NOVA ARTICULISTA: Manuela Dias - Divagações sobre quarentena e natureza.

O momento atual finalmente nos dá o luxo de ter o tão raro e precioso tempo. Por isso, hoje pela manhã, escolhi uma poltrona confortável e permaneci por algumas horas contemplando a natureza.

Respirei fundo, abri os olhos e me deparei com o Mar. Porém, tudo parecia muito diferente e não era mais aquele velho e conhecido que estava ali. Ele dominava, quase chegava na calçada e deixava, apenas, menos de três metros de comprimento de areia. Aparentemente, era uma típica ‘ressaca’, a grande ‘revolta’ do Mar. Entretanto, ao observar com mais cuidado e atenção, percebi que não transmitia raiva e inquietação, pelo contrário, era um sentimento de empoderamento, leveza e paz. Apesar da grande amplitude e volume das ondas, a sua voz era de alívio e liberdade de poder finalmente ser quem ele verdadeiramente é. Ele se expressava com muita confiança, sem ódio ou rancor.

Na pequena parte que sobrava de areia havia uma imagem assustadora, um grande volume de tampas de garrafas, plásticos, isopor e todo o tipo de lixo, uns até curiosos e inesperados. Mais adiante, me deparei com uma cena que despertou a minha atenção. Um senhor de aproximadamente 75 anos, magrinho, porém com muita vitalidade e persistência, dedicava-se fielmente ao seu objetivo extremamente desafiador: limpar toda a areia – com apenas uma vassoura de ferro muito antiga e enferrujada. Era uma tarefa praticamente impossível de ser cumprida, no entanto, ao observar aquele senhor, era evidente que seu esforço não estava relacionado à limpeza da areia. Sua atitude era muito mais nobre e valiosa, ele transmitia empatia e confiança para o Mar e este, ao relembrar tais sentimentos, ficava ainda mais poderoso e entusiasmado.

Voltava o meu olhar para o Mar e continuava lá, forte, livre, com alma serena e nesse momento tudo começou a fazer sentido. Ele, enfim, havia vomitado o abuso excessivo recebido durante anos e anos do ser humano. Conseguiu descarregar, de forma abrupta, todos os maus tratos e seu intenso sofrimento. Seria uma grande vitória, uma evolução. Entretanto, mesmo com todo o conteúdo e informações disponíveis no mundo atual, isto não foi suficiente para a conscientização da importância da natureza. Precisou-se que algo desconhecido e invisível surgisse para obrigar o ser humano, com seu gigantesco ego, a permanecer enclausurado e proibido de continuar com sua vasta exploração. E ali permanecia o Mar reconquistando o seu espaço na garra, na marra e infelizmente, na dor.

Será que algo invisível – sem alta tecnologia ou grande inovação -, levará o ser humano à tardia e necessária conscientização sobre a importância da natureza? Será que algo tão temido resgatará, de alguma forma, valores essenciais para humanidade, aqueles completamente abandonados e coincidentemente também invisíveis, tais como amor, respeito e compaixão?

Deixo aqui a reflexão e a esperança de um mundo melhor no pós-Covid-19!

Manuela Armada Dias é nutricionista de formação. Encantada por marketing, atua como gerente da área em empresa do segmento de shoppings centers e acumula mais de 13 anos de experiência na gestão das áreas de Operação, Franquias e Marketing em empresa de Varejo Alimentício. Apaixonada pelo estudo do comportamento humano e por práticas de recuperação da energia vital, tais como Yoga e meditação.