Os desafios da comunicação dentro de um hospital. Por Priscila Barberio.

Recentemente participei de uma entrevista para trabalho acadêmico, na qual fui indagada sobre o assunto. Em minhas reflexões sobre esses 10 anos de atuação na área de Comunicação Institucional de um hospital, com mais de 1.000 funcionários, cheguei à conclusão de que esses são alguns dos principais desafios da comunicação interna, conforme apontarei a seguir.

Falta de interesse pela leitura ou falta de motivação?

Aqui, sem dúvida, a maior indagação, para a qual ainda não se conseguiu chegar a um consenso. Eu acredito que são as duas “faltas”.

Existem os colaboradores que não têm interesse pela leitura, em saber o que está acontecendo na empresa. Não importa se há muito ou pouco texto nos comunicados, se são coloridos, se são nos formatos impresso ou online, eles passarão reto e irão dizer que não sabiam sobre a informação que foi divulgada.

Os dados da 5a. edição da pesquisa “Retratos da leitura no Brasil” (2019/2020) – do Instituto Pró-Livro e Itaú Cultural -, mostram que essa pode ser uma questão cultural dos brasileiros. Conforme o estudo, somente 52% dos brasileiros têm o hábito de ler – e este resultado é 4% menor do que o que foi registrado em 2015.

Por outro lado, tenho observado também que os novos profissionais – que entram na empresa engajados – querem saber o que está acontecendo e pedem para ser inseridos em nosso mailing (que é segmentado por categoria profissional). Também os colaboradores mais participativos em eventos, treinamentos, comitês e grupos de trabalhos, costumam ser os mais “antenados” no que acontece na organização – são os famosos profissionais que “vestem a camisa da empresa”. Já os mais insatisfeitos, ou acomodados, seja por não acreditar em melhorias ou por não querer se movimentar, preferem não ver para não saber.

Não posso deixar de citar um terceiro perfil, principalmente médicos e enfermeiros – que, pela correria de seu trabalho, ou até mesmo por falta de uma equipe maior, acabam realmente não tendo tempo de se informar. Aqui, cabe aos diretores replicar as informações importantes por meio de reuniões de equipe ou canais específicos de grupos de trabalho.

Falta de comunicação entre os setores.

Como nós já sabemos, a comunicação interna não deve acontecer apenas de cima para baixo, ou seja, da diretoria para os colaboradores, ela também precisa e deve acontecer entre os setores, e dos setores para a diretoria. E são essas duas últimas formas de comunicação que mais falham em muitas instituições.

E quais são os riscos com essa falta de alinhamento da comunicação interna? Muitos. Aqui no hospital, por exemplo, a falta de comunicação entre os setores provoca a falta de informação, e quem sofre mais com isso é o paciente, que pode demorar para encontrar o setor que vai resolver o seu problema, perder uma consulta, o que causará estresse e desgaste – tanto para o paciente como para os próprios profissionais.

Isto, sem falar dos prazos que podem ser perdidos por falta de comunicação, o que pode até ocasionar perda financeira, sem entrar no mérito de questões assistenciais e de saúde que a falta de comunicação clara e segura pode ocasionar negativamente.

A importância dos gestores como multiplicadores da informação.

Uma vez que existe uma mudança de rotina ou de processo de trabalho, cabe ao gestor da área multiplicar as informações, tanto para os seus colaboradores, quanto para toda a organização.

Se essa atitude não partir do líder, que é o exemplo para seus liderados, de quem irá partir? Pela falta de visão estratégica ou visão do todo, este gestor pode resolver guardar a informação para ele, ou esperar que outro divulgue em seu lugar.

Apesar da área de Comunicação Institucional ser a responsável em fazer a divulgação chegar a toda a empresa por meio das ferramentas que fazem mais sentido naquele momento, cabe ao gestor que detém a informação informar o que acontece em sua área. E é a Comunicação Institucional que irá decidir, junto à alta direção, se aquele fato será divulgado, como, quando e onde.