Problema de escola. Por Adalberto Piotto.

Vou usar o modelo de “problema” escolar, que todos aprendemos a resolver ainda nos primeiros anos da escola básica, para tentar explicar mais um barulho político que faz o Brasil e os brasileiros perderem tempo.

Vamos lá!

No país A, uma potência econômica emergente, surge um vírus desconhecido que se revelou, com o tempo, muito complexo na sua estrutura biológica e complexidade que tanto pode assombrar os médicos, por ser letal, como ser simples, por ter milhões de pacientes infectados assintomáticos.

No mesmo país A, a epidemia avança e gera graves problemas de saúde e na economia. Como não foi isolado do mundo pelas autoridades de saúde internacionais, a epidemia local se transforma numa pandemia global sem precedentes, que leva milhões à morte e paralisa a economia. Como o país A também é o principal fornecedor de suprimentos para várias cadeias globais de fábricas de vários setores, as consequências se alastram por quase todos os países.

Diante da crise sanitária e econômica, uma corrida pela vacina começa em todos os cantos do planeta, numa mobilização imensa em intensidade e recursos.

O país B é uma potência econômica estabelecida há décadas, a nação mais rica e desenvolvida do globo e, consequentemente, com a maioria das mais sofisticadas escolas, universidades, centros de pesquisas e com acesso aos profissionais mais qualificados do mundo. E tem em seu território empresas e empresários com enorme tradição de investimento pesado e parceria com academias de ciências de todas as disciplinas.

O país B é altamente atingido pela pandemia, com centenas de milhares de mortos e infectados. Por isso, o seu governo e seus acadêmicos se envolvem diretamente no financiamento à pesquisa e desenvolvimento de uma salvadora vacina.

Depois de meses, o país A, onde o vírus apareceu, anuncia uma vacina que tem eficácia objetiva de pouco mais de 50%.

O país B, que foi impactado muito tempo depois do país A, anuncia também a sua primeira vacina com eficácia de 95% para prevenir infecções.

O ministro da economia do país C, também muito atingido pela pandemia, diz que o país A, que “inventou” o vírus, desenvolveu uma vacina com eficácia menor que o país B, que teve contato com o vírus muito tempo depois, mas conseguiu desenvolver um imunizante muito melhor. Confrontado com sua declaração sobre o país A, grande parceiro comercial de seu país, o país C, ele diz que sua intenção foi apenas reforçar seu conceito sobre a importância das grandes economias desenvolvidas, como a do país B, e a importância do setor privado.

Baseado no noticiário recente, responda:

1) Quem é o país A?
2) Quem é o país B?
3) Quem é o país C, e quem é seu ministro da economia?
4) Há alguma inverdade na história?
5) É razão para tanto barulho, depois de que o ministro do país C reconheceu o exagero retórico e pediu desculpas nas horas seguintes, percebendo que obviedades acadêmicas precisam ser mais bem estruturadas diplomaticamente quando contadas por autoridades políticas como ele? E que já tomou inclusive a vacina do país A, a que mais está disponível no seu país C?
6) O que deve o país C fazer diante da pandemia que também o atinge?

Bem, depois de responder as questões, o sujeito iria lá para as páginas finais do livro e encontrava a seção Respostas, com a página e o número dos exercícios. Desta vez, não vai precisar. Já publico aqui, logo abaixo.

Respostas:

1) China.
2) Estados Unidos.
3) Brasil. Paulo Guedes.
4) Não
5) Não.
6) Concentrar esforços no combate à pandemia e fazer as reformas estruturais, no âmbito do Congresso Nacional, para recuperar o país e prepará-lo para o futuro breve. Tudo ao mesmo tempo.

Nota do autor:

A China, país pelo qual este editor tem muito respeito, não pode ser intocável num ambiente de debate democrático. Ela não é perfeita e a liberdade de expressão deve existir.

Questões comerciais entre Brasil e China, importantíssimas para ambos, não podem ser razão para que o debate livre e respeitoso não aconteça.

O ministro precisa sempre entender que, como acadêmico, ele não pode dizer certas coisas que, como autoridade pública, precisam de contextualizações.

E os brasileiros precisam parar de perder tempo. Eles têm um país para recuperar e fazer dar certo.

Adalberto Piotto é jornalista e documentarista. Especializado em economia, é ancora de notícias em rádio e TV, articulista de realidade brasileira e produtor e diretor do filme ‘Orgulho de Ser Brasileiro’ e da série de webTV ‘Pensando o Brasil’.