NOVA ARTICULISTA: Andréa Câmara - Síndrome da impostora: entenda como você pode lidar com ela.

Todos nós já sentimos insegurança em algum momento das nossas vidas, até aí não tem problema, pois a vulnerabilidade é inerente à natureza humana. Eu mesma, já me senti vulnerável muitas vezes (para falar a verdade ainda me sinto).

Como você se sente quando recebe um elogio? Quando alguém enaltece as suas qualidades você age de maneira natural ou fica desconcertada? Se você sente um incômodo provavelmente já manifestou alguns sintomas da síndrome da impostora.

Mas, o que é essa síndrome?

Entenda o significado: o termo surgiu em 1978, resultado de pesquisas feitas pelas americanas Pauline Rose Clance e Suzanne Imes, da Georgia State University.

Elas conduziram um estudo com mais de 100 mulheres em posição de destaque e perceberam uma tendência comportamental entre elas: a despeito das suas qualificações e dedicação, elas se sentiam incapazes e acreditavam que o seu êxito tinha a ver com sorte ou qualquer outro fator aleatório.

A síndrome da impostora revela um sentimento de dúvida sobre a capacidade de realização. A pessoa acometida por ela sente-se como um impostor em sua carreira profissional ou acadêmica. A cobrança excessiva vinda da própria pessoa faz com que ela nunca se sinta suficiente, embora ela seja boa no que faz.

Você já ouviu a frase: – O seu maior adversário é você mesmo? Pode existir um ‘sabotador interno’ criando uma competição que joga a pessoa contra si mesma.

Sentir-se uma fraude ou não se reconhecer em uma determinada posição de trabalho: é assim que é definida a síndrome da impostora, distúrbio que acomete principalmente as mulheres. O problema faz com que elas se sintam incapazes de ocupar cargos altos que, na maioria das vezes, são ocupados por homens (Istoé).

Os homens também podem manifestar sintomas da síndrome do impostor, principalmente quando eles são alvos de avaliação de desempenho, quando almejando uma promoção no trabalho ou iniciando um novo projeto.

Segundo a Época Negócios, a síndrome do impostor, caracterizada por inseguranças, é um problema que afeta 70% das pessoas ao menos uma vez na vida.

Vivemos em uma sociedade patriarcal, em que as mulheres foram rotuladas e ensinadas a viver dentro de um determinado padrão. Isso é percebido em algumas profissões, ocupadas predominantemente por homens – que detêm a grande maioria dos cargos de gestão.

Quando se trata de cargos de liderança, as mulheres ocupam 25% deles dentro dessas empresas. Quanto mais alta a posição, menor a participação das mulheres. Para os cargos do mais alto nível nas corporações, apenas 15% das empresas possuem uma mulher no topo. Pesquisa da Grant Thornton (Women in Business 2019).

A síndrome da impostora não aparece de uma hora para outra. Ela é resultado de uma série de condicionantes que vão se internalizando. São as chamadas crenças limitantes. Essas crenças não representam a nossa verdade, são verdades’ de terceiros que absorvemos como nossas no decorrer da vida.

Eu (quem vos escreve) me desfiz de quem eu achava que era, joguei fora as ‘verdades’ que não eram minhas. Identifiquei esses condicionamentos quando duvidei do meu potencial, desacreditei dos meus sonhos, me comparei com outras pessoas… hoje eu sei que não quero mais ser enganada por mim mesma.

Agora, me responda o que mulheres bem sucedidas como a cantora e atriz Jennifer Lopez, a ex-primeira-dama americana Michelle Obama e a escritora espanhola Carmen G. de la Cueva têm em comum? Todas elas já duvidaram da sua capacidade em algum momento da sua trajetória profissional. Curioso, não é?

‘Apesar de ter vendido 70 milhões de discos, eu sinto que não sou boa nisto’ (Jennifer Lopéz).

‘Ainda sofro um pouco de síndrome do impostor. Ela nunca desaparece’ (Michelle Obama).

‘Não sei quantas madrugadas passei respondendo a e-mails que achava urgentíssimos, deixando de tomar o café da manhã ou almoçar porque NÃO PODIA parar, porque o que tinha em mãos era importantíssimo… Há vezes em que ainda me sinto como uma impostora e deixo que outros falem por mim, deixo de dizer o que penso para não incomodar, para não entrar em conflito. Com quanto mansplaining me deparo diariamente, QUANTOS homens me dizem que tipo de feminista eu deveria ser” (Carmen G. de la Cueva).

