O relações-públicas: profissional semi-desconhecido. Por Marcelo Zikán (in memoriam).

“O profissional de Relações Públicas é, antes de tudo, um forte”.

O plágio acima (da célebre frase de Euclides da Cunha enaltecendo o sertanejo) – descarado, assumo – vem ao encontro do que é o profissional de relações públicas hoje. Muitas vezes ignorado, muitas vezes desconhecido, muitas vezes relegado ao limbo. E pouquíssimas vezes compreendido.

O relações-públicas, ou RP, no imaginário popular, é aquele cidadão que recebe bem aos outros, tem sempre um sorriso bem postado, fala com educação, é simpático e dá brindes. Enfim, é um boa-praça. Tal imagem não é de todo falsa, mas é o limite do ridículo e do desrespeito à profissão.

O que é paradoxal, é que todos falam de planejamento, imagem positiva, gestão de crises e outras vertentes da administração e do posicionamento de uma empresa e, quando se trata de relações públicas, só se lembram do tal sujeito boa-praça.

Em um país em que só se respeita o diploma de médico, engenheiro e advogado, não é surpresa que poucos saibam que uma empresa moderna, “antenada” e com planejamento de ações comunicacionais precisa exatamente do relações-públicas. Não aquele sujeito “legal”, mas o perfil exato para um mundo que tem que se preocupar com cada passo, com cada discurso, com cada atitude e com cada ação tomada em comunicação empresarial.

Uma tal “comunicação total” de que muito se fala, desenvolvida para os “stakeholders”, do peão da fábrica ao consumidor comum, enfim, para todos que orbitam uma empresa, precisa de muito planejamento, precisa de seleção de informações, de seleção de pessoal e de outros recursos, de filtragem do que é ouvido dos diversos públicos. Esse trabalho complicado, árduo, difícil ao extremo, precisa de um profissional que, afinal, é o único treinado para isso: o relações-públicas.

Este texto, recheado de adjetivos, quer mostrar o quanto uma função tão importante é relegada a segundo plano porque muitos acham que administradores, jornalistas (que, infelizmente, nem profissionais de nível superior têm que ser), publicitários, engenheiros, economistas e psicólogos podem “resolver” as questões ligadas a comunicação. Se você ou sua empresa acham isso, experimenta contratar um biólogo para cuidar da contabilidade ou um enfermeiro para construir prédios.

Para tratar da comunicação de uma empresa e, principalmente, para torná-la eficiente, é preciso que exista um setor responsável por relações públicas, com um profissional relações-públicas dentro. Para estabelecer políticas e ações que, dentre outros benefícios, transformem a empresa em um ator social relevante, que participa na sociedade, tornando sua imagem algo sólido, em interseção com a propaganda e que, eventualmente, gere economia fazendo apenas gastos bem planejados.

Entender para que serve o profissional de relações públicas é o caminho para compreender porque uma política comunicacional faz ou não sucesso e porque uma empresa que não gasta com propaganda pode ter visibilidade – e credibilidade. Compreender, enfim, que aquele “cidadão boa-praça” é ótimo para se acompanhar num cafezinho, mas não para construir resultados. O verdadeiro RP transforma a sua empresa em uma referência, abrindo sorrisos sim, mas de acionistas, e dos seus diversos públicos-alvo relevantes.

Marcelo Zikán é Marcelo Zikán. [Artigo publicado originalmente no website RRPP].