaias Pessotti, hoje com 87 anos.

Sou Laize de Barros. Ajudo pessoas a criar futuros possíveis. Se você quer saber mais sobre como alinhar sua história de vida à criação de um projeto de vida e carreira, me procure para mentorias. Sou psicóloga e Mestre em Educação (USP), professora universitária e facilitadora certificada para uso de ferramentas de diálogo. Nas horas vagas, padeira e escritora de histórias de vida, as minhas e as que espio nas janelas da vida.