NOVA ARTICULISTA: Júlia Fernandes - Onde a sua vida parou quando o isolamento começou?

O isolamento social em virtude da prevenção e do combate ao Corona Vírus no país está dando sinais de sua eficácia em reduzir o contágio. Há aproximadamente 15 dias todos nos recolhemos em nossos domicílios e, junto com isso, nos esquecemos do que havia no mundo até a pandemia ter sido oficialmente declarada.

Até meados do mês de março a gente queria saber quem mandou matar a vereadora Marielle Franco, discutir o ‘acidente’ da barragem da Vale localizada em Brumadinho (MG) – que completou um ano – e a consequência do ocorrido ao município, às famílias e à mineração. Temas importantes. Falava-se do pequeno PIB, da CPI das Fake News, de Patrícia Campos Melo e a sua ética jornalística, da má qualidade da água distribuída à população do Rio de Janeiro, entre tantos outros temas de relevância.

De repente, a quarentena começou e em todos os canais o tema passou a ser um só: a Covid-19, como se prevenir, como usar o álcool em gel e lavar as mãos, dicas para a correta higienização dos alimentos e como o pequeno empreendedor está se virando diante das adversidades. Nos veículos impressos os editoriais discutem a postura firme do ministro Luís Henrique Mandetta versus as atitudes públicas do presidente Jair Bolsonaro que, por sua vez, rompe o isolamento social. As fotos do vazio, dos equipamentos de EPI nos hospitais e das valas para o enterro dos mortos acometidos pela doença passaram ilustrar a capa dos veículos.

E na internet um novo fenômeno surgiu: ‘as lives‘. Shows, conteúdos e bate-papos de anônimos e famosos unem milhões de seguidores em uma busca ansiosa por entretenimento gratuito dentro de casa. Os canais de streaming parecem que não são suficientes, todas as séries e programas já foram ‘maratonados’. O tempo passa mais devagar e o consumo de dados aumenta, alterando a velocidade da internet.

O consumo de conteúdo em tempos de quarentena é alto. Não significa que tudo que é oferecido é de qualidade, mas traz à tona da essência do jornalismo, descrita pelo autor Felipe Pena. Para ele, é o medo do desconhecido que faz com o que homem busque informação para que, assim, ele possa administrar e conduzir a sua vida, sentindo-se mais seguro para enfrentar o cotidiano. É preciso que alguém, do outro lado, faça um relato e reporte o mundo para as pessoas.

A falta de informação nos dá a sensação de vulnerabilidade e de ausência de conexão com o mundo globalizado. Em casa, mesmo com todos os canais à disposição, sentimos que precisamos vencer as barreiras e nos apropriar de uma informação. Isso tudo acontece mesmo que estejamos em rede, é inerente ao ser humano. Está comprovado que os meios de comunicação, são sim, ‘uma extensão do homem’, parafraseando Marshal McLuhan. É por eles que se comprova a real necessidade de permanecermos em casa, a credibilidade do fato está atestada, de forma universal, em todos os meios.

A história segue outro curso em 2020. Vai haver a retrospectiva dos fatos de janeiro à primeira quinzena de março, um grande relato da quarentena e prevejo novos temas após a abertura das portas das casas. Serão novos tempos. Como você vai dar continuidade?

Júlia Fernandes é formada em Comunicação Social pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES/JF), tem MBA em Marketing e Comunicação e especialização em Gestão Estratégica da Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). A autora tem experiência profissional – em âmbito público e privado – nos setores de comunicação institucional e marketing.