Como identificar

Existem comportamentos que revelam os sintomas dessa síndrome. Dentre eles, eu posso citar alguns:

1. Ser muito perfeccionista: se cobrar excessivamente;
2. Necessidade de se esforçar demais;
3. Comparar-se com os outros… e o outro sempre é mais capaz;
4. Sentir nervosismo exagerado antes de um acontecimento importante, como uma reunião;
5. Não reconhecer as suas qualidades, o seu sucesso, os prêmios que ganha;
6. Dificuldade em receber elogios;
7. Querer agradar a todos, pois acha que não é merecedora da consideração das pessoas, de forma que precisa agradar para ter aprovação.

Como lidar com a síndrome do impostor(a)

Michelle Braden (CEO da MSBCoach), em matéria para a Forbes, explica que a síndrome do impostor, embora não seja um diagnóstico oficial no manual da Associação Psiquiátrica dos Estados Unidos, pode ter consequências reais e psicológicas na carreira de alguém. Alguns desses efeitos incluem depressão, ansiedade e baixa autoconfiança.

Segundo ela, a síndrome do impostor impede as pessoas de alcançarem seu potencial completo, de ir atrás de um emprego para o qual não se sentem qualificadas ou de serem líderes engajados e autênticos.

Braden, a partir da leitura do livro ‘O poder do hábito’, de Charles Duhigg (Editora Objetiva), desenvolveu métodos para ajudar quem sofre com a síndrome do impostor(a):

1. Diário

Escreva uma lista de suas conquistas, prêmios e realizações e também anote como e por que você alcançou esse sucesso. Pequenas anotações são muito efetivas, especialmente quando colocadas em lugares vistos regularmente (por exemplo, no espelho do banheiro, no monitor do computador ou para onde você olha quando aquela dúvida vem).

2. Vocalize

Compartilhe suas experiências a respeito da síndrome do impostor, seja com um coach ou com um grupo de colegas de confiança. Coloque ênfase no seu sucesso e tome posse de suas conquistas.

Pratique o ato de contar sobre essas conquistas com confiança e conforto. Se seu time ou você mesmo perceber que está diminuindo suas realizações, tente falar sobre seus sucessos e como você os alcançou, de forma confiante e articulada.

3. Desafie

Todos cometem erros. Muitos líderes (senão todos) provavelmente sentem ansiedade ou medo de falhar quando começam um novo projeto ou estão em uma nova posição.

Gentilmente, desafie seu pensamento quando você correlacionar esses sentimentos ou erros naturais com o fracasso. Fale com você mesmo como você falaria com uma criança ou um amigo próximo. Geralmente, somos mais gentis com os outros do que com nós mesmos.

Praticar um contra-argumento das suas mais duras autocríticas pode levar a um entendimento do fracasso como uma experiência de aprendizado em vez de uma reflexão do seu valor.

4. Quebre o ciclo

Identifique os sinais e situações que fazem você se sentir um impostor. Depois, procure informações que contradigam essa sensação. Quebrar o ciclo de pensamentos negativos é essencial, na minha experiência, para achar e desafiar esses julgamentos negativos. Por exemplo, quando você pensa no que conquistou ou por que você não merece o que conquistou, veja sua lista de realizações e relembre porque você merece o que tem e que trabalhou tanto para conseguir. Você não foi somente ‘sortudo’ e não estava ‘no local certo, na hora certa’.

Se você não tem uma lista de conquistas ainda, comece agora. Essa lista é um documento vivo, e você pode adicionar elementos a ela para reforçar caminhos positivos e criar hábito de autoconfiança. Peça a colegas e amigos que percebam e te avisem quando você não quebra esse ciclo, para que você possa ajustar a maneira a qual você fala de si mesmo e de suas conquistas.

5. Sonhe alto

Faça um brainstorm de coisas que você quer conquistar. Identificar seus objetivos e os medos que te seguram pode ser um exercício poderoso. Ao sonhar, foque no mais confortável para começar.

Pode ser um objetivo rápido (que será alcançado em um dia ou uma semana), uma ‘maratona’ (um objetivo que pode ser alcançado em um ano) ou um objetivo ‘corrida cross country‘ (aquele que é alcançado em cinco anos ou mais).

Seja realista e encontre um equilíbrio entre esses tipos de objetivo. Isso permite que você foque nos seus sonhos do presente e do futuro. Sempre que alcançar um objetivo, lembre-se de adicioná-lo à sua lista de conquistas.

Agora me conta se você já sentiu algum dos sintomas da síndrome da impostora/impostor? Como aprendeu ou está aprendendo a lidar com isto?

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Andréa Câmara é formada em Turismo e Engenharia Ambiental, pós-graduanda em Marketing Estratégico Digital. Atualmente, dedica-se a produção de conteúdo digital.