O mito do dom e os 99% de transpiração. Por Marina Boldrim.

Se eu te pedisse para pensar em alguns gênios de diferentes áreas de ocupação, provavelmente alguns nomes facilmente viriam à sua cabeça, certo? Cristiano Ronaldo e Tiger Woods fariam parte da minha lista, por exemplo. Em menor proporção, considerando apenas nossa esfera de convivência, possivelmente você também se lembraria de algum amigo, colega de trabalho ou mesmo alguém de sua família que considere como acima da média. Alguém que parece ter nascido com um dom especial, com uma habilidade para cantar, vender, falar em público, escrever, se comunicar ou realizar qualquer outra atividade com excelência.

Pode ser que algumas dessas pessoas tenham apresentado ainda na infância alguma afinidade ou predisposição para tal atividade, devido principalmente a estímulos e influências externas – majoritariamente de pais ou professores. No entanto, a lapidação das habilidades e a maestria alcançada pelos gênios estão constituídas, segundo o inventor Thomas Edison, a partir de 1% de inspiração e 99% de transpiração. Complementar a este racional, temos o dito coreano entoado pelo humorista e professor de criatividade Murilo Gun: ‘noriogum chandjerê ninganda’ indica que se não nascemos sendo, podemos trabalhar duro até nos tornar.

Mas se o segredo para a alta performance é o hard work e todas as tarefas podem ser aprendidas, por que muitas vezes nós desistimos de aprende-las sem ter tentado ou após poucas tentativas alegando que não nascemos com o dom para realiza-las? Uma possível resposta está no fato de querermos ser bons, ótimos ou excepcionais no agora, em vez de dedicarmos longos períodos de tempo e energia para treinos e masterização de determinado assunto. Com frequência, comparamos nossos bastidores ou primeiros passos com o palco do outro, o que torna a comparação bastante injusta.

Estar temporariamente em um nível inferior em comparação com alguém não significa que não somos capazes de aprender e/ou realizar a tarefa que desejamos, mas sim que é necessário usar o senso de inconformismo com a situação atual como mola propulsora. Este senso nos incentivará a ter disciplina e engajamento, a trabalhar duro e a perseverar em busca de constante autossuperação, de modo a atingir nosso potencial pleno e a obter melhores resultados, como consequência.

Além disso, é importante ter em mente que não existe um só caminho para a aprendizagem e que a abordagem mais eficaz pode variar de pessoa para pessoa. Enquanto uns preferem o modelo tradicional de educação formal – via escolas, universidades ou cursos com começo, meio e fim -, outros preferem o trabalho prático com ‘mãos na massa’, ou a combinação entre ambos. Em todo caso, independente de seu método de preferência e do tema que você queira aprender, muitos conteúdos e práticas estão disponíveis – por vezes gratuitamente – em formato digital. Então que tal aproveitar este tempo de quarentena para se desenvolver e fazer algo por você?

Marina Boldrim é publicitária (USP) e especialista em Gestão de Comunicação e Marketing (USP) & Marketing Intelligence (Universidade NOVA de Lisboa). Atua na área de business intelligence e se interessa por temas de performance e comportamento. Contato: marina.boldrim@gmail.com