Por trás de uma imagem cuidadosamente construída ao longo dos anos, feita de chocolates de alta qualidade, histórias de superação e expansão de franquias, a Cacau Show, uma das maiores marcas do país, enfrenta agora um desafio diferente. O ruído interno. Reportagem recente do portal Metrópoles trouxe à tona denúncias de franqueados que comparam a cultura da empresa a uma “seita”, apontando práticas internas que teriam mais a ver com doutrinação do que com gestão profissional.
Os relatos contrariam diretamente o slogan da empresa, “Aqui é fácil fazer alguém feliz”, pois expõem um ambiente onde o diálogo e a satisfação dos parceiros parecem comprometidos.
As acusações vão além de meras divergências comerciais. Relatos falam de encontros com música alta e discursos emocionais, num tom quase litúrgico, onde o pensamento positivo é regra e o questionamento, exceção. Para alguns, o espaço para o diálogo parece cada vez mais estreito, especialmente quando se tenta discutir cláusulas contratuais ou aumentos inesperados nos preços dos produtos.
E aí surge um ponto importante: a comunicação. Mais do que slogans ou campanhas de marketing, é a comunicação transparente que sustenta a confiança, especialmente em redes de franquias, onde o sucesso depende da harmonia entre a marca e seus representantes. Quando essa ponte se quebra, o que resta é ruído. E em tempos digitais, esse ruído reverbera mais rápido do que nunca.
A situação relatada por alguns franqueados é preocupante. Eles afirmam que, ao sinalizarem insatisfação, passaram a receber mercadorias com validade próxima do vencimento ou produtos de difícil comercialização, o que impacta diretamente na saúde financeira de suas unidades. Alguns recorreram à Justiça, enfrentando, segundo relatos, uma retaliação velada, com restrições de crédito e imposições que, segundo o entendimento de um juiz da 25a. Vara Cível de Brasília, violariam a liberdade profissional.
A empresa, até o momento, não se pronunciou oficialmente sobre as denúncias. Mas o silêncio, em momentos assim, pesa. A ausência de resposta pode ser interpretada como descaso ou, pior, como confirmação tácita de práticas questionáveis.
Por isso, a postura do CEO Alexandre Tadeu da Costa, conhecido como Alê Costa, torna-se fundamental nesse momento. Uma resposta rápida, transparente e com linguagem não violenta é o mínimo que se espera diante da gravidade das acusações. É papel da liderança dar o exemplo, demonstrar disposição para ouvir e, se necessário, corrigir rotas. A negação ou omissão apenas agravam o cenário, alimentando a desconfiança e enfraquecendo o elo com os parceiros da marca.
Este episódio da Cacau Show não deve ser visto apenas como um problema isolado. Ele traz à tona uma discussão maior e urgente. A importância de uma comunicação interna clara, respeitosa e, sobretudo, transparente. Empresas que apostam apenas no brilho da marca e esquecem o pulso de sua base correm o risco de construir castelos sobre areia.
A comunicação corporativa, quando bem feita, não é sobre propaganda. É sobre escuta. É sobre criar espaços seguros onde colaboradores e parceiros possam apontar falhas sem medo. Porque a crise não começa quando as denúncias vêm à tona. Ela começa bem antes, quando alguém, lá dentro, tentou falar… e ninguém quis ouvir.
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Cristina Mesquita é jornalista, cerimonialista e graduada em Direito. Diretora de Comunicação da Associação Brasileira de Profissionais de Cerimonial (ABPC), é coautora do livro ‘Comunicação & Eventos’ e especialista em organização de eventos. Possui MBA em Gestão de Eventos pela ECA-USP.