Muita informação e pouco conteúdo. Por Deborah Sousa.

Passou pelo feed do meu Facebook um vídeo do escritor Augusto Cury em que ele fala sobre a Síndrome do Pensamento Acelerado. Nos primeiros 30 segundos da descrição dos sintomas, eu já me identifico com todos e, quando ele faz a triste comparação que uma criança hoje, de sete anos, tem mais informação que um imperador de Roma teria na idade antiga, penso que decisões essas crianças estarão tomando em suas vidinhas e como chegamos até aqui guiados por homens tão mal informados?

Enfim, mais uma divagação originada do excesso de conteúdo que o Cury me alertou, ao qual estamos todos expostos e fazendo pouco uso racional destes tempos de fácil acesso ao consumo de todo tipo de assunto.

Não trocaria a paz da ignorância de tempos antigos, quando as informações eram privilegiadas somente para os alfabetizados da elite política e clerical, pelo caos de conhecimentos espalhados aleatoriamente do mundo contemporâneo. Cresci nos animados anos 1980, sem internet, e ia na casa dos primos, amigos e bibliotecas fazer pesquisa na defasada Barsa, que servia para mim e para aqueles que já haviam se formado muito antes.

Fui atingida pela rede ainda discada, cara e sempre ocupada. E vi ali um universo de oportunidades se abrindo; entrei na faculdade de Jornalismo com a internet engatinhando. Muito revoltada com a estrutura da faculdade que ainda não tinha o ‘laboratório de informática’, fiz parte da última turma que ainda era obrigada a produzir textos em máquinas de escrever (… eu errava e tinha que refazer tudo!). Mas aprendi as técnicas da mesma forma e comecei a trabalhar já no mundo conectado.

Hoje, as atualizações são frenéticas e a frase romântica de Lulu Santos descreve nossa rotina: ‘… tudo muda, o tempo todo, no mundo; não adianta fugir…’. Mas as escolhas e a decisão de ler, de não ler, de entrar na rede social, de responder o e-mail, de ver o WhatsApp, de retornar a ligação, de assistir à série e dar curtidas ao mesmo tempo, são só nossas.

Ampliamos nossos sentidos, vivemos na aldeia global profetizada pelo visionário Mac Luhan, nossos corpos são as extensões dos meios de comunicação (tenho uma tese que ele viajou para o futuro e adiantou um pouco o que estaria por vir), nossos dedos deslizam e escolhem tudo nas telas da vida, mas… e o nosso poder de discernimento? Onde está?

Para nós, adultos, é resultado de tudo o que vivemos, que lemos, assistimos e estamos escolhendo diariamente, neste universo de possibilidades de informação. Porém, de uma nova forma, precisamos ser nossos próprios curadores; não tem jornal pronto, todo editado, com as mais importantes notícias do dia. Elas aparecem, de graça o dia todo, em diferentes canais, vindas de fontes confiáveis e outras completamente duvidosas.

Você escolhe se você prefere saber da prisão do Temer ou sobre as entrevistas dos políticos sobre a reforma da previdência; quem sabe sobre o tempo recorde de venda dos ingressos da Sandy e Junior ou, ainda, queira saber a respeito da baleia com 40 quilos de plástico na barriga, ou se torne um especialista em segurança de barragens e assista a resposta do presidente da Vale às vítimas de Brumadinho, ou talvez, quem sabe, role o comentário no Twitter do presidente sobre alguma questão polêmica ou sobre a falta de luz na Venezuela e a dificuldade da Carol em morar entre Miami e o Rio…

O trem da informação está passando, veloz, e não vai parar nunca mais. Quem para somos nós. Escolha sua estação e desça, ao menos para dormir um pouco.

Deborah Sousa, jornalista formada cursando MBA de Gestão da Comunicação Organizacional.