NOVA ARTICULISTA: Maria Carmem de Souza - Nem só de 'tiktokers' vive uma instituição: a importância da comunicação interna.

Nos últimos tempos, venho acompanhando a comunicação de algumas empresas e órgãos governamentais – e algo tem me chamado atenção. O investimento na comunicação externa está a todo vapor: campanhas modernas, canais digitais de última geração, influenciadores digitais e tiktokers para todos os gostos. E olha; nada contra! Sou da comunicação e acho tudo isso necessário, desde que não se esqueça de algo essencial: a comunicação interna.

Sim, ela mesma. Aquela que, muitas vezes, só é lembrada na hora da crise. E que, quando existe, costuma ser limitada, improvisada ou restrita a um mural empoeirado na copa do café.

Na minha trajetória profissional, aprendi na prática que a comunicação interna é o coração de qualquer organização. E que os colaboradores são os principais embaixadores da imagem institucional. Se eles não estão bem informados, alinhados e engajados, nenhuma campanha externa, por mais criativa que seja, vai sustentar a reputação de uma empresa ou órgão público.

Vou contar um caso real: no rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, fui contratada para criar um departamento de comunicação em uma secretaria municipal. O momento era de caos, incertezas, dores e sobrecarga de atendimentos – especialmente na área da saúde mental. E foi justamente a comunicação interna bem feita que ajudou a organizar processos, distribuir
informações e acolher os profissionais da linha de frente. Depois veio a pandemia, e o mesmo departamento passou a informar sobre prevenção, tratamento, boletins epidemiológicos e a integrar conselhos de crise como o Coes da tragédia da Vale e o Coes da Covid-19. Resultado? Funcionou. A comunicação fluiu, a equipe se fortaleceu, a população se sentiu mais amparada.

Mas… sabe o que aconteceu depois que as crises se acalmaram? O departamento foi extinto. Sim, extinguiram o que deu certo.

Isso me leva a uma reflexão: talvez as lideranças ainda não tenham entendido que comunicação interna não é gasto, é investimento. E que quanto maior for a instituição, maior deve ser o cuidado em construir canais internos eficazes. Aliás, sou da opinião de que, assim como em governos há secretarias específicas, cada setor ou filial de uma grande organização deveria ter, no mínimo, um profissional de relações públicas dedicado a fazer a ponte com o setor de comunicação central. Porque não dá para esperar que a informação flua por osmose.

E aqui vai mais um ponto importante: não estou dizendo que só fazer RP resolve. Muito pelo contrário. Acredito no poder da comunicação integrada, onde jornalistas, publicitários, marqueteiros, designers e profissionais de mídias sociais somam forças com o RP para que tudo aconteça da melhor forma possível, de dentro para fora.

No fim das contas, comunicar é cuidar. E esse cuidado começa por quem está dentro da casa. Porque nem só de likes, trends e dancinhas vive uma instituição.

Carminha.

Maria Carmem de Souza é formada em Comunicação Social, jornalista e relações-públicas, licenciada em Letras e pós-graduada em Língua Portuguesa e Gestão da Comunicação Organizacional. Atua há 30 anos na área da Comunicação e nesta trajetória passou por jornal, revista, rádio, assessoria de imprensa, televisão, diretoria de jornal e rádio, coordenação de comunicação e, agora, escreve para mídias sociais – como produtora de conteúdo no LinkedIn e no Instagram, além de ser coordenadora de projetos em um gabinete municipal